Rio

Rapaz é preso ao ser identificado como criminoso em fotos feitas durante gravação de filme

William Preciliano, de 20 anos, aparece com arma em registro. Moradores fizeram abaixo-assinado por sua libertação
Willian Preciliano (à esquerda) posou com réplica de fuzil durante filmagem de filme. Parentes do jovem dizem que PMs, após verem imagem, reconheceram rapaz como autor de ataque à UPP do Morro dos Prazeres Foto: Divulgação
Willian Preciliano (à esquerda) posou com réplica de fuzil durante filmagem de filme. Parentes do jovem dizem que PMs, após verem imagem, reconheceram rapaz como autor de ataque à UPP do Morro dos Prazeres Foto: Divulgação

RIO - Moradores do Morro dos Prazeres fizeram um abaixo-assinado para pedir a liberdade de Willian Preciliano Bezerra da Silva. O rapaz, de 20 anos, foi preso no início do mês, depois de ter sido identificado por fotografias como um dos 40 criminosos que em novembro do ano passado cercaram e mantiveram reféns policiais militares daquela UPP .  Na fotografias, Willian aparece armado com fuzil. Mas, segundo moradores, as imagens utilizadas para que a justiça decretasse sua prisão junto com outros 12 acusados são, na verdade, fotografias tiradas durante as gravações do filme "Pacified", que está sendo produzido pelo diretor norte-americano Paxton Winters e produzido pela  empresa Reagent Media.

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A PM informou que "a  investigação do caso e a prisão relatada não foram feitas pela Polícia Militar". Procurada, a Polícia Civil afirmou apenas que o rapaz "foi reconhecido pelas vítimas como um dos autores do fato. Ele foi indiciado no inquérito policial e denunciado pelo Ministério Público. William figura como réu na ação penal em curso e teve a prisão preventiva decretada pelo Poder Judiciário, após o recebimento da denúncia".

Em decisão na Justiça, divulgada na noite desta sexta-feira, da juíza Paula Fernandes Machado, da 5ª Vara Criminal da Capital, que mantém a prisão preventiva de Willian, a magistrada afirma que "ao contrário do que foi alegado pela defesa, não se trata de um mero reconhecimento por foto, havendo indícios de materialidade e de autoria, haja vista que a declaração extrajudicial de um policial militar, vítima, narra toda a suposta atuação do réu durante a empreitada criminosa, com riqueza de detalhes.

De acordo com a denúncia, contida no documento, Willian estaria com uma pistola e, acompanhado de um outro réu, Mayk, vigiava os policiais no interior da quadra. Importante ressaltar que os fatos narrados na denúncia estão corroborados pelas declarações das vítimas, sendo que seis das nove vítimas reconheceram o réu Willian Preciliano como sendo um dos autores dos fatos.

Antes de ver sua vida se transformar em roteiro de filme policial, Willian também cursava o terceiro ano do ensino médio, no Colégio Estadual  Monteiro de Carvalho. Ele se formou em julho com ótimas notas, e ganhou de presente do pai orgulhoso,  o curso de habilitação. Na quinta-feira, dia 9 de agosto, ele foi ao Detran do Largo do Machado para dar entrada no processo para começar a autoescola. Neste momento descobriu que tinha um mandado de prisão expedido contra ele.

William com José Moreto durante gravação do filme "Justified" Foto: Divulgação
William com José Moreto durante gravação do filme "Justified" Foto: Divulgação

— O que mais impressiona na história é que o ataque à UPP ocorreu em novembro do ano passado. Ele estudava próximo à UPP e jogava futebol num campo ao lado da unidade e nunca foi reconhecido por nenhum dos policiais que ali trabalham. No entanto, cinco meses depois do ataque à UPP, estes policiais o reconheceram nas fotos em que ele aparece segurando uma réplica de arma, durante as gravações do filme. E em algumas da fotos ele posa inclusive com o ator José Loreto, que participa com a mulher, a atriz Débora Nascimento, do filme — explicou o advogado Vinícius Saldanha.

Além do abaixo-assinado com cerca de 500 assinaturas, o advogado juntou como provas, uma declaração da produtora do filme e documentos da escola que mostram que o rapaz se formou com 95% de frequência.

— O reconhecimento por foto é uma prova muito discutível para a justiça. É uma prova muito frágil. Queremos pelo menos que ele possa responder a esta acusação em liberdade. Ele e sua familia estão vivendo um enorme pesadelo. Imagine. Tinha acabado de concluir o ensino médio, participava de um filme americano e ia tirar sua carteira de habiitação. E, de forma injusta, sua vida virou do avesso — afirmou Vinícius Saldanha.

A mãe de de Willian, Gorete, contou que desde a prisão, passa o dia rezando para que a Justiça liberte seu filho o mais rápido possível;

— Ele é um ótimo menino. Excelente aluno, ajuda em casa e está me fazendo muita falta. O pai tinha dado de presente para ele o curso de habilitação, para que ele pudesse depois trabalhar como motorista de aplicativo. Ele nunca entrou em qualquer tipo de confusão. Só peço a Deus que o proteja — afirmou a mãe.

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O ativista Charles Siqueira, presidente do Instituto Pólen de projetos educativos, culturais, esportivos, sociais, ambientais e turísticos, vem ajudando a familia de Willian na busca por justiça para o caso do rapaz:

— Sou coordenador de um projeto de esporte e prática cidadã que Willian participou por 5 anos. Isso mostra seu caráter e o comprometimento dele com sua formação de maneira correta — garantiu Charles.

Produtora encaminhou atestado de que William é inocente Foto: Divulgação
Produtora encaminhou atestado de que William é inocente Foto: Divulgação

Em carta anexada ao processo que tramita na 5ª Vara Criminal do Rio, os produtores Paula Duarte Linhares e Marcos Jardim Tellechea testemunham que o jovem não tem qualquer envolvimento com o crime e se dizem indignados com sua prisão.

"Trata-se de um verdadeiro absurdo as notícias que recebemos acerca da prisão de Willian Preciliano Bezerra da Silva. Como produtores de cinema tivemos a felicidade e a honra de conhecer jovem tão cioso, talentoso, honesto e decente nos meses em que ele atuou em filme de nossa produção, especificamente PACIFIED. Ele destoa (va) de muitos jovens que conhecemos naquele período, pois não tinha sito violentado pela pobreza e descaso do estado, sendo estas minhas afirmações claras e objetivas no sentido de que Willian não estava entregue ou coadunava com a triste realidade do tráfico de drogas e o embate deste último com o Poder Público. Pelo contrário. Trata-se de um jovem estudioso, interessado, com família estruturada, sem qualquer risco de violência em suas características pessoais. Em resumo: aos que o conhecem _ e sei que a comunidade de bem está revoltada com sua prisão _ é verdadeiro escárnio a acusação que contra ele recai.".

O ataque à UPP dos Prazeres ete PMs da UPP Prazeres ocorreu em 20 de novembro. As informações do RJTV mostraram que um grupo com cerca de 40 criminosos renderam quatro dos PMs em uma quadra da comunidade, há 50 metros da base da UPP. Os policiais foram levados para um local onde outros policiais já estavam sob domínio dos criminosos. Eles sofreram tortura psicológica durante uma hora e foram liberados em seguida. No depoimento, o policial relatou que ele e mais seis PMs foram levados até uma quadra na comunidade, e deixados desarmados. Os suspeitos, então, pediam que os policiais deixassem a localidade conhecida como "Doce Mel", além do fim do patrulhamento dos PMs em um local conhecido como o "Beco do Agnaldo".