05/03/2014 10h52 - Atualizado em 27/06/2014 20h09

Entenda a crise na Crimeia

Região ucraniana pró-Rússia é alvo de disputa entre Kiev e Moscou.
Putin autorizou ação militar; Ocidente pede recuo e impõe sanções.

Do G1, em São Paulo

Grupo pró-Rússia sobre tanque soviético T-34 segura placa onde se lê 'Crimeia pela paz'  em frente ao Parlamento de Simferopol nesta sexta-feira (27). (Foto: Vasily Batanov/AFP)Grupo pró-Rússia sobre tanque soviético T-34 segura placa onde se lê 'Crimeia pela paz' é visto em frente ao Parlamento de Simferopol no dia 27 de fevereiro (Foto: Vasily Batanov/AFP)

A região ucraniana da Crimeia está sob disputa desde que foi praticamente anexada pela Rússia, sob protestos das potências ocidentais - e da própria Ucrânia, até então dona do território. A tensão começou na Península do Mar Negro quando protestos derrubaram Viktor Yanukovich, o até então presidente ucraniano, em fevereiro. Aproveitando o vazio de governo, as autoridades da Crimeia, região de maioria russa, propuseram um referendo interno no território, perguntando aos habitantes se eles estariam dispostos a se juntar à Rússia.

O resultado, um apoio esmagador à anexação, deu a legitimidade que o governo de Vladimir Putin queria para poder anexar completamente o território. Dois dias depois do referendo, o presidente russo fez um discurso em que reconheceu a soberania do território ucraniano, dizendo que a Crimeia 'sempre foi e sempre será parte da Rússia' - leia aqui a íntegra da fala de Putin.

Saiba mais sobre a crise na região:

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arte crimeia 17.03 (Foto: Arte/G1)

O que é a Crimeia?
A Crimeia é uma república autônoma da Ucrânia, localizada em uma península no Mar Negro. A região já pertenceu à Rússia, e foi anexada pela Ucrânia em 1954 – o então líder soviético Nikita Khrushchev, que era de origem ucraniana, deu a região como presente. Diferente do resto da Ucrânia, a maioria da população na região é de origem russa.

Como teve início a crise na região?
No final de 2013, o então presidente ucraniano Viktor Yanukovich desistiu de assinar um tratado de livre-comércio com a União Europeia, preferindo estreitar relações comerciais com a Rússia. A decisão deu origem a protestos massivos, que resultaram, em fevereiro, na destituição de Yanukovich, que fugiu para a Rússia.

Na Crimeia, de maioria russa, o parlamento local foi dominado por um comando pró-Rússia, que nomeou Sergei Axionov como premiê. Esse novo governo, considerado ilegal pela Ucrânia, aprovou sua adesão à Federação Russa e a realização de um referendo sobre o status da região no dia 16 de março. Posteriormente, o Parlamento se declarou independente da Ucrânia - sendo apoiado por russos e criticado por ucranianos.

Qual o papel da Rússia na crise?
Com a intensificação das tensões separatistas, o Parlamento russo aprovou, a pedido do presidente Vladimir Putin, o envio de tropas à Crimeia para “normalizar” a situação.

Tropas sem identificação, mas claramente russas – algumas em veículos com placas registradas na Rússia – tomaram a Crimeia, dominando bases militares e aeroportos. A Rússia justificou o movimento dizendo se reservar o direito de proteger seus interesses e os de seus cidadãos em casos de violência na Ucrânia e na região da Crimeia.

A escalada militar fez com que diversos oficiais do exército ucraniano se juntassem ao governo local pró-russo. Outros abandonaram seus postos. No dia 4 de março, o novo governo da Crimeia anunciou que assumiu o controle da península, e deu um ultimato para que os últimos oficiais leais à Ucrânia se rendessem.

Segundo a Ucrânia, mais de 30 mil soldados russos já foram enviados à região. Os Estados Unidos estimam o efetivo russo na região em 20 mil militares. A Rússia nega ter efetivo militar na região superior ao de seu posto fixo em Sebastopol.

Qual o interesse russo na Crimeia?
Para muitos russos, a Crimeia e sua "Cidade Heroica" de Sebastopol, da era soviética, sitiada pelos invasores nazistas, têm uma ressonância emocional muito forte, por já ter sido parte do país e ainda ter a maioria de sua população de origem russa.

A península fica em uma área estratégica do Mar Negro, muito próxima do sudoeste da Rússia. A maior parte da frota russa no Mar Negro está na Crimeia, com um quartel-general na cidade ucraniana de Sebastopol.

Para a Ucrânia, independente da Rússia desde o colapso da União Soviética em 1991 e em meio a uma crise econômica, a perda da Crimeia seria um enorme golpe.

Qual a reação do governo da Ucrânia?
O novo governo ucraniano, pró-União Europeia, criticou os movimentos separatistas e classificou a aprovação de intervenção militar russa como uma declaração de guerra. Logo em seguida, o governo convocou todas suas reservas militares para reagir a um possível ataque russo.

O país também pediu apoio do Conselho de Segurança da ONU para frear a crise na península e defender sua integridade territorial.

Para o governo da Ucrânia, o Parlamento da Crimeia é ilegal e não tem legitimidade para declarar independência. Kiev também não reconheceu o resultado do referendo, que aprovou a reintegração a Moscou, nem do tratado assinado entre Crimeia e Rússia confirmando a adesão.

Qual a reação dos países ocidentais?
Os Estados Unidos e outros países ocidentais exigem que a Rússia recuasse suas tropas na Crimeia. Os EUA também ameaçaram a Rússia com sanções, suspenderam as transações comerciais com o país e cancelaram um acordo de cooperação militar com Moscou.

Outros países do ocidente pressionaram a Rússia por uma saída diplomática. A escalada de tensão também levou a uma ruptura entre as grandes potências, com o G7 condenando a ação e cancelando uma reunião com o governo de Moscou.

EUA e União Europeia realizaram sanções contra indivíduos russos e ucranianos envolvidos no processo, que tiveram seus bens no exterior congelados e foram impedidos de entrar nos EUA e na UE. A Rússia respondeu com sanções contra integrantes do governo norte-americano.

Em meio à crise, a Comissão Europeia divulgou um plano de ajuda de pelo menos € 11 bilhões para a Ucrânia. Os EUA também anunciaram um pacote de assistência técnica e econômica ao país em uma demonstração de apoio ao novo governo, no valor de US$ 1 bilhão.

O que pode acontecer?
Analistas internacionais acreditam que a solução para o problema deve ocorrer por via diplomática.

A Ucrânia não é oficialmente membro da Otan – em 1997, o país assinou um acordo em que se tornou um aliado extra-Otan e membro não-permanente da organização. Por isso, analistas não acreditam que a Otan possa entrar em guerra com a Rússia pela Ucrânia.

Qualquer ação militar ocidental direta arriscaria uma guerra entre as superpotências nucleares. Relativamente pequena e com arsenal reduzido, as forças da Ucrânia poderiam agir, mas correriam o risco de incitar uma invasão russa muito mais ampla que poderia dominar o país.

A Rússia pode cortar o fornecimento de gás para a Europa, cujos gasodutos passam pela Ucrânia, e acredita-se que o país tenha capacidades de ataque cibernéticos sofisticados que poderiam ser usadas contra a Ucrânia ou o Ocidente.

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