O cartaz do Disque-Denúncia pede informações sobre o crime Foto: Divulgação

Relembre casos de assassinatos que ainda estão sem solução no Rio

Morte de Marielle Franco e de Anderson Gomes completou três meses

por O Globo

Assim como o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Pedro Gomes, que completou três meses e ainda não foi desvendado, outros crimes também ficaram sem ser solucionados no Rio. Investigações emblemáticas, como o desaparecimento de Priscila Belfort e a morte do presidente da Portela Marcos Falcon continuam sem desfecho. Relembre outros casos ainda sem solução:

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Marcos Falcon

Marcos Falcon, presidente da Portela, foi assassinado dentro de seu comitê de campanha - Luis Alvarenga - 02/02/2016 / Agência O Globo

O presidente da Portela e subtenente reformado pela PM, Marcos Vieira de Souza, o Falcon, foi assassinado no dia 26 de setembro de 2016. Ele era candidato pelo PP a uma vaga de vereador e foi morto dentro de seu comitê de campanha em Oswaldo Cruz, na Zona Norte do Rio. Um carro prata parou na porta do local com quatro homens encapuzados. três deles, armados com fuzis, desembarcaram, dois entraram no imóvel e dispararam contra Falcon, que já tinha sofrido outros atentados. A maioria dos tiros atingiu sua cabeça. Os bandidos ignoraram as outras pessoas que estavam no local, e elas nada sofreram.

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A Divisão de Homicídios (DH) tem duas linhas de investigação principais sobre a morte dele: hipótese de o homicídio estar relacionado à outra morte de um sargento reformado Geraldo Antônio Pereira, em maio do mesmo ano, e fazer parte de uma disputa pela exploração de caça-níqueis na cidade. Já a outra apura se a morte tem ligação com uma desavença de Falcon com outro candidato a vereador, Fausto Alves, policial reformado.

Para agentes da especializada, chamou a atenção a semelhança entre os modus operandi dos assassinos de Falcon com os responsáveis pela morte do sargento Pereira.

Geraldo Antônio Pereira

O sargento reformado Geraldo Antônio Pereira, morto em 2016 - Reprodução

O sargento reformado Geraldo Antônio Pereira foi morto em maio de 2016, quatro meses antes do presidente da Portela e candidato a vereador pelo PP, Marcos Falcon, ser assassinado. Na ocasião, o PM foi vítima de um ataque de homens encapuzados armados com fuzis a um clube, na Zona Oeste do Rio — mesma forma como Falcon foi atacado em seu comitê, em Oswaldo Cruz. Falcon e Pereira trabalharam juntos na Divisão Antissequestro da Polícia Civil no início dos anos 2000.

A trajetória do sargento reformado foi marcada por controvérsias. O policial ingressou na corporação em maio de 1983, aos 23 anos. Expulso da PM em 1997, após ser flagrado ao lado de colegas de farda agredindo moradores da Cidade de Deus, ele acabou reintegrado em 2002, por decisão da Justiça. Seis anos mais tarde, seu nome seria citado na CPI das Milícias, cujo relatório o apontou como um dos integrantes de um grupo paramilitar que atuava em Curicica, também na Zona Oeste.

Diego Vieira Machado

Diego Vieira Machado foi encontrado morto dentro da UFRJ - Reprodução do Facebook

O estudante da UFRJ Diego Vieira Machado foi encontrado morto com sinais de espancamento e sem as calças no dia 2 de julho de 2016, às margens da Baía de Guanabara, na Ilha do Fundão, Zona Norte do Rio. O paraense de 29 anos estava matriculado no curso de letras mas frequentava também aulas de arquitetura. Ele tinha saído às 10h de seu quarto, no alojamento estudantil, para correr. Gay, negro e bolsista, ele queria se mudar do alojamento universitário porque se sentia ameaçado. Cláudio Nascimento, ex-coordenador do Rio Sem Homofobia, disse que encaminhou para a Polícia Civil ameaças feitas ao rapaz por grupos conservadores da universidade. A morte de Diego aconteceu três meses após ele denunciar uma agressão de seguranças da UFRJ a um outro rapaz. Segundo a publicação do universitário assassinado, os agentes teriam o “deixando nu e humilhado na rua".

A polícia chegou a interrogar quatro suspeitos de cometer o crime mas, até hoje, a investigação não evoluiu. De acordo com declarações dos delegados na época, a principal linha de investigação era assassinato por homofobia.

Gisele Palhares

A médica Gisele Palhares Gouvêa - Reprodução da internet

A médica Gisela Palhares Gouvêa, de 34 anos, foi assassinada no dia 25 de junho de 2016 no acesso da Rodovia Presidente Dutra à Linha Vermelha. Ela voltava no seu próprio carro da inauguração de um Centro de Acolhimento ao Deficiente e de visitar pacientes em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, quando foi baleada por ocupantes de outro veículo. Quatro disparos acertaram o carro de Gisela, e pelo menos um tiro atingiu a médica na cabeça. Ela chegou a ser levada com vida para o Hospital estadual Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, mas não resistiu.

As imagens obtidas pela polícia revelaram que a vítima foi seguida desde a rodovia. Por isso, a possibilidade de execução foi levantada. Na época, a Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) constatou, durante a reprodução simulada do crime, que foi usada uma pistola calibre 9mm, que é de uso restrito da polícia.

Miguel Ayoub Zakhour

Miguel tinha 19 anos - Facebook / Reprodução

Miguel Ayoub Zakhour foi morto aos 19 anos numa tentativa de assalto em Laranjeiras, na Zona Sul do Rio. O rapaz estava com a namorada e os dois foram abordados por bandidos no cruzamento das ruas Pinheiro Machado e das Laranjeiras, em abril de 2017. Até hoje não há informações sobre o paradeiro dos bandidos.

Na ação, Miguel foi atingido por um tiro e morreu horas depois no Hospital municipal Miguel Couto, na Gávea, também na Zona Sul. O caso foi registrado na 9ª DP (Catete), e encaminhado para a Delegacia de Homicídios da Capital (DH).

Gilberto Arruda

Gilberto Arruda - Reprodução internet

O médium Gilberto Arruda foi encontrado morto em seu quarto na manhã do dia 19 de junho de 2015. Arruda estava amordaçado e amarrado com as mão para trás. Principal médium do Centro Espírita Frei Luiz, localizado em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, ele comandava cerca de 400 cirurgias espirituais por mês. A Divisão de Homicídios da Capital (DH), responsável pela investigação do caso, chegou a divulgar que tinha descoberto a identidade do suspeito e que ele já estaria preso. Segundo Daniel Rosa, delegado que comandou a apuração do caso, o homem seria funcionário de uma empresa terceirizada que realizava reformas em um dos prédios do complexo. Ele teria sido preso no próprio Frei Luiz apenas dois dias depois do assassinato de Arruda. Condenado a 19 anos de reclusão, por conta de um assassinato ocorrido em 2011, o homem teve um mandado de prisão expedido em seu nome pelo Tribunal de Justiça do Rio, após receber o indulto de Natal e não retornar mais para o presídio onde cumpria pena. Ouvido pela DH, ele negou envolvimento no assassinato. O suspeito também teria roubado uma quantidade de dinheiro não confirmada pela polícia.

Priscila Belfort

Pricila Belfort foi vista pela última vez em 2004, no Centro do Rio - Divulgação

Priscila Belfort tinha recém completado 29 anos de idade quando desapareceu no dia 9 de janeiro de 2004. Ela foi vista pela última vez no Centro do Rio, perto do local onde trabalhava. Segundo a polícia, Priscila foi levada para a Providência no mesmo dia, onde teria sido executada, cortada e queimada. Até hoje, seu corpo não foi encontrado. A polícia chegou até os responsáveis pelo desaparecimento de Priscila durante as investigações de outro caso de sequestro. Em depoimento à Divisão Anti-Sequestro (DAS), a vítima revelou ter ouvido dois sequestradores comentarem sobre o assassinato de Priscila. Acusado de executar a irmã do lutador de MMA Vitor Belfort, Leandro Ferreira Fernandes, o "Periquito", foi preso em 2006. Ele foi solto em 2015.

Chacina de Acari

Tereza de Souza Costa, 65 anos, mãe de Edson Souza Costa, uma das vitimas do caso que ficou mundialmente conhecido como a Chacina de Acari - Daniel Marenco / Agência O Globo

Após quase 28 anos da chacina de Acari, os responsáves ainda não foram punidos. No dia 26 de junho de 1990, de acordo com investigações da época, 11 jovens sumiram num sítio em Suruí, em Magé, na Baixada Fluminense. Eles teriam sido sequestrados por homens que se identificaram como policiais. Daí em diante, nada se sabe. Por falta de provas, o inquérito foi encerrado em 2010 sem que ninguém fosse indiciado pelo crime que ficou conhecido como Chacina de Acari, embora nenhum corpo tenha sido encontrado.

As mães das vítimas ficaram conhecidas "Mães de Acari" e lutavam para conseguir localizar os corpos dos jovens. A líder do grupo, a diarista Edmea da Silva Euzébio, e Sheila da Conceição foram assassinadas a tiros em 15 de janeiro de 1993, no estacionamento do metrô da Praça Onze, em 15 de janeiro de 1993.

Os sete acusados de participar do assassinato da diarista foram a juri popular, mas ninguém foi preso. O coronel reformado da PM e ex-deputado estadual Emir Campos Larangeira teria ordenado a execução.

Edmea teria sido morta por ter conseguido novas informações que localizariam os adolescentes de Acari.

Segundo a denúncia, além de Emir Campos Larangeira, foram réus os PMs Eduardo José Rocha Creazola, o "Rambo", Arlindo Maginário Filho, Adilson Saraiva Hora, o "Tula" e Irapuã Ferreira; o ex-PM Pedro Flávio Costa e o servidor municipal Luiz Cláudio de Souza, o "Mamãe" ou "Badi". A denúncia apontava ainda a participação de uma oitava pessoa, o agente penitenciário Washington Luiz Ferreira dos Santos, cujo processo foi desmembrado do principal.

Segundo a denúncia do MP, os acusados integravam o grupo conhecido como “Cavalos Corredores”, que agia sob as ordens do coronel Emir Larangeira, principalmente na década de 90, quando o PM comandava o 9º BPM (Rocha Miranda).

O caso, que chegou a ser arquivado, sofreu uma reviravolta em 2011, após o depoimento de uma nova testemunha. Ela contou que a reunião para matar Edmea teria ocorrido no gabinete do então deputado estadual Emir Larangeira, na Alerj.