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Moro diz que PF foi orientada a 'não proteger ninguém' em caso de laranjas do PSL

Ministro afirmou que seu acordo com Bolsonaro é que 'ninguém seria poupado', caso aparecessem crimes no governo
O ministro Sérgio Moro Foto: Jorge William / 14.02.2019
O ministro Sérgio Moro Foto: Jorge William / 14.02.2019

RIO — O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro , disse nesta segunda-feira que orientou a Polícia Federal (PF) a "não proteger ninguém" na investigação sobre o uso de candidatas laranjas pelo PSL , partido do presidente Jair Bolsonaro . Em entrevista à à rádio "Jovem Pan", Moro afirmou que, antes de assumir o cargo, combinou com o presidente que "ninguém seria poupado" se aparecessem denúncias.

— Quando fui convidado (por Bolsonaro para ser ministro), o que conversamos? Ninguém seria poupado. Essa é minha posição e do senhor presidente, que ninguém seria poupado se surgissem casos de crimes no âmbito do governo. Isso seria apurado, e nós não iríamos proteger ninguém. E essa é a orientação que tem sido passada para a PF e demais órgãos de investigação.

Questionado se há algum desconforto em fazer parte de um governo cuja sigla pode ter utilizado candidaturas para desviar recursos do fundo eleitoral, Moro respondeu que todas as denúncias "têm que ser devidamente apuradas".

— Órgãos de investigação têm independência. O próprio presidente solicitou que esses episódios fossem devidamente apurados. O trabalho que tem que ser feito em relação a esse fato está sendo feito — disse.

Questionado sobre as chances de aprovação do pacote anticrime pelo Congresso, o ministro respondeu que não há chance de que o projeto fique num escaninho esperando que a reforma da Previdência seja aprovada:

— A Previdência é prioridade. Entretanto, isso não significa que o Congresso ficará trabalhando apenas em cima da reforma por um semestre. As duas coisas podem ser feitas ao mesmo tempo.

Caixa dois

Segundo ele, separar a criminalização do caixa dois da proposta anticrime foi tomada por uma "questão estratégica", como ele definiou reclamações de políticos de que a falta de declaração de dinheiro em campanha não deveria entrar no mesmo projeto que crimes como tráfico de drogas e corrupção. Ainda assim, diz Moro, o governo se esforçará para aprovar esse projeto.

Ele rebateu, mais uma vez, as críticas de que voltou atrás sobre a gravidade do crime de caixa dois. Moro foi cobrado por ter dito, dois anos atrás, que caixa dois era mais grave que corrupção . Ao apresentar seu projeto de lei, disse o oposto: que não é tão grave. O ministro afirmou, nesta segunda-feira, que foi incompreendido.

Sobre o projeto do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal federal (STF) — apresentado no ano passado e que trata de propostas de mudança na legislação para fortalecer o combate à criminalidade e tornar a Justiça mais rápida — Moro disse que o seu é "mais abrangente".

— Conheço o projeto do ministro Alexandre, mas o nosso é mais abrangente. Faltam (no dele) disposições quanto à corrupção — afirmou.

Legítima defesa

Quanto ao questionamento de que a parte do pacote anticrime que flexibiliza as punições para policiais que cometem crimes em serviço pode ser entendida como uma "licença para matar", o ministro respondeu que "o compromisso do governo é melhorar nossas instituições" e "passar por aprimoramento das legislações, para avançar".

Segundo ele, ao propor extinção ou redução da pena para quem comete crimes em legítima defesa, motivado por "violenta emoção", não estava pensando em policiais.

Moro citou o caso Ana Hickmann — sem menção direta ao nome da apresentadora — em que o cunhado dela matou um homem que invadiu o quarto de hotel em que a ex-modelo estava, em 2016. Gustavo Corrêa foi absolvido da morte de Rodrigo de Pádua uma vez que o Tribunal de Justiça de Minas Gerais considerou que ele agiu em legítima defesa.

— Naquela circunstância (Gustavo) não deveria ser tratado como homicida. As pessoas não são robôs. Alguém atacado pode reagir, e pode reagir desproporcianlmente, o que é pessimo, mas não precisa ser necessariamente tratado como um homicida.