Coronavírus

Por Luiz Felipe Barbiéri, G1 — Brasília


Os governadores Renato Casagrande (PSB-ES), Waldez Góes (PDT-AP) e Mauro Mendes (DEM-MT) reclamaram nesta quinta-feira (26), em audiência no Congresso, da falta de uma coordenação do governo federal no enfrentamento da pandemia de covid-19 e da dificuldade em obter para a rede hospitalar remédios usados no tratamento da doença.

Eles foram ouvidos em uma audiência da comissão formada por deputados e senadores que acompanha as ações públicas voltadas para mitigar a pandemia.

Segundo Casagrande, os recursos repassados pelo governo federal têm chegado aos estados, mas ainda falta uma articulação mais próxima com governadores e prefeitos.

“O governo poderia estar numa coordenação mais ampla e geral da pandemia. Essa falta de coordenação nacional, a troca de ministros, a politização do tema de medicamentos e do próprio isolamento social e o enfrentamento provocado pelo presidente da República acabou dificultando um pouco o nosso trabalho”, disse o governador do Espírito Santo.

Medicamentos para intubação de pacientes estão em falta em hospitais de 20 estados e DF

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Ele destacou que o posicionamento de Bolsonaro tem levado a ataques contra a gestões estaduais e lembrou da falta de empenho do governo na prevenção da doença. Bolsonaro, desde o início da pandemia, se posicionou contrário a medidas de isolamento social.

“Não tem nenhuma propaganda do governo federal pedindo para as pessoas lavarem as mãos, usar álcool em gel, nenhuma orientação do governo. Registro a necessidade dessa coordenação. Não fez até agora, mas é preciso que se faça ainda”, afirmou Casagrande.

“O Brasil está falhando no controle da pandemia. Nós temos hoje uma confusão na cabeça das pessoas. O comportamento do presidente deixa muitas dúvidas na cabeça das pessoas. A pandemia foi politizada. Jamais pensei que nós veríamos uma politização da pandemia”, continuou o governador.

Mendes agradeceu o repasses de recursos feitos pela União, mas disse que o “dinheiro não é tudo”. Para o governador do Mato Grosso, falta uma articulação mais próxima do governo federal.

Ele citou a troca de ministros no Ministério da Saúde durante a pandemia como uma dos motivos que geram instabilidade na condução da crise. Em menos de um mês, dois ministros saíram da pasta por discordâncias com Bolsonaro: Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich.

“Precisaríamos de uma articulação mais presente mais próxima, de uma liderança nacional para conduzir esse momento grave do nosso país. Falei uma vez com o nosso atual ministro, essa característica de interinidade, ela gera uma instabilidade.Trocar dois ministros da Saúde em um período tão critico não é algo razoável”, declarou Mendes.

Falta de remédios

Casagrande destacou que os governos estaduais têm tido dificuldade na aquisição de insumos e medicamentos para serem usados nas UTI’s.

Ele afirmou que os governadores devem enviar nos próximos dias uma carta à Presidência da República e ao Ministério da Saúde solicitando que o governo coordene a compra de medicamentos para combater a pandemia.

O governador do Espírito Santo ressaltou que “não há má vontade” no Ministério da Saúde, mas a instabilidade, com a troca de ministros durante a pandemia é um problema que atrapalha a coordenação do ministério junto a prefeitos e governadores.

“Precisamos de medicamentos para que a gente possa manter o atendimento nos leitos que estamos abrindo. Essa relação ela é importante. Não tem má vontade do ministéro, mas tem dificuldade, porque houve muitas mudanças. E a dificuldade maior é o problema e a diferença de visão que tem dentro do governo federal’”, afirmou.

Waldez Góes afirmou que essa falta de coordenação na aquisição de equipamentos e medicações expuseram os gestores estaduais e municipais a uma “relação mercadológica canibal”.

Ele reforçou a importância do pedido de coordenação do governo federal na compra de medicamentos e disse que esta é a prioridade no momento. Segundo o governador do Amapá, o problema está principalmente na aquisição de “kits intubação” para aplicação nas UTI’s.

“Todas as demais medicações a gente ainda consegue, mas esse kit de intubação pode ceifar ainda muitas vidas se não tiver uma uma providência adotada pelo governo federal, como um exemplo bom a ser seguido de coordenação do governo central”, afirmou.

Mendes disse que os problemas na aquisição de equipamentos têm ficado em segundo plano e que “o sofrimento hoje” é a falta de medicamentos.

“Não é só na rede pública. Pouco dias atrás o governo aqui socorreu hospitais privados que não tinha alguns medicamentos na UTIs e nós socorremos, fizemos empréstimos”,explicou o governador do Mato Grosso.

Segundo ele, os preços dispararam e os gestores estão com medo de comprar mais caro e depois responderem na Justiça por improbidade administrativa.

"Eu percebo isso já em muitos lugares que é primeiro a falta de medicamentos. Hoje isso é um problema grave. Está falta medicamentos na atenção básica, aquele kit que alguns apelidaram de kit covid. Está sendo uma verdadeira loucura encontrar. Os preços dispararam. Os gestores estão com medo de comprar e depois a PF bate na porta. Aí não compram e faltam os remédios", argumentou o governador.

Relatório do TCU

Nesta quarta (24), o Tribunal de Contas da União aprovou um relatório, de autoria do ministro Vital do Rêgo, que aponta falta de diretrizes do governo federal no combate ao novo coronavírus.

No relatório, o ministro afirma que a auditoria na atuação do comitê de enfrentamento da crise "não identificou a definição de diretrizes estratégicas capazes de estabelecer objetivos a serem perseguidos por todos os entes e atores envolvidos".

O documento ressalta ainda que pode haver desperdício de dinheiro público e aumento nos números de infecções e de mortes.

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