Política Bolsonaro

Bolsonaro decide tirar Joice Hasselmann da liderança do governo

Crise com PSL acelerou saída; substituto será senador Eduardo Gomes (MDB-TO)
Joice Hasselmann Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados/19-6-2019
Joice Hasselmann Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados/19-6-2019

BRASÍLIA — O presidente Jair Bolsonaro resolveu retirar a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) da liderança do governo no Congresso. Seu substituto no cargo será o senador Eduardo Gomes (MDB-TO). De acordo com integrantes do governo, a crise com o PSL acelerou a saída de Joice, mas a troca já era cogitada há algum tempo. A mudança foi oficializada em despacho do presidente publicado no fim da tarde em edição extra do Diário Oficial da União (DOU), com mensagem ao Congresso informando a indicação de Gomes para exercer a função de líder.

Ouça : Em áudio vazado, líder do PSL chama Bolsonaro de 'vagabundo'

A situação de Joice ficou insustentável no governo na quarta-feira, após a deputada assinar uma lista de apoio à permanência de Delegado Waldir (GO) na liderança do PSL na Câmara. Bolsonaro articulou para que um dos seus filhos, o deputado Eduardo Bolsonaro (SP), assuma o lugar.

Leia: Joice Hasselmann provoca Filipe Martins e discute com deputado do PSL: 'Frouxo é frouxo'

"Ganho minha alforria"

Após ser retirada da liderança do partido, Joice Hasselmann fez uma série de publicações em seu perfil no Twitter. Em uma das postagens disse que ganhou "alforria" e mais tempo para cuidar do seu mandato e de sua candidatura à Prefeitura de São Paulo. Também declarou que continuará apoiando o presidente Jair Bolsonaro, "enquanto ele realmente quiser combater a corrupção, sem jeitinho, sem flexibilizar, sem carteiradas, sem protecionismo a quem quer que seja. Se houver esse compromisso mantido com o Brasil, seguiremos juntos".

Em nota, o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, ressaltou que a escolha dos líderes é uma prerrogativa do presidente da República e disse que uma mensagem oficializando a troca será enviada ao Congresso.

Por volta das 16h, o Palácio do Planalto divulgou uma atualização de agenda na qual foi incluída uma audiência do presidente com o senador e o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, das 11h30 ao meio-dia. Foi nesse encontro que Gomes foi convidado e aceitou substituir Joice.

Senador de primeiro mandato, Eduardo Gomes foi deputado federal por três mandatos, entre 2003 e 2011. Também já foi vereador em Palmas entre 1997 e 2003. O parlamentar ocupa atualmente um dos quatro postos de vice-líder do governo no Senado.

Joice foi escolhida líder do governo em fevereiro, pela indicação dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e tinha bom trânsito com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que no início do governo era responsável pela articulação política. Ela vinha perdendo espaço, no entanto, desde que a a articulação foi repassada para a Secretaria de Governo, em agosto. O ministro Luiz Eduardo Ramos, titular da pasta, deu preferência ao líder do governo na Câmara, deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO).

Bolsonaro também já criticou Joice publicamente por, segundo ele, estar com "um pé em cada canoa", em referência à sua aproximação com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), para uma possível candidatura à prefeitura de São Paulo em 2020.

Entre a noite de quarta-feira e a manhã desta quinta-feira, Joice discutiu no Twitter com o o assessor especial da Presidência Filipe Martins e com o deputado estadual Douglas Garcia (PSL-SP).

"Guerra das Listas"

O racha no PSL ficou evidente na noite de quarta-feira. A deputada Alê Silva (MG) divulgou nesta madrugada uma relação de nomes da bancada do partido que estariam de cada um dos lados da "guerra das listas", na Câmara dos Deputados. São 26 nomes com o presidente da sigla, Luciano Bivar , e outros 27 ao lado do presidente Jair Bolsonaro . Os parlamentares haviam se recusado a revelar a identidade de cada "tropa" à imprensa.

Leia: Líder do PSL na Câmara retira cinco vice-líderes ligados a Bolsonaro

Na mesma noite, circularam pelo Congresso quatro mensagens em áudio, no Whatsapp, em que o presidente Jair Bolsonaro articularia a deposição de Delegado Waldir .

"Olha só, nós somos 26, falta uma assinatura para a gente tirar o líder e botar o outro. Entrando outro, agora, em dezembro tem eleições para o futuro líder a partir do ano que vem", diz Bolsonaro. "Da maneira como está, que poder tem na mão atualmente o presidente, o líder aí? É o poder de indicar pessoas, arranjar cargos no partido, é promessa para fuga eleitoral por causa das eleições. É isso que o cara tem. Mas você sabe que o humor desses caras mudam".

Leia: 'Me gravaram? É uma desonestidade', diz Bolsonaro sobre áudio vazado

Nos áudios, o presidente diz "nunca ter sido favorável a listas, para deixar bem claro, mas no momento você não tem outra alternativa". Em seguida, ele afirma que ligaria para outras pessoas para, "quem sabe, passar com folga até (das 27 assinaturas)".

"Já tinha 25. Consegui o Peternelli agora. Vou ligar para outras pessoas", diz Bolsonaro.