Por Marcelo Gomes e Bette Luchese, GloboNews e Jornal Nacional


De São Paulo, Fabrício Queiroz foi levado para o Rio de Janeiro, onde está preso

De São Paulo, Fabrício Queiroz foi levado para o Rio de Janeiro, onde está preso

A GloboNews teve acesso à íntegra da decisão do juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal, que autorizou a prisão de Fabrício Queiroz, que ocorreu nesta quinta-feira (18), no interior de São Paulo. Entre os principais destaques estão a influência de Queiroz com milicianos no Rio de Janeiro, repasses de ex-assessores para conta de Queiroz no valor de R$ 2.039.656,52 e saques na conta do investigado que totalizam quase R$ 3 milhões (veja mais detalhes abaixo).

  • Segundo o Ministério Público, a atuação de Fabrício Queiroz não se limitava a arrecadação dos valores junto aos demais assessores, já que o investigado também transferia parte dos recursos para o patrimônio familiar do ex-deputado estadual Flávio Bolsonaro.
  • Em 2011, a conta bancária de Fernanda Antunes Figueira Bolsonaro, mulher de Flávio, recebeu pelo menos um depósito em espécie no valor de R$ 25 mil. Segundo o despacho, quem fez o depósito foi Fabrício Queiroz.
  • Documentos apreendidos na casa de Márcia Oliveira de Aguiar, mulher de Queiroz, demonstram que ela recebeu, pelo menos, R$ 174 mil em espécie. Segundo o juiz, esse dinheiro não tinha origem conhecida e foi com ele que Márcia pagou as despesas médicas de Queiroz no Hospital Israelita Albert Einstein.
  • O juiz cita que boletos dos planos de saúde de Flávio Bolsonaro e da mulher dele foram pagos em espécie, mas o dinheiro não saiu das contas deles.
  • Decisão afirma que Queiroz , mesmo escondido em Atibaia, ainda tem influência sobre milicianos no Rio de Janeiro. Um dos milicianos citados pelo juiz era o ex-capitão de Operações especiais do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, denunciado em 2019, e morto na Bahia.
  • Queiroz também é mencionado sobre sua influência política para pleitear nomeações em cargos comissionados, chegando ao ponto de ter sido comparado pela mulher dele a um "bandido preso dando ordens fora da cadeia".
  • Em uma conversa telefônica com a mulher dele, Fabrício promete interceder junto a milicianos pessoalmente quando estivesse no Rio - demonstrando sua periculosidade por ainda manter influência sobre o grupo criminoso.
  • Ao citar matéria do jornal 'O Globo' de outubro e 2019 citando áudio atribuído a Queiroz no qual ele comentava com um interlocutor sobre cargos políticos no senado, a filha do ex-assessor, a personal trainer Nathália Queiroz, escreveu uma mensagem para a madrasta: 'Meu pai não se cansa de ser burro, né'?
  • A investigação do caso aponta que Queiroz tinha uma "agenda" com contados para ajudá-lo em uma eventual prisão em um batalhão prisional da Polícia Militar. Por conta disso, ele não foi enviado ao Batalhão Especial Prisional (BEP).
  • Mensagens apreendidas pelo Ministério Público do Rio indicam que Queiroz era monitorado pelo advogado Frederick Wassef, ligado à família Bolsonaro. A casa onde ele foi preso em Atibaia, no interior de São Paulo, era do advogado. Os investigadores acreditam que o "Anjo" que aparece nas mensagens era como Queiroz e outros investigados se referiam ao advogado Frederick Wassef.
  • Ao ser preso, Queiroz fez sua primeira ligação, um direito assegurado ao preso, para sua filha. Pediu para avisar "à mãe (a esposa)" e "ao pessoal" que havia acabado de ser preso.
  • Queiroz passou a primeira noite na Cadeia Pública Pedrolino Werling de Oliveira, conhecida como Bangu 8, no Complexo Penitenciário de Gericinó. A TV Globo apurou que nas primeiras horas, ele estava nervoso, parecia constrangido e chorou muito. Ainda, ele ocupa uma cela de seis metros quadrados e está isolado -- como protocolo contra a Covid-19. Dispõe de chuveiro, privada, pia e um local para repouso. Como todos os demais presos, tem direito a quatro refeições por dia.
  • O pedido de prisão de Queiroz tem fotografias e mensagens de texto anexadas que mostram um pouco da rotina do ex-assessor de Flávio Bolsonaro. Em uma das imagens, tirada no dia 8 de dezembro, ele aparece bebendo cerveja e preparando um churrasco. Para o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), a vida dele na casa registrada como escritório do advogado Frederick Wassef era “confortável e ativa”. Queiroz, no entanto, afirmava estar mal de saúde, a ponto de não poder comparecer a interrogatórios. Ao ser preso, tornou a dizer que estava "muito doente".
  • O advogado de defesa de Queiroz apresentou nesta sexta-feira (19) à Justiça do Rio de Janeiro um habeas corpus solicitando a substituição da prisão preventiva – por tempo indeterminado – por prisão domiciliar. A alegação é que ele é portador de câncer no cólon e recentemente se submeteu à cirurgia de próstata, além do atual estágio da pandemia do novo coronavírus. Outro argumento utilizado pela defesa diz respeito à documentação que comprovaria que Queiroz passou por uma cirurgia há cerca de 2 meses.

Momento em que a polícia entra na casa onde estava Fabrício Queiroz em Atibaia — Foto: arquivo pessoal

Perigos de Queiroz apontados pela decisão

  • Além da suposta "influência sobre milicianos" do Rio, Queiroz ainda teria "influência política" para "pleitear nomeações em cargos comissionados, chegando ao ponto de ter sido comparado por sua esposa a um bandido que 'tá preso dando ordens aqui fora, resolvendo tudo', o que demonstra que ele poderia ameaçar testemunhas e outros investigados e obstaculizar a apuração dos fatos, perturbando, assim, o desenvolvimento da investigação e de futura ação penal".
  • Orientou testemunhas a não comparecer depoimento no Ministério Público Estadual sobre o esquema da rachadinha

Queiroz e esposa escondidos

"A prisão dos investigados [Queiroz e esposa] há de ser decretada par asseguramento da aplicação da lei penal, haja vista que foi exaustivamente demonstrado pelo Ministério Público que ambos estão se escondendo, recebendo auxílio de terceiro, que possivelmente detém autoridade sobre os referidos investigados".

Anjo

O rastreamento dos celulares apontou que Queiroz e a esposa se referiam a uma terceira pessoa como "anjo". Segundo o MP, essa pessoa tinha "poder de mando". A sentença não explicita quem seria o anjo. Mas, em uma das mensagens, Queiroz diz estar na casa do anjo. Queiroz foi preso na casa do advogado Frederick Wassef.

GloboNews tem acesso à decisão que autorizou a prisão de Fabrício Queiroz

GloboNews tem acesso à decisão que autorizou a prisão de Fabrício Queiroz

A prisão

Menções ao AI-5 foram encontradas na casa onde Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, foi preso em Atibaia — Foto: arquivo pessoal

Fabrício Queiroz, ex-assessor e ex-motorista do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), foi preso em Atibaia, interior de São Paulo, na manhã desta quinta-feira (18). O mandado de prisão preventiva - sem prazo para acabar - foi expedido pela Justiça do Rio de Janeiro, num desdobramento da investigação que apura esquema de "rachadinha" na Assembleia Legislativa do estado (Alerj).

No esquema, segundo a investigação, funcionários de Flávio, então deputado estadual, devolviam parte do salário, e o dinheiro era lavado por meio de uma loja de chocolate e através do investimento em imóveis. Queiroz foi preso quando estava em um imóvel de Frederick Wássef, advogado da família Bolsonaro.

Fabrício Queiroz chegou ao Rio de Janeiro de helicóptero, às 12h07, direto para a Cadeia Pública em Benfica. No local existe uma central de audiência e de custódia.

Posteriormente, Queiroz foi transferido para o Presídio Pedrolino Werling de Oliveira, em Bangu, na Zona Oeste do Rio, por volta das 15h25 desta quinta-feira (18).

Por questões de segurança e por conta da pandemia do novo coronavírus, o ex-assessor cumprirá um período de isolamento social durante 14 dias no presídio.

O advogado Paulo Emílio Catta Preta assumiu a defesa de Fabrício Queiroz e foi até a Cadeia Pública de Benfica, Zona Norte do Rio, no início da tarde desta quinta.

Em entrevista, o advogado disse que está preocupado com o estado de saúde do seu cliente e, por isso, vai entrar com um pedido de habeas corpus.

Catta Preta disse ainda que Queiroz recebeu ameaças de morte e teme pela própria vida.

Catta Preta foi advogado do ex-capitão do Bope Adriano Nóbrega, morto na Bahia em fevereiro deste ano. Nóbrega era acusado de ser o líder do grupo miliciano Escritório do Crime.

Flávio se manifesta

O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) postou nas redes sociais nesta quinta-feira (18) que encara com "tranquilidade" a prisão do seu ex-assessor, Fabrício Queiroz. Disse ainda que a prisão é uma tentativa de "atacar" o presidente Jair Bolsonaro, seu pai.

"Encaro com tranquilidade os acontecimentos de hoje. A verdade prevalecerá! Mais uma peça foi movimentada no tabuleiro para atacar Bolsonaro. Em 16 anos como deputado no Rio nunca houve uma vírgula contra mim. Bastou o presidente Bolsonaro se eleger para mudar tudo! O jogo é bruto!", escreveu o senador no Twitter.

PRISÃO DE FABRÍCIO QUEIROZ

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