21/10/2014 12h40 - Atualizado em 21/10/2014 19h57

Se crise continuar, só restará lodo no Cantareira, diz presidente da ANA

Vicente Andreu diz que uso de 3ª cota do volume morto seria inviável.
Ele participou de debate na Assembleia Legislativa sobre a falta d'água.

Tatiana SantiagoDo G1 São Paulo

Presidente da ANA, Vicente Andreu, criticou a Sabesp (Foto: Tatiana Santiago/G1)Presidente da ANA, Vicente Andreu, criticou a
Sabesp (Foto: Tatiana Santiago/G1)

O presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, afirmou na manhã desta terça-feira (21) que, se a crise hídrica no Sistema Cantareira continuar, só restará o lodo após a retirada da segunda cota do volume morto. Para ele, não é possível retirar uma terceira cota da reserva técnica.

Nesta terça, o Sistema Cantareira baixou de 3,5% para 3,3%, batendo novo recorde histórico. O índice pluviométrico acumulado desde segunda-feira (20) é de 0,5 mm e não chegou a contribuir para a estabilização do nível do reservatório, que acumula quedas consecutivas.

“Eu acredito que, tecnicamente, será inviável. E, do ponto de vista ambiental, essa água terá problema”, disse o presidente da ANA durante um debate sobre a falta de água na Assembleia Legislativa de São Paulo, na Zona Sul de São Paulo. “Se a crise se acentuar, é bom que a população saiba que não haverá alternativa a não ser ir no lodo.”

O secretário da Casa Civil, Saulo de Castro Abreu, informou ao SPTV que a questão do uso do volume morto é técnica e lamentou que o presidente da agência tenha ido para a capital para pregar o caos.

 

A afirmação do presidente da ANA também vai de encontro ao que o governador Geraldo Alckmin disse nesta terça sobre o Cantareira. Em entrevista à rádio Jovem Pan, o tucano afirmou que conta com mais água abaixo das comportas para o abastecimento.

"Em 74 dias construímos [as bombas da segunda cota] e agora já está tudo pronto, caso seja preciso utilizar a segunda reserva. E existe ainda uma terceira. Ou seja, a população pode ficar tranquila, pois todas as medidas estão sendo tomadas", disse Alckmin.

Recuperação
De acordo com o presidente da ANA, se não chover a média esperada, o Cantareira não irá se recuperar. “Do ponto de vista técnico é um chute qualificado”, disse sobre as previsões meteorológicas de longo prazo.

Andreu defendeu que as medidas paliativas deveriam ter sido tomadas enquanto havia água nos reservatórios. “Agora, a quantidade de água que nós temos nos reservatórios é tão pequena que qualquer problema que a gente venha a ter no futuro, a Sabesp não terá controle sobre o sistema de distribuição de água.”

Questionada sobre as acusações, a Sabesp não respondeu até a publicação desta reportagem.

Aos deputados, o presidente da ANA criticou os órgãos estaduais que não fecharam um acordo para administrar a crise hídrica. “As medidas restritivas têm que ser feitas quando você tem condições de atuar sobre ela, e não quando você perde o controle absoluto.”

Segundo ele, se não for tomada uma medida para acumular o máximo de água nos reservatórios até abril do ano que vem, não haverá alternativas, pois não existem obras a curto prazo sendo realizadas. As obras da PPP de São Lourenço e transposição do Rio Paraíba do Sul levam pelo menos dois anos para ficar prontas.

Andreu lamentou a atitude do secretário estadual de Recursos Hídricos Mauro Arce. “O que nós temos hoje é uma quebra de confiança porque o secretário do estado assumi um compromisso com o presidente da ANA, faz um acordo, você espera o tempo passar e no momento de você cumprir aquela obrigação ele diz que ele acordo não foi assumido”.

De acordo com ele, essa decisão da não redução da captação do volume de água no mês de agosto contribuiu para o fim do GTAG, grupo técnico que estudava a crise do Cantareira. Esse motivo aliado a decisão unilateral do governo estadual em retirar água acima do recomendado acabaram com o acordo.

O presidente da ANA também afirmou que a Sabesp retirou a régua que media o nível de água do Atibainha após a agência federal vistoriar o local e verificar que estava 38 centímetros abaixo do permitido.

Críticas Aécio
O presidente da ANA rebateu as críticas do candidato tucano à Presidência da República, Aécio Neves, sobre a falta de "parceria maior" do governo federal em relação à crise de abastecimento de água enfrentada pelo estado de São Paulo.

“Eu acho que ele desconhece a relação que a gente tem no estado de São Paulo, principalmente com o órgão gestor [DAEE], com o governo do estado e diretamente com o governador, e conhece pouco a própria ANA”, disse Andreu. “Por curiosidade, o relator que me indicou pelo Senado brasileiro foi o próprio vice dele, Aloysio Nunes. Então, todas essas insinuações que ele faz neste momento, no nosso ponto de vista pouco ajudam para que a gente possa encontrar o consenso necessário para a solução da crise”, afirmou.

Vicente Andreu também disse que ficou “profundamente magoado” com uma série de insinuações a respeito da atuação da ANA  junto ao governo do estado. “Eu quero dizer que procuramos esse tempo todo apresentar alternativas, soluções técnicas para que o governo possa superar essa situação. Fomos nós quem sugerimos o uso do volume morto, pois não tinha uma alternativa a curto prazo”

Ele também criticou a falta de diálogo do governo estadual e das decisões que são tomadas de forma unilateral. “O problema que tem havido parece que nessa discussão o governo do estado não quer sugestão. Ele quer adesão, ele tem uma oposição e qualquer posição diferente disso que ele tem parece que a gente tá atuando ao contrário daquela posição predominante que ele defende”, argumentou.

ONU
Quanto ao ofício enviado pelo governador Geraldo Alckmin (PSBD) ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pedindo que a entidade corrija suas conclusões sobre a crise da água no Estado, o presidente da ANA condenou a ação.

“A ONU tem relatores que são independentes. Esses relatórios são apresentados no mundo inteiro. Eu penso que encaminhar ao Bank ki-Moon uma crítica política quando na verdade deveria ter sido aprovado alternativas técnicas incorreto”, disse.

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