RIO - Batata doce, tomate, banana e feijão transformaram a Praça Cardeal Câmara, no entorno dos Arcos da Lapa, onde, até um ano atrás, predominavam a aridez e o abandono. A conquista é fruto do trabalho do coletivo Organicidade que, em parceria com a Fundição Progresso, a Fundação Parques e Jardins e outros grupos socioambientais, plantou ali mil mudas de 30 espécies diferentes. E conseguiu provar que basta um pouco de cuidado para transformar um solo improdutivo num oásis com ar puro em pleno Centro do Rio.
— O legal é mostrar para as pessoas que é possível transformar o solo compactado, que retém calor e favorece alagamentos, por não absorver a água da chuva, em permeável. Dessa forma, os lençóis freáticos são abastecidos e o volume de água dos rios, assegurado — explica Alice Worcman, uma das fundadoras do Organicidade.
O Mutirão Olho D’água surgiu quando o grupo descobriu que ali havia uma nascente de água remanescente da Lagoa do Boqueirão, aterrada no século XVIII para a construção do Passeio Público.
Para ajudar a pôr o Mutirão Olho D’água em prática, a Comlurb fez podas e doou para o grupo restos de vegetais, que foram triturados e transformados em nutrientes para o solo. O “remédio” natural garantiu terreno fértil para uma Lapa mais verde.
O trabalho do grupo, que nasceu em 2012 em um casarão em Santa Teresa, conta com o apoio da engenheira ambiental Diana Grimmer, da fotógrafa Isabela Baptista e do estudante de Biologia Ricardo Antonio. Além da plantação da Lapa, a união deu outros frutos, como o Pequeno Guia Prático de Agricultura Urbana, um manual ilustrado que ensina como replicar o processo do Mutirão Olho D’água. Graças a uma parceria com o Ministério do Meio Ambiente e com a ONU, a cartilha será lançada este mês também na versão on-line. Será distribuída gratuitamente em escolas, organizações não governamentais e grupos ambientais, bastando que sejam feitos pedidos na página do Organicidade no Facebook.
Pelas redes sociais, também se pode agendar visita a um dos quartéis-generais da trupe, no Canto das Flores, na Fundição Progresso. Lá, um antigo depósito de cenários foi transforado em espaço verde, onde é oferecido, a preços populares, cursos de paisagismo funcional. Também é possível tirar dúvidas, por exemplo, sobre cultivo de plantas comestíveis não convencionais, como Begônia e Serralha.
— Essas plantas são capazes de brotar nas bordinhas das calçadas e chegam a ter mais valor nutritivo do que uma folha de alface — afirma Daniel Gabrielli, também fundador do coletivo.