Economia Imóveis

Arquitetos criam serviços rápidos e baratos para não perder a clientela durante a crise

Consultoria de uma hora e meia e projetos realizado em média de um mês são alguns
Sob medida. O arquiteto Fabiano Ravaglia ajudou o casal Tiago e Juliana a redecorar o apê em Copacabana mesclando peças novas, como a mesa de jantar, com o que eles já tinham Foto: Márcia Foletto/Globo
Sob medida. O arquiteto Fabiano Ravaglia ajudou o casal Tiago e Juliana a redecorar o apê em Copacabana mesclando peças novas, como a mesa de jantar, com o que eles já tinham Foto: Márcia Foletto/Globo

RIO —  Há quem reclame das crises. E há quem acredite que, com elas, vêm as oportunidades. Para alguns arquitetos do Rio, a segunda opção prevalece. Em um período geral de contenção de gastos, esses profissionais se reinventaram e criaram serviços compactos e mais econômicos para se adequar à nova realidade dos clientes.

Nessa pegada, o arquiteto Fabiano Ravaglia criou o “Interior Express”, em que oferece reformas rápidas, sem obras, para mudar a decoração. Os projetos incluem desde a reorganização de móveis e objetos que o cliente já tem até uma consultoria sobre quais novos comprar, assim como mudanças na iluminação e na cor da parede. Um tapa no visual, como ele mesmo define.

— O serviço surgiu a partir de uma percepção de mercado, de que estávamos no ápice da crise na arquitetura e ninguém queria fazer projetos mais complexos. O serviço começa com uma consultoria na casa do cliente, para conhecer o espaço e a demanda e, a partir disto, vejo o que tem e o que dá para consertar e mudar — conta Ravaglia.

O casal Juliana Fontanezi e Tiago Binoti estava há um ano morando em um imóvel alugado em Copacabana e queria deixá-lo mais aconchegante, mas sem precisar de uma grande reforma. Ela conta que chegaram a cotar projeto com três outros arquitetos:

— Mas as propostas incluíam obras grandes e a compra de vários outros móveis, o que ficava muito caro. O que queríamos era apenas criar um espaço legal com o que já tínhamos. Em três meses, Fabiano mostrou o projeto, foi aos lugares para ver móveis e pintou o hall e duas salas. E conseguimos conciliar peças mais caras e mais baratas com as as nossas — diz Juliana.

No apartamento deles, Ravaglia pintou a parede da sala principal, deu nova vida a móveis meio esquecidos, como o aparador, e foi com eles a lojas para comprar novas peças. Algumas foram bem em conta, como os quadros que formaram uma bela composição acima do sofá; outras nem tanto, como a poltrona rosa e a mesa de jantar.

Consulta rápida. As arquitetas Luciana Menezes e Graziela Oliveira atendem a cliente Mônica Velloso Foto: Márcia Foletto/Globo
Consulta rápida. As arquitetas Luciana Menezes e Graziela Oliveira atendem a cliente Mônica Velloso Foto: Márcia Foletto/Globo

Casa pronta pós lua de mel

A consultoria express de Fabiano dura de 20 a 30 dias e custa entre R$ 4 mil a R$ 10 mil, dependendo do projeto. O serviço deu tão certo que ele vai se manter neste nicho. No dia 9, na Way Design de Ipanema, ele lança um outro serviço, chamado “Casar”, uma parceria com a assessoria de decoração para noivos Que Tal Casar Com a Gente?.

— Eles cuidam de toda a parte da cerimônia e eu vou cuidar da casa dos noivos. Vou acompanhar da lista de presentes à mobília da casa. Quando eles forem para a lua de mel, entro e decoro, desde pregar prateleira até organizar as roupas, com a ajuda de uma personal organizer.

As arquitetas Graziela Oliveira e Luciana Menezes Côrtes, percebendo esta demanda no Rio, também criaram um serviço prático. O delas é chamado de “AmigArquiteta”, uma consultoria que dura uma hora e meia, em que o cliente leva as informações do espaço onde quer a pequena reforma, como medidas, e suas dúvidas.

— Sabe quando você quer uma consulta, mas não um projeto inteiro, e precisa da opinião de um profissional e recorre a um parente ou amigo arquiteto? Daí surgiu o nome — conta Luciana.

O encontro custa R$ 450 e, segundo Luciana, a maioria busca repaginar ambientes, como quartos e cozinhas.

— Da consulta, entregamos croquis com indicação de layout, medidas sugeridas e também referências com imagens e especificação de revestimentos, tintas, cores, adornos e mobiliário — acrescenta Graziela.

A gerente de loja Mônica Velloso foi uma que aderiu ao serviço para reformar a cozinha:

— Eu buscava uma opção profissional, mas que coubesse dentro do meu orçamento. Levei várias fotos, expliquei meus desejos e tirei as medidas para poder dar maior embasamento às arquitetas. Fiquei muito satisfeita com o resultado.

Opção. Claudia Carvalho, da Rug Hold, passou a alugar seus produtos Foto: Divulgação
Opção. Claudia Carvalho, da Rug Hold, passou a alugar seus produtos Foto: Divulgação

Novos nichos

Quem também viu não só uma forma de conter a crise, mas de criar uma oportunidade, foi Claudia Carvalho. Dona de duas empresas cujos carros-chefes são produtos importados — a multimarcas Rug Home e a Rug Hold, especializada em móveis e objetos de decoração oriental —, ela sentiu o peso da alta do dólar tanto para comprar quanto para vender.

A matemática de clientes segurando para gastar a preços mais altos a levaram ao “Aluguel de Charme”, em que ela aluga peças e tapetes da Rug Hold para festas e eventos.

No serviço oferecido, o cliente pode tanto ser o decorador do evento quanto o consumidor final, que pode ir até ao galpão da Rug Hold, em São Cristóvão, ou escolher as peças pelo WhatsApp. Os preços variam.

— O trabalho é mais personalizado. Tem desde gente pedindo almofadas até tapete para casamentos — explica.

Para o arquiteto Francisco Viana, na atual situação do país, independentemente do tipo de serviço — ainda que seja para uma grande obra —, é importante pesquisar soluções com preços mais acessíveis para itens como revestimentos de piso e parede, mas sem comprometer a qualidade e a estética do projeto.

— Muitas vezes, essas opções mais em conta são encontradas na mesma loja. Charme, elegância e bom gosto não necessariamente têm a ver com preços altos e produtos top de linha — afirma Viana.