Por G1


PF investigará possível uso de recursos públicos pelo PSL em campanha de laranjas

PF investigará possível uso de recursos públicos pelo PSL em campanha de laranjas

O PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, está no centro de uma crise política por suspeita de irregularidades em razão do financiamento de candidaturas de "laranjas" nas eleições de 2018.

A controvérsia agravou-se quando um dos filhos de Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro, desmentiu o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, depois de este dizer que havia conversado com o presidente sobre o caso – Bebianno presidia o PSL na época da disputa eleitoral do ano passado.

Nesta quarta-feira (13), o blog de Valdo Cruz informou que havia pressões no Palácio do Planalto pela demissão de Bebianno do cargo de ministro, em razão da crise entre ele e o filho do presidente. Já nesta sexta-feira (15), o colunista noticiou que, segundo aliados, Bebianno permanecerá no cargo.

Além disso, o próprio Bebianno afirmou que "não há crise nenhuma" no governo, mas declarou que não sabe se ficará no cargo. De acordo com o Blog do Camarotti, ele ganhou sobrevida no cargo após intensa atuação de outros ministros. No fim da tarde de sexta, Bebianno reuniu-se com Bolsonaro. A avaliação do Planalto é que, mesmo após o encontro, a situação do chefe da Secretaria-Geral é considerada difícil.

A Polícia Federal vai investigar as supostas irregularidades do PSL. Nesta quinta-feira (14), o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, disse que a suspeita está sendo apurada e que "eventuais responsabilidades" serão "definidas" após as investigações.

Nesta quinta, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou ao blog de Andréia Sadi no G1 que Bolsonaro precisa "comandar a solução" para a crise política. "A impressão que dá é que o presidente está usando o filho para pedir para o Bebianno sair", declarou.

Para ele, o governo corre um "risco muito grande" se transformar o episódio em crise. Sobre a suspeita envolvendo Bebianno, Maia afirmou que "qualquer presidente de partido poderia passar por isso".

Entenda, abaixo, a crise que atinge o PSL:

Caso de MG envolvendo o ministro do Turismo

Em 4 de fevereiro, uma reportagem da "Folha de S.Paulo" apontou que o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL), que é presidente do partido em Minas Gerais, direcionou verbas de campanha a quatro candidatas no estado que são suspeitas de serem laranjas.

Caso em PE envolvendo Bivar e Bebianno

Em 10 de fevereiro, o mesmo jornal informou que o PSL repassou R$ 400 mil a uma candidata a deputada federal em Pernambuco que teve 274 votos, três dias antes da eleição. De acordo com a reportagem, isso é indício de uma candidatura de fachada.

O jornal diz que Maria de Lourdes Paixão se tornou candidata por iniciativa do grupo do atual presidente do PSL, Luciano Bivar.

O repasse, ainda segundo a "Folha de S.Paulo", aconteceu no período em que Gustavo Bebianno era o presidente do PSL. Um dos principais coordenadores da campanha de Bolsonaro, Bebbiano deixou o comando da legenda após o período eleitoral e hoje é ministro da Secretaria Geral da Presidência.

Segundo a reportagem, Maria de Lourdes Paixão foi beneficiária do terceiro maior volume de recursos transferidos para um candidato – mais do que receberam as campanhas do próprio Jair Bolsonaro e de Joice Hasselmann (PSL-SP), deputada mais votada do país entre as mulheres candidatas.

Atritos ampliam a crise

Carlos Bolsonaro desmente Bebianno e governo enfrenta primeira crise

Carlos Bolsonaro desmente Bebianno e governo enfrenta primeira crise

Na terça-feira (12), Gustavo Bebianno negou, em entrevista ao jornal "O Globo", que seja o pivô de uma crise no governo. Ele afirmou: "Não existe crise nenhuma. Só hoje falei três vezes com o presidente". Segundo Bebianno, ele se comunicou com o presidente por meio de um aplicativo de mensagens.

Já na quarta-feira (13), um dos filhos do presidente, o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PSC), criticou Bebianno em uma rede social. Segundo Carlos Bolsonaro, era uma "mentira absoluta" a alegação de Bebianno na qual o ministro disse ter falado três vezes com Jair Bolsonaro enquanto o presidente ainda estava internado no hospital Albert Einstein, em São Paulo. Bolsonaro recebeu alta nesta quarta e voltou para Brasilia.

"Ontem estive 24h do dia ao lado do meu pai e afirmou: 'É uma mentira absoluta de Gustavo Bebbiano que ontem teria falado 3 vezes com Jair Bolsonaro para tratar do assunto citado pelo Globo e retransmitido pelo Antagonista', escreveu Carlos Bolsonaro.

Para sustentar o que chamou de "mentira", o filho do presidente divulgou uma gravação em áudio do pai na qual ele supostamente conversa por telefone com Bebbiano. A gravação reproduz somente a voz de Bolsonaro.

"Ô Gustavo, está complicado eu conversar ainda. Então, não vou falar, não vou falar com ninguém, a não ser estritamente o essencial. Estou em fase final de exames para possível baixa hoje, tá ok? Boa sorte aí", afirma Jair Bolsonaro na gravação.

"Não há roupa suja a ser lavada! Apenas a verdade: Bolsonaro não tratou com Bebiano o assunto exposto pelo 'O Globo' como disse que tratou", afirmou Carlos Bolsonaro na rede social.

O que dizem os suspeitos

Bebianno diz que não irá pedir demissão

Bebianno diz que não irá pedir demissão

Ao blog de Andréia Sadi no G1, o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, disse nesta quarta que não pretende pedir demissão em razão do episódio.

Questionado se tem a intenção de deixar o cargo, Bebianno respondeu:

"Não tenho essa intenção porque não fiz nada de errado. Meu trabalho continua sendo em benefício do Brasil. O presidente, se entender que eu não deva mais continuar, ele certamente vai me comunicar. Mas até aqui minha relação com ele foi sempre a melhor possível, da minha parte tudo foi feito com honestidade, correção e vamos esperar para ver o que acontece."

Nesta sexta, em entrevista exclusiva à TV Globo, Bebianno disse que "não tem crise nenhuma" no governo mas que não sabe se ficará no cargo.

Bebianno diz que 'não tem crise nenhuma' no governo mas que não sabe se ficará no cargo

Bebianno diz que 'não tem crise nenhuma' no governo mas que não sabe se ficará no cargo

Além disso, o Blog do Camarotti informou que, em conversas com interlocutores, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência demonstrou forte mágoa com o episódio. "Não se dá um tiro na nuca do seu próprio soldado. É preciso ter um mínimo de consideração com quem esteve ao lado dele o tempo todo", desabafou Bebianno.

Já o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL) – que foi o deputado federal mais votado em Minas Gerais –, comentou, em entrevista ao jornal "O Globo", a suspeita de que teria usado candidatos laranjas na campanha do ano passado:

"Fazem esse tipo de ilação maldosa, dizer que a candidata é laranja porque gastou R$ 50 mil do fundo partidário e teve 800 votos – isso é surreal. Não tem como medir o número de votos pelo que a pessoa gastou. Então quer dizer que o presidente tinha que ser o [Fernando] Haddat [PT], que gastou 20 vezes mais que o presidente Jair Bolsonaro".

Ao jornal, Álvaro Antônio disse que todas as suas contas foram aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral: "O PSL em Minas agiu 100% dentro da legislação eleitoral. Dizer que as pessoas são laranjas, atrelando a quantidade de voto com o valor gasto, é subestimar a democracia brasileira. Não tem como fazer uma analogia dessas".

O que diz Bolsonaro

Presidente Jair Bolsonaro enfrenta maior crise do governo

Presidente Jair Bolsonaro enfrenta maior crise do governo

O presidente Jair Bolsonaro compartilhou na noite de quarta três mensagens nas quais um de seus filhos, o vereador Carlos Bolsonaro, acusou o ministro da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno, de mentir. Bolsonaro não acrescentou comentário nas postagens, somente republicou o mesmo conteúdo publicado pelo filho.

Também nesta quarta, Bolsonaro afirmou em entrevista à TV Record que Bebianno terá de "voltar às origens" se estiver envolvido nas supostas irregularidades do PSL.

"Se estiver envolvido, logicamente, e responsabilizado, lamentavelmente o destino não pode ser outro a não ser voltar às suas origens. Em nenhum momento conversei com ele", afirmou o presidente.

Questionado se havia conversado com Bebianno por telefone na terça, respondeu:

"Isso é mentira. Sabe por que é mentira? Porque eu determinei que a Polícia Federal investigasse. Eu podia ter dado um telefonema para o Sérgio Moro, sou chefe dele. Mas jamais farei isso, muito pelo contrário. Determinei ao Sérgio Moro que, dentro da sua esfera de atribuição, se fosse possível investigar, isso está sendo investigado. Essa é a resposta que dou para todos aqueles que tentam praticar corrupção no Brasil".

Bolsonaro disse ainda ser "mentira" que tenha tratado do assunto com o ministro e acrescentou que mandou a Polícia Federal investigar as suspeitas.

O que diz o PSL

Líder do PSL, deputado Delegado Waldir, fala sobre o mininstro Gustavo Bebianno

Líder do PSL, deputado Delegado Waldir, fala sobre o mininstro Gustavo Bebianno

O líder do PSL na Câmara, deputado Delegado Waldir (PSL-GO), afirmou nesta quarta que é "zero" a chance de o ministro da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno, ser demitido.

O deputado deu a declaração durante uma entrevista coletiva antes de participar de reunião da bancada do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro.

"Zero. Zero de risco. Nós somos um governo correto. Para correr risco, tem que roubar, tem que ser corrompido que nem a esquerda fazia", afirmou Waldir após ser questionado se Bebianno "corre risco" no cargo.

Depois, o deputado concedeu outra entrevista, na qual disse que, se Bebianno perdeu a confiança do presidente, "cabe ao presidente tomar a decisão que ele entender mais legítima". "Só acho que um ministro tem que ser afastado se ele cometeu um crime grave", acrescentou.

Investigação

Moro disse que suspeitas sobre laranjas do PSL serão apuradas

Moro disse que suspeitas sobre laranjas do PSL serão apuradas

A Polícia Federal vai investigar as suspeitas de que o PSL usou recursos públicos para financiar candidaturas de "laranjas".

O ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sérgio Moro, disse nesta quinta: "O senhor presidente Jair Bolsonaro proferiu uma determinação e a determinação está sendo cumprida. Os fatos vão ser apurados e eventuais responsabilidades, após as investigações, vão ser definidas".

Moro não especificou, no entanto, quantos inquéritos foram abertos para investigar o caso nem deu detalhes sobre os trabalhos.

Com relação ao caso da candidata a deputada federal Maria de Lourdes Paixão, a Polícia Civil de Pernambuco investiga denúncias de desvio de dinheiro. A investigação está a cargo do Departamento de Repressão ao Crime Organizado e Corrupção (Draco).

De acordo com a assessoria da Polícia Civil em Pernambuco, o procedimento é chamado de Verificação Preliminar de Investigação (VPI), que acontece antes da abertura do inquérito.

A Polícia Federal (PF) também apura o caso e intimou Lourdes a depor. O depoimento estava marcado para esta quinta, às 11h, mas houve um pedido para adiamento, feito pelo advogado da candidata. Uma nova data ainda não foi marcada.

Maria de Lourdes Paixão deve ser ouvida no que a PF chama de "registro especial", um procedimento anterior à abertura de inquérito, para verificar se há indícios suficientes para justificar uma investigação.

"Ela vem na condição de colaboradora. Não tem ainda nenhum tipo de investigação instaurada contra ela", afirmou o assessor da PF em Pernambuco, Giovani Santoro.

De acordo com ele, a iniciativa da intimação foi da Polícia Federal, em conjunto com a Justiça Eleitoral. "Tomamos conhecimento da veiculação de uma matéria sobre esse caso e achamos oportuno checar os fatos em andamento. Ela vai ser ouvida aqui como colaboradora, para prestar esclarecimentos. Ela não é investigada nesse momento", disse Santoro.

Em nota, a Procuradoria Regional Eleitoral em Pernambuco (PRE-PE) informou que propôs ação de impugnação de contas eleitorais contra Lourdes Paixão. A ação é sigilosa.

PF convoca ex-candidata a deputada federal pelo PSL para depor

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