Rio

Policiais que transportaram mulher arrastada serão levados para Bangu

PM diz que militares foram desligados do batalhão onde trabalham
RI Rio de Janeiro (RJ) 17/03/2014 Comoção no enterro de Cláudia Silva Ferreira, atingida por um tiro durante operação da PM na manhã de domingo, na comunidade Congonha, em Madureira. Ao ser socorrida pela PM, corpo foi arrastado por 250 metros. Na foto, o marido Júlio Cesar e o filho (de blusa vermelha) Weverson. Foto de Márcia Foletto / Agência O Globo Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
RI Rio de Janeiro (RJ) 17/03/2014 Comoção no enterro de Cláudia Silva Ferreira, atingida por um tiro durante operação da PM na manhã de domingo, na comunidade Congonha, em Madureira. Ao ser socorrida pela PM, corpo foi arrastado por 250 metros. Na foto, o marido Júlio Cesar e o filho (de blusa vermelha) Weverson. Foto de Márcia Foletto / Agência O Globo Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

RIO — Os três policiais militares do 9º BPM (Rocha Miranda) que transportaram Cláudia da Silva Ferreira, de 38 anos, no porta-malas de um camburão serão encaminhados para o presídio de Bangu 8, no Complexo de Gericinó, na Zona Oeste. Cláudia havia sido baleada durante uma operação no Morro da Congonha, em Madureira, Zona Norte no domingo. Retirada da favela pelos PMs, ela foi transportada dentro do porta-malas e acabou caindo do carro, pois a porta se abriu no caminho. Presa pela roupa, foi arrastada por cerca de 250 metros. Segundo a PM, os subtenentes Adir Serrano Machado e Rodney Miguel Archanjo, e o sargento Alex Sandro da Silva Alves foram desligados do batalhão onde trabalham e serão levados para o presídio assim que terminarem de prestar depoimento. Em nota, o secretário de Segurança José Mariano Beltrame repudiou a ação dos PMs.

A PM informou, em nota, que os militares foram presos em flagrante e serão julgados pela Auditoria de Justiça Militar após a conclusão do Inquérito Policial Militar (IPM), que deve ficar pronto dentro de 30 dias. A PM disse que entregou as armas dos policiais envolvidos na ação para o confronto balístico da Polícia Civil. O inquérito aberto vai averiguar todas as circunstâncias do ocorrido, diz a nota, divulgada na noite desta segunda.

No mesmo comunicado, a polícia diz que a conduta dos policiais “não condiz com o processo de formação empregado nos Centros de Ensino da corporação”. Pela nota, o Comando da Polícia Militar repudiou a atitude dos PMs. A PM esclarece ainda que o procedimento adequado para socorro de baleados é colocar a vítima no banco traseiro do carro, para que, no trajeto até uma unidade de saúde, os agentes possam ampará-la.

Uma perícia da PM feita nesta segunda-feira na viatura do 9º BPM (Rocha Miranda), ao qual o corpo de Claudia Ferreira Silva ficou preso e foi arrastado, constatou que a tranca da mala do veículo não estava com defeito. A informação foi dada na tarde desta segunda-feira pelo comandante do 9º BPM, tenente-coronel Wagner Moretzsohn. Segundo ele, foi verificado que as portas laterais e da mala da viatura estavam com avarias. O corpo de Claudia estava dentro do veículo, mas caiu após a mala abrir, e ficou então pendurado ao para-choque só por um pedaço de roupa.

Para Moretzsohn, as avarias na viatura possivelmente foram causados pelos moradores do Morro da Congonha, que bateram no carro tentando impedir que os policiais levassem o corpo da vítima sem que a filha acompanhasse. O tenente-coronel afirmou ainda que, na correria para saírem da comunidade, pode ser que os policiais não tenham fechado a porta direito.

- Eles estão presos em flagrante criminalmente e vão responder por causa da condução do corpo, que não é para ser feita daquele jeito. Vi irregularidades, sim - afirmou o tenente-coronel Wagner Moretzsohn.

O corpo de Cláudia foi enterrado no início da tarde desta segunda-feira, no Cemitério de Irajá. Cerca de 200 pessoas acompanharam a cerimônia e, no momento do sepultamento, pediram justiça. Parentes e amigos da vítima estavam revoltados. Júlio disse que a família deverá processar o Estado pela forma como policiais socorreram a vítima. Segundo ele, Cláudia foi baleada quando saía de casa, com R$ 6 para comprar pão e mortadela.