Por Pedro Alves, G1 PE

O ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, informou que a investigação sobre o derramamento de petróleo que atingiu mais de 200 praias no Nordeste está concentrada em 30 navios, de 10 nacionalidades, que estiveram na costa em um período de dez dias. Em visita ao Recife, nesta terça-feira (22), ele disse que o governo reduziu o espaço de tempo em que pode ter ocorrido o desastre.

"[As capitanias] solicitaram que, entre os dias 25 de agosto e 3 de setembro, fossem indicados quais eram os navios, quais eram as rotas, quais eram as bandeiras e que tipo de óleo estava naqueles navios, para que pudessem fazer essa verificação. Esse processo ainda está em curso, mas, então, entendam, são dez bandeiras internacionais", declarou o ministro.

Da quinta (17) até a segunda (21), foram recolhidas 257 toneladas de óleo no litoral pernambucano. Em todo o Nordeste, foram 900 toneladas desde 2 de setembro até o mesmo período.

De manhã, o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, afirmou ao G1 que “não julgava ser necessário empregar o Exército” na limpeza do óleo antes desta terça.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que não é prioridade a origem do petróleo que vem atingido o litoral do Nordeste há quase dois meses. Eles também visitaram o estado para acompanhar o avanço das manchas.

Gustavo Canuto afirmou que a investigação ainda é uma dificuldade e que o incidente com petróleo cru é o primeiro registrado no país. "Pelas características daquele óleo, pelo grau de intemperismo, que é como ele foi alterado pelo mar e pelo sol, foi verificado que é um óleo de uma semana, algo próximo disso", diz o ministro.

O ministro disse que as hipóteses são trabalhadas desde o dia 2 de setembro. "E um processo difícil, que envolve vários países. O óleo não é rastreável, ele fica submerso, então, não é possível ver por satélite. Essa é a dificuldade principal. É algo inédito, que nunca na história de desastre com óleo no mar foi um óleo bruto, que não pudesse rastreado, estivesse submerso, mas está sendo trabalhado desde então", declara o ministro.

Liberação de recursos

Canuto afirmou que, para fazer a liberação de recursos para conter o óleo, é preciso que estados elaborem decretos de situação de emergência. Entretanto, diz ele, mesmo sem esses documentos, o governo federal está atuando.

"O Ministério especificamente só pode repassar recursos pela Secretaria Nacional de proteção e defesa civil se for decretado situação de emergência. Então nós não podemos repassar recurso. Agora, o governo federal está agindo", diz o ministro.

O ministro informou que veio a Pernambuco para identificar as necessidades do estado. Ele disse, ainda, reconhecer que o óleo nas praias é "um problema que não é só do Nordeste, mas é do Brasil todo".

"[A Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil] faz parte do Comitê de Suporte e também do Comitê Executivo do Plano Nacional de Contingência, que foi acionado no início de outubro. Então, a Defesa Civil, ela pode auxiliar quando [o estado] decretar situação de emergência com recursos, mas também pode auxiliar na organização da informação e no fluxo da informação", declarou o ministro.

Gustavo Canuto veio ao Recife para acompanhar ações para contenção de óleo nas praias de Pernambuco — Foto: Reprodução/TV Globo

As visitas dos ministros ocorrem após a Justiça Federal determinar o cumprimento de ações para retirada do óleo das praias de Pernambuco à União e ao Ibama. A liminar foi concedida no domingo (20), após cobranças do governo estadual. Na segunda-feira (21), também em visita a Pernambuco, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, afirmou que o governo federal "tem feito sua parte".

Ainda segundo o ministro Canuto, o governador Paulo Câmara (PSB) elencou três prioridades para as ações que envolvem o desastre ambiental: análise da qualidade da água das praias afetadas, preservação de estuários e da vida marinha que se desenvolve no encontro dos rios com o mar, além de garantir a retirada da partículas menores do produto.

"Há uma necessidade de um refinamento, uma limpeza, um acabamento dessas praias, para que realmente a areia fique totalmente livre do óleo. Buscou-se soluções para isso, como é que a gente pode resolver. E também há a preocupação, que é extremamente legítima do governo, com as praias que foram tocadas pelo óleo, se elas estão prontas, pode tomar banho, as pessoas têm algum problema em entrar naquele mar depois que a praia foi limpa e que houve óleo?", disse Gustavo Canuto.

O ministro afirmou, ainda, que participam das ações de monitoramento e limpeza do mar e praias mais de 3,4 mil pessoas enviadas pelo governo federal, sendo 1.580 militares da Marinha, mais de 1,8 mil contratados pela Petrobras para fazer a limpeza das praias e 700 servidores do Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Questionado sobre a possibilidade de uso do Fundo Especial para Calamidades Públicas (Funcap), subordinado à Secretaria Nacional de Defesa Civil, Gustavo Canuto afirmou que o financiamento das ações "não interessa".

"Hoje, não estamos preocupados tanto com financiamento. Sim, a gente está sendo acionado pela Petrobras, essa conta virá para o governo federal. As formas que isso vai ser operacionalizado, se vai ser com fundo meio ambiente, outros recursos, isso, hoje, não interessa. O que interessa é descobrir as soluções para os problemas e efetivar as ações, e isso está acontecendo, ou pela Marinha do Brasil ou pela Petrobras", declara o ministro.

Pedra do Xaréu, no Grande Recife, foi atingida pelo óleo — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press

Governo

Segundo o governador Paulo Câmara, a possibilidade de decretar situação de emergência devido à presença de óleo no litoral pernambucano está sendo avaliada. Desde a quinta-feira (17), a substância tem sido removida com a ajuda de voluntários, que têm se deslocado até os locais afetados.

"Estamos analisando caso a caso, todo dia tem uma análise nova. Evidentemente, uma decisão de emergência precisa ter todo um embasamento e, acima de tudo, a falta de previsibilidade em relação a essa questão da origem do óleo dificulta uma tomada de decisão como essa, mas estamos atentos, não estamos descartando isso agora", diz o governador.

Paulo Câmara disse, ainda, que a maioria das praias está limpa. "Cabe analisar o dia a dia, a gente tá com a situação hoje de limpeza bem avançada das praias, evidentemente que, como conversamos com o ministro, é preciso ter uma segunda etapa, que é a limpeza final, o pente fino que precisa ser feito", declara.

O secretário de Meio Ambiente de Pernambuco, José Bertotti, disse que o governo providenciou a compra de equipamentos para o trabalho de remoção do óleo nas praias.

Sobre a possibilidade de decretar situação de emergência para receber recursos federais, ele afirmou que o estado está fazendo os investimentos, sem depender de decisões como esta. "Vamos garantir os equipamentos e depois entraremos em contato com o governo federal", disse.

Óleo em Pernambuco

Entre a quinta-feira (17) e a segunda-feira (21), foram 257 toneladas de óleo recolhidas em sete municípios pernambucanos.

No domingo (20), o óleo chegou às praias de Suape, Calhetas, Itapuama, Xaréu e à Ilha de Tatuoca, no Cabo de Santo Agostinho. Voluntários e equipes se uniram para retirar o material da água, da areia e do mangue.

Na segunda (21), também no Cabo, voluntários escreveram pedidos de socorro na areia, pedindo, ainda, trator e luvas para a retirada do material.

No mesmo dia, o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) informou que o Exército decidiu disponibilizar a 10º Brigada de Infantaria Motorizada, sediada no Recife, como “reforço” para as ações. Os militares começaram a atuar nessa terça-feira (22).

A medida foi tomada após a Justiça Federal determinar o cumprimento de ações para retirada do óleo das praias de Pernambuco à União e ao Ibama. A liminar foi concedida no domingo (20), após cobranças do governo estadual. Entre as medidas estão a distribuição de boias de contenção e Equipamentos de Proteção Individual, inclusive para voluntários.

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