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Nova fase da Lava Jato mira na OAS, mas pode acertar Lula

Nova fase da Lava Jato mira na OAS, mas pode acertar Lula

MP diz que todos os apartamentos do condomínio onde ex-presidente tem triplex reservado serão investigados

DANIEL HAIDAR| DE CURITIBA
27/01/2016 - 21h15 - Atualizado 27/01/2016 21h15
Fachada do edificio Solaris, na praia Asturias, Guaruja. (Foto: Marcos Alves / Ag. O Globo)

Numa conversa telefônica gravada em 22 de janeiro pela Polícia Federal, uma jovem responde ao pai, atarefada: "Daqui a pouco eu vou. Só vou terminar de picar os papéis que a máquina parou, tava esperando ela voltar". A conversa foi o estopim para a deflagração da operação Triplo X, a 22a fase da Operação Lava Jato. A jovem era Carolina Auada e o pai era Ademir Auada, um dos responsáveis na empresa panamenha Mossack Fonseca pela abertura de offshores destinadas a esconder a origem do patrimônio de clientes.

Ademir e Carolina destruíram documentos depois que uma das interlocutoras do escritório, a ex-funcionária da Bancoop Nelci Warken, ligou preocupada. Nelci se assustou quando a reportagem de ÉPOCA tentou entrevista-la sobre a offshore Murray Holdings. Nelci foi procurada porque tinha, teoricamente, enfrentado a Murray Holdings em um processo judicial em que ficou acertado o repasse de oito imóveis de Nelci para a Murray Holdings. Nelci não quis responder a ÉPOCA quem era o responsável pela Murray e o motivo do repasse dos imóveis. Mas ficou preocupada a ponto de acionar comparsas para destruir provas da offshore.

A destruição de provas motivou um mandado de prisão temporária contra Nelci e outras cinco pessoas ligadas à Mossack Fonseca. Os investigadores suspeitam que Nelci seja laranja de um misterioso proprietário de um triplex no condomínio Solaris, no Guarujá, registrado em nome da Murray Holdings e vendido pela OAS Empreendimentos por quase R$ 1 milhão. O imóvel vale R$ 1,5 milhão.Em depoimento à Polícia Federal nesta quarta-feira, Nelci disse que a offshore era de sua propriedade. Ela argumentou que usou a Murray para esconder seu patrimônio e sonegar tributos. A polícia ainda tenta identificar quem é o verdadeiro dono da Murray Holdings.

Nos últimos meses, investigadores da Operação Lava Jato reuniram indícios de que OAS usava imóveis, construídos pelo braço imobiliário do grupo, como moeda em pagamentos de propina. No mesmo empreendimento do triplex da Murray, foi reservado um triplex para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que colocou Lula como um dos alvos desta etapa da investigação. De acordo com o Ministério Público Federal, todos os apartamentos do condomínio Solaris serão investigados para verificar se a OAS utilizou os imóveis para pagamento de propina e se a identidade dos beneficiários foi preservada.

Os investigadores detectaram que a mulher e a cunhada do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto declaravam à Receita Federal que eram donas de apartamentos no condomínio Solaris, embora os imóveis jamais tenham saído do nome da OAS em registros cartoriais. Como presidente da Bancoop, Vaccari abandonou diversos empreendimentos habitacionais que foram vendidos a mutuários e repassou os imóveis para que a OAS Empreendimentos terminasse as obras e entregasse aos compradores. Mas vários compradores do condomínio Solaris tiveram de devolver apartamentos, porque não aceitaram fazer pagamentos extras para a OAS. Ainda assim, o condomínio foi um dos poucos empreendimentos já entregues.

A investigação também esbarrou em um novo canal de lavagem de dinheiro. Clientes da panamenha Mossack Fonseca vão ser investigados para averiguar se faziam parte do esquema de corrupção na Petrobras ou se cometeram outros crimes. Além de cumprir seis mandados de prisão temporária, a operação Triplo X também fez buscas em endereços da OAS e da Bancoop para tentar identificar quem foi beneficiado em transações de apartamentos do condomínio OAS. A empresa panamenha Mossack Fonseca também foi alvo de buscas, porque foi ela quem criou a offshore Murray. Mas representantes da Mossack Fonseca atrapalharam os policiais e deletaram arquivos guardados na nuvem da empresa. Além de Nelci, foram detidos Renata Pereira Britto e Ricardo Honorio Neto, ambos ligados à Mossack Fonseca. Permanecem foragidos Maria Mercedes Riano Quijano, Ademir Auada e Luis Fernando Hernandez Rivero, também ligados à Mossack Fonseca.








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