SÃO PAULO - A cinco dias de seu julgamento em segunda instância no caso do apartamento tríplex no Guarujá , litoral sul de São Paulo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu que aguarda “tranquilo” a decisão da Justiça e permanecerá assim mesmo se condenado. Em um discurso de 51 minutos em um evento que reuniu artistas, intelectuais e militantes da esquerda no centro de São Paulo nesta quinta-feira à noite, o petista afirmou que sua tranquilidade vai “infernizar” a vida dos três desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região ( TRF4 ), em Porto Alegre, que o julgarão na próxima quarta-feira, 24.
- Agora eu ‘tô’ tranquilo. E a minha tranquilidade vai infernizar a vida deles. Eu não sei qual é a decisão. A única coisa que peço é que eles leiam a peça de acusação e da defesa, vejam o que as testemunhas falaram e, com base nisso, me absolvam – disse Lula, condenado a 9 anos e seis meses de prisão pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal em Curitiba. – Mesmo se condenado (em segunda instância) vocês vão ver que a minha tranquilidade vai continuar.
Proibido pela Justiça de depor aos desembargadores do TRF-4, Lula foi aconselhado por seus advogados a acompanhar o seu julgamento em São Paulo. Apesar disso, uma ida do ex-presidente a Porto Alegre pode acontecer na segunda ou terça-feira, véspera do julgamento.
- Eu duvido que os juízes que me julgaram e que vão me julgar estejam com a tranquilidade que eu estou. Eu estou com a tranquilidade dos justos e inocentes. Eu sei que eu não tenho apartamento e eles também sabem – disse o petista, que começou seu discurso às 23h, quatro horas depois do início previsto do evento.
O ex-presidente criticou a atuação da Justiça, o Ministério Público e a Polícia Federal, afirmando que os três tentam sustentar uma “mentira.”
Em outro momento, Lula, sem citar o procurador da República Deltan Dallagnol, de 37 anos, afirmou que o Ministério Público não pode ter um “menino que aprendeu a empinar papagaio no ventilador e jogar bolinha de gude no carpete.”
- Tem que ser alguém com alguma experiência de vida. Não pode ser um que passou em um concurso após três anos de curso financiado pelo pai desembargador para se meter a julgar um homem que vem do chão de fábrica.
Lula disse também que a sua versão “Lulinha paz e amor” chegou ao fim, mas não pegará em armas. Com ironia, disse que deixará isso para a senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT, que no início da semana declarou que para prender o Lula “vai ter que matar gente.”
- Eu sou um homem de bem, de paz. Eu não vou pegar em arma como a Gleisi. Ela vai ser minha general – disse.
Independente do resultado do julgamento, a executiva nacional do PT confirmou para quinta-feira, 25, um evento para confirmar a candidatura de Lula para presidente e traçar o cronograma do plano de governo.
Mobilização da esquerda
Para o comando do PT, o julgamento de Lula antecipou a mobilização da esquerda em ano eleitoral e abriu o diálogo em torno da candidatura do petista. O evento na noite de quinta-feira reuniu políticos e filiados do PCdoB e do PSOL.
- O julgamento de Lula antecipou a mobilização da esquerda e do centro-esquerda antes do processo eleitoral e cria uma frente política em favor de Lula - disse o vice-presidente do PT, Alexandre Padilha. O ex-ministro da Saúde afirmou que a liderança de Lula nas pesquisas facilita o debate para possíveis alianças. - Com 42% dos votos não será difícil conseguir aliados.
Deputado federal pelo PCdoB, Orlando Silva classificou como um "tiro no pé" o julgamento de Lula neste momento.
- A antecipação do julgamento por quem queria politizar o processo judicial foi um tiro no pé. De algum modo, isso criou uma trégua eleitoral entre os partidos, embora neste momento todos tenham candidatos - diz Silva. O PCdoB tem a deputada federal Manuela D'Ávila como pré-candidata à presidência.
Coordenador do Movimentos dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, cotado para ser candidato a presidente pelo PSOL, afirmou que os partidos de esquerda neste momento devem defender o direito de Lula se candidatar, concordando com ele ou não.
- Se eles quiserem levar isso adiante (a impossibilidade de Lula se candidatar), vai ter resistência e terá reação popular – disse.