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O último salto? Ginasta eterna faz final aos 41 e já flerta com oitava Olimpíada

Oksana Chusovitina disputou os Jogos por três bandeiras. Ela compete na disputa olímpica desde 1992, quando seis das sete adversárias na final não eram nascidas

Por Rio de Janeiro

Oksana Chusovitina ginástica artística Uzbequistão (Foto: AP Photo/Julio Cortez)Oksana Chusovitina faz possível despedida. Mas é melhor não duvidar dela (Foto: Julio Cortez/AP)

Havia algo de emblemático na Arena Olímpica por volta das 12h30 deste domingo – duas horas antes do começo das competições. Enquanto Oksana Chusovitina, 41 anos, esticava as articulações maltratadas por uma vida dedicada à ginástica, Simone Biles dava piruetas a seu lado. Era como um abraço do tempo: o passado da atleta que representou a União Soviética sendo substituído pelo presente da ginasta mais talentosa que os Estados Unidos já viram. Pouco depois, seria encerrada a impressionante história olímpica de Chusovitina, a lenda que disputou sete Olimpíadas por três bandeiras diferentes. 

Seria?

É provável que sim. Este deve ter sido o último ciclo olímpico de Oksana, e um ato encerrado no salto, a prova preferida da atleta nascida em 1975 – e que começou a disputar os Jogos em Barcelona 1992, quando seis de suas sete adversárias na final deste domingo no Rio sequer eram nascidas. No quarto de século seguinte, ela viveria a Olimpíada nos quatro cantos do planeta: nos Estados Unidos (Atlanta 1996), na Austrália (Sydney 2000), na Grécia (Atenas 2004), na China (Pequim 2008), na Inglaterra (Londres 2012), no Brasil (Rio 2016). E faria isso por três bandeiras diferentes: a da Comunidade dos Estados Independentes (CEI), a da Alemanha e a do Uzbequistão.

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A vivência lhe rendeu duas medalhas: o ouro por equipe em 1992 (independente) e a prata individual no salto em 2008 (pela Alemanha). A despedida foi com o sétimo lugar na final – e a posição era o que menos importava para uma mulher que dedicou a vida às Olimpíadas. E que, quem sabe, poderá seguir dedicando.

- Por que me perguntam tanto sobre minha despedida? Não querem mais me ver em Olimpíadas? Eu nunca disse que essa seria a última. Vamos ver – disse ela neste domingo.

Chusovitina é a única ginasta da história a participar de sete Olimpíadas – um feito impressionante em um esporte de pouca longevidade. Ela está no esporte há mais de 30 anos. Começou aos nove. Aos 13, foi campeã nacional na União Soviética – país que logo seria dissolvido, causando uma reviravolta na vida da ginasta.

A atleta hoje representa o Uzbequistão porque foi a região soviética onde nasceu – na cidade de Bukhara. Mas essa identificação demorou a acontecer em Olimpíadas. Seu país só foi reconhecido como nação independente no final de 1991 e, por isso, não participou de Barcelona: fez parte do CEI. Chusovitina ganhou o ouro por equipes ao lado de uma bielorrussa, duas russas e duas ucranianas.  

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Oksana Chusovitina (Foto: Reuters)Oksana Chusovitina encerra sua participação nos Jogos do Rio, mas abre possibilidade de ir a Tóqui (Foto: Reuters)

Após a Olimpíada, a atleta teve a oportunidade de efetivamente começar a representar o Uzbequistão. E encontrou condições de treinamento infinitamente inferiores às da antiga União Soviética. O Uzbequistão, recém-nascido, tinha problemas mais urgentes a resolver do que investir dinheiro na ginástica. Pelos três Jogos seguintes, ela comandou a equipe uzbeque em boas participações, mas sem alcançar medalhas. A melhor colocação foi um décimo lugar no individual geral em Atlanta.

Essa diferença de idade não existe quando estamos na prova. Somos todas iguais"
Oksana Chusovitina

E aí um lance do destino mudou novamente sua vida. Em 2002, Alisher, o filho de Chusovitina, então com três anos, foi diagnosticado com leucemia. No Uzbequistão, as condições de tratamento estavam longe do ideal. Ela teve que partir, desesperada, em busca de uma solução. E descobriu que a Alemanha era um caminho.

Foi lá que Chusovitina viveu o maior desafio de sua vida: lutar pela sobrevivência do filho. E, aos poucos, foi conseguindo. O menino se recuperou bem, e a atleta, em 2006, se tornou cidadã alemã. Isso permitiu que defendesse sua terceira bandeira nos Jogos Olímpicos em 2008. E defendesse bem: deu à Alemanha a medalha de prata no salto.

Oksana Chusovitina na Olimpíada de Pequim (Foto: Jed Jacobsohn/GettyImages)Oksana Chusovitina com a medalha de prata na Olimpíada de Pequim (Foto: Jed Jacobsohn/ GettyImages)

Alisher se recuperou, o que permitiu a Chusovitina retornar para o Uzbequistão em 2013. Pela situação atípica que vivia, foi autorizada a voltar a defender o país – mesmo já tendo trocado de lado antes. Estava aberto o caminho para ela representar sua pátria natal no Rio e avançar à final. Detalhe: para competir contra atletas mais jovens que seu filho – casos de Shallon Olsen, do Canadá, e Yan Wang, da China, ambas de 16 anos.

- Eu me sinto muito bem. Essa diferença de idade não existe quando estamos na prova. Somos todas iguais – garantiu ela.

A prova comprovou isso. A uzbeque foi a finalista que colocou o maior grau de dificuldade na primeira tentativa. Muito aplaudida pelo público, disparou, voou e tentou um salto duplo mortal para a frente - o movimento, chamado de Produnova, é sinônimo de dificuldade. A queda, porém, foi falha. Ao pousar, ela imediatamente emendou uma cambalhota (Assista no vídeo acima), o que lhe tirou pontos.

Na segunda vez, com grau de dificuldade menor, teve execução bem mais certeira – a quinta melhor da série. Mas ficou longe do pódio. O ouro foi de Simone Biles, seguida por Maria Passeka, da Rússia, e Giulia Steingruber, da Suíça. As duas primeiras, somadas, têm 40 anos. Um a menos que Chusovitina.

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Oksana Chusovitina Uzbequistão ginástica artistica (Foto: Reuters)Oksana emenda uma cambalhota após o primeiro salto, o que lhe tirou pontos (Foto: Reuters)



No calor da despedida aos Jogos do Rio, é difícil saber se a lendária ginasta voltará a competir em uma Olimpíada. Nem ela parece saber – ela já anunciou a aposentadoria e voltou atrás antes. Chusovitina terá 45 anos em Tóquio 2020. Chegar lá será uma marca sobrenatural. Mas ela parece não duvidar.

- Estarei lá e convidarei todos vocês – brincou antes de ir embora, sabe-se lá se pela última vez.