11/03/2014 09h15 - Atualizado em 11/03/2014 11h16

Apesar do aumento de vagas, jovens têm dificuldades para o 1º emprego

Dado do IBGE mostra que quase metade dos jovens está desempregada.
Aspectos comportamentais pesam na hora da contratação, diz especialista.

Bibiana DionísioDo G1 PR

Jeniffer tem 17 anos e estuda psicologia  (Foto: Arquivo pessoal)Jeniffer tem 17 anos, estuda Psicologia e procura
o 1º emprego desde janeiro deste ano
(Foto: Jeniffer de Souza/ Arquivo pessoal)

A disputa por uma vaga no mercado do trabalho está cada vez mais acirrada, refletindo diretamente nos jovens. Uma retrospectiva do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos últimos onze anos, mostra que o percentual de jovens empregados entre 16 e 24 anos cresceu, entretanto, metade deles ainda está desempregada. Em 2003, 46,5% desta faixa da população trabalhavam, já em 2013, eram 49,9%. Outro estudo, realizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), também sinaliza o problema. No Brasil, a taxa de desemprego entre os jovens de 15 a 24 anos é superior à média registrada na América Latina em 2011. Se na região a taxa chegou a 13,9%, em nosso país atingiu 15,3%.

A busca pelo emprego, em especial o primeiro, pode demorar meses. A adolescente Jeniffer Stetiski de Souza, de 17 anos, está nesta empreitada desde janeiro. Ela tem Ensino Médio completo, um curso técnico em segurança do trabalho e outro em administração. A qualificação, porém, não a ajudou.

“Eles falam que não me encaixo no perfil, que sou muito nova. Mas o que falta é confiança, a empresa ter confiança no menor para dar um cargo de responsabilidade”, disse a jovem que acabou de iniciar o curso de Psicologia em uma universidade de Curitiba. Ela não descarta a possibilidade fazer um estágio, porém, a preferência é por uma ocupação com carteira assinada.

Para conseguir um emprego, Jeniffer utiliza a internet e confere os classificados dos jornais. Desde o início do ano até agora, ela diz ter cadastrado 90 currículos para funções como auxiliar administrativa, recepcionista e secretária. “Ninguém dá oportunidade, nenhuma empresa. É muito difícil arrumar um emprego. Existe muita vaga, mas a gente não consegue”, desabafou a jovem.

De fato existem vagas, entretanto, o mercado está mais exigente e a gama de profissionais capacitados está maior. Segundo a vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos – Seccional Paraná (ABRH-PR), Susane Zanetti, em alguns casos há milhares de interessados em uma vaga, e o filtro das empresas está cada vez mais restrito, colocando o jovem em desvantagem.

São profissionais com anos de experiência e que falam duas ou três línguas fluentemente contra jovens que concluíram o Ensino Médio e, em alguns casos, imaturos, ansiosos e impacientes. Ainda conforme a restrospectiva do IBGE, o percentual da População em Idade Ativa (PIA) com 11 anos ou mais de estudo passou de 46,7% para 63,8%.

É como se vivêssemos uma dicotomia, uma coisa muito antagônica. Por conta do mercado estar muito exigente, às vezes, é muito difícil deste jovem conseguir esta primeira oferta"
Susane Zanetti, vice-pres. ABRH-PR

“É como se vivêssemos uma dicotomia, uma coisa muito antagônica. Termos tantos jovens desempregados e termos estas vagas. Por conta do mercado estar muito exigente, às vezes, é muito difícil este jovem conseguir, principalmente, se ele não tem nenhuma experiência”, disse Zanetti.

Além disso, comportamentos normais para essa faixa etária acabam interferindo. Algo que, aparentemente, ficaria em segundo plano, destacou Zanetti, ainda tem importância nos processos seletivos, e acaba funcionando como uma armadilha para os jovens.

“Eles são muito ingênuos ainda em algumas questões que para as empresas são importantes. A empresa busca conhecer esse jovem e entender um pouco das características que ele tem para saber se são compatíveis com a cultura e valores da empresa. As questões comportamentais ainda são muito significativas. Esse é um dos motivos em que, normalmente, o jovem não vai para frente nas entrevistas”. Algumas perguntas básica, exemplificou Zanetti, ficam sem resposta, como quando o entrevistador pede para o candidato citar os próprios pontos fortes.

Dicas
Algumas atitudes podem ajudar o jovem nesta disputa pelo emprego. Uma delas, segundo Zanetti, é redimensionar o que vai ser possível no primeiro momento de carreira. “O jovem tem que redimensionar aquilo que vai ser possível em um primeiro momento da carreira (...) Às vezes não é aquele emprego do sonho dele, mas é preciso entender que isso é uma construção”, afirmou.

Zanetti menciona ainda a relevância da capacitação e da fluência em língua estrangeira, principalmente, o inglês. Ela lembra que este não é mais o requisito básico para trabalhar apenas em multinacionais. De acordo com Zanetti, inclusive, empresas familiares já exigem a segunda língua.

Vale citar ainda que, para ser aprovado na entrevista, o jovem pode demonstrar pró-atividade, determinação, vontade de aprender e aproveitar a possível oportunidade.