Anta é flagrada atravessando nascente
Observar o maior mamífero herbívoro terrestre do Brasil, livre na natureza, com certeza é algo que chama atenção. Agora imagine encontrá-lo andando lentamente no fundo do rio? Foi assim que o guia de turismo, Artur Sutil, foi surpreendido durante um mergulho.
“Estava com um grupo, treinando para o início da flutuação na nascente do rio, quando fiz o registro. Foi um momento de grande emoção”, conta Artur, que já havia observado alguns indivíduos na região, mas nunca debaixo da água.
A RPPN desempenha um papel importante na paisagem regional — Foto: Renan Kubota/Arquivo Pessoal
“Considero este um dos mais marcantes registros que já fiz e posso dizer que esse é o grande prazer que tenho em trabalhar na natureza”, relata o guia, que comemora o flagrante junto aos turistas. “Fiquei feliz em compartilhar com os visitantes o prazer de encontrar esse grande mamífero”, diz.
O flagrante surpreendeu os admiradores da natureza, mas o comportamento aquático é comum entre a espécie. Considerada ótima nadadora, a anta pode ser avistada atravessando lagos e rios, onde costuma tomar banho e até se esconder de possíveis ameaças.
O turismo consciente é prática incentivada no Recanto Ecológico — Foto: Beto Nascimento/Arquivo Pessoal
Turismo consciente
O flagrante inusitado foi feito no Rio Olho d’água, que nasce na propriedade particular Recanto Ecológico Rio da Prata (MS). A Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) visa a conservação da biodiversidade, incentivo às pesquisas científicas e visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais.
Para a preservação das 449 espécies de plantas do local, além da proteção das 38 espécies de mamíferos, 234 de aves, 65 de anfíbios e répteis e 59 espécies de peixes, são desenvolvidos projetos ambientais.
A região abriga 38 espécies de mamíferos — Foto: Christian Dalgas Frisch/Arquivo Pessoal
“Temos viveiros de mudas nativas, sementários, minhocários, horta orgânica e coleta seletiva, além de ações de educação ambiental e parcerias com projetos como o Projeto Arara-azul”, explica a engenheira ambiental, Luiza Spengler, que ressalta ainda a importância de um turismo consciente.
Para tanto, são feitos monitoramentos da área e da biodiversidade local há 18 anos. “O objetivo principal dos programas de monitoramento é avaliar o potencial de impactos ambientais decorrentes de visitação turísticas, fornecendo informações sobre os fatores que influenciam a conservação, preservação e recuperação ambiental da área em estudo”, explica.
A observação de aves também é prática comum na região — Foto: Maurício Neves Godoi/Arquivo Pessoal
A diretora de sustentabilidade do Grupo Rio da Prata também destaca a importância dos trabalhos desenvolvidos pelos guias do local. “Eles são essenciais no monitoramento da fauna local. Após a condução dos grupos é preenchido um relatório de passeio onde são indicadas as espécies avistadas e quantidade de indivíduos”, completa.
Entre as observações destacam-se o lobo-guará, a catita e a lontra, classificados como “Quase Ameaçados”, além do tamanduá-bandeira e anta, tidos como Vulneráveis na lista da IUCN.
A RPPN visa a conservação da biodiversidade — Foto: André Seale/Arquivo Pessoal
“A RPPN Cabeceira do Prata desempenha um papel muito importante na paisagem regional, contribuindo para a existência de uma zona efetiva de amortecimento no entorno do Parque e possibilitando a conectividade entre ele e outras áreas naturais remanescentes”, conta Luiza.
Registro de anta com filhote é destaque entre os cliques de monitoramento — Foto: Divulgação Grupo Rio da Prata
Antas por perto
Além de macacos-prego, queixadas, cutias, quatis, catetos e aves, como o mutum-de-penacho, udu-de-coroa-azul, surucuá, ema e jaó, a anta é uma espécie vista com certa frequência por pesquisadores e turistas da região.
“É relativamente comum a observação de antas na RPPN. A maioria das vezes são avistadas no Rio Olho d’água, mas também podem ser vistas nas trilhas, além de monitoradas pelas armadilhas fotográficas”, explica a engenheira.