Segunda, 20/01/2014, 11:33

Construída com recursos dos EUA, comunidade Vila Kennedy completa 50 anos marcados por violência e falta de serviços básicos

Local, na Zona Oeste do Rio, foi planejado para abrigar quatro mil famílias e hoje tem 140 mil moradores.

Inaugurada em 1964 com a ambição de ser a primeira comunidade organizada do Rio de Janeiro, a Vila Kennedy, na Zona Oeste, completa 50 anos nesta segunda-feira sem motivos para comemorar. Com recursos recebidos do governo dos Estados Unidos, o projeto tinha como objetivo oferecer trabalho, dignidade e moradia para famílias removidas de favelas das Zonas Norte e Sul. A Aliança para o Progresso, lançada pelo presidente americano John Kennedy, visava ao desenvolvimento econômico e social dos países latino-americanos. O número de moradores cresceu e os investimentos não acompanharam o ritmo. Hoje, as 140 mil pessoas que vivem na Vila Kennedy enfrentam dificuldades nas áreas de saúde, educação e transporte e sofrem com a violência. O guia de turismo Alex Belchior nasceu na comunidade há 40 anos. Passou uma década fora do local e quando retornou encontrou uma realidade ainda pior. Ele diz que as duas unidades de saúde não dão conta da demanda e o transporte continua sendo um problema desde o início da construção do local. 

A longa distância para o Centro da cidade prejudica a busca por um emprego. A presença do tráfico de drogas também assusta, mas o assunto é proibido para quem mora no local. Os confrontos entre traficantes de facções rivais são frequentes e a comunidade foi uma das dez do estado escolhidas pelo governo para receber uma companhia destacada da PM neste ano. No início do projeto havia uma lavanderia, padaria comunitária e costureiras que prestavam serviços para diversos locais do Rio. A intenção era manter as famílias morando e trabalhando na região. As homenagens aos Estados Unidos não param somente no sobrenome do ex-presidente. A Vila Kennedy conta com a sua própria estátua da Liberdade. Motivo de orgulho para os moradores, o monumento não vai participar da festa de 50 anos. Ela foi retirada do local para restauração e não ficou pronta a tempo. Com a mesma idade da Vila Kennedy e morando na região desde que nasceu, o repórter fotográfico Valdeci dos Santos diz que o recolhimento de lixo não existe em diversas ruas. Com dois filhos de colo, ele tem que disputar espaço com carros na pista, já que a calçada está bloqueada pela sujeira.


O professor da UFRJ, doutor em Urbanismo Pablo Cesar Benetti, diz que o projeto de construção da Vila Kennedy já começou errado, com a escolha do local onde seria instalado.

A comunidade, formada por ruas com nomes de países africanos e músicos famosos, tenta se equilibrar entre a miséria e a esperança de um futuro melhor. O teatro Mário Lago, no interior da Vila Kennedy, completou um ano fechado. As opções de lazer e cultura são mínimas. A única alternativa é o samba. A favela conta com uma escola, a Unidos da Vila Kennedy, fundada como bloco carnavalesco em 1968. O compositor e morador André Augusto de Andrade diz que tenta fazer, através de suas letras, o papel do governo. Ele acredita que mesmo em um momento de lazer, ouvindo samba, o morador pode aprender um pouco da história do país.

 


Para o Carnaval deste ano, a escola traz na letra do samba o recomeço do mundo e o surgimento de uma nova era. É com esse sentimento que os moradores mantêm a chama acesa e a esperança de que na comemoração dos próximos aniversários a Vila Kennedy tenha motivos para festejar.

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