Rio

Macacos não transmitem febre amarela, ressaltam especialistas

Vigilância Sanitária do município já recolheu 26 primatas mortos somente este mês
Macaco foi encontrado morto em condomínio de Campo Grande Foto: Reprodução/Redes Sociais
Macaco foi encontrado morto em condomínio de Campo Grande Foto: Reprodução/Redes Sociais

RIO - Enquanto aumenta a quantidade de casos de febre amarela no estado, macacos — que não são transmissores — viram vítimas não só da doença, mas da população. A Vigilância Sanitária do município do Rio já recolheu 26 primatas mortos somente este mês (em janeiro do ano passado, o órgão removeu apenas sete). Especialistas alertam que a morte dos animais prejudica o sistema de vigilância contra a doença, uma vez que os primatas funcionam como o primeiro alerta da circulação do vírus pela região, além de sobrecarregar equipes responsáveis pelas análises de amostra desses animais.

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— Por que é importante não matar os macacos? Porque são os nossos primeiros alertas de que o vírus circula na região. Quanto menos macacos, mais o mosquito buscará sangue das pessoas. O macaco protege os humanos. O nosso problema é que as áreas de mata são cada vez menores. Os macacos são dispersores de sementes. São fundamentais para que a floresta seja saudável — diz a pesquisadora da Fiocruz Marcia Chame.

Chame acrescenta que, no momento, a população precisa ficar atenta aos sinais de doenças nos animais, como primatas no chão, isolados ou com movimentos lentos. Sinal de hemorragia também é um alerta importante.

— Isso serve para todos os macacos. Normalmente falamos em bugio porque ele é muito sensível. Ele morre mais rápido. A taxa de mortalidade entre os bugios é maior do que nos outros primatas. ( Macaco ) é um bicho super impactado e super importante porque ele é um dos maiores semeadores, jardineiros da floresta. É preciso lembrar que precisamos das florestas, que têm papel fundamental na nossa vida. Asa florestas mantém a água. Sem floresta, a água vai acabar. Precisamos da floresta pra diminuir as temperaturas — alerta Chame.

O pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz Ricardo Lourenço ressalta, também, que há uma sobrecarga do sistema de vigilância. Todos os macacos, mesmo com sinais de espancamento, precisam ser testados, explica:

— É a mesma máquina para fazer teste de humanos e macacos. Quando você começa a matar macacos e fazer exames, sobrecarregada o sistema. Você cria amostras em exagero, diminui a capacidade de trabalho. Desestabiliza o sistema de diagnóstico e vigilância, porque começa a pulverizar macacos onde não há suspeita. O trabalho de campo vai para aquela área. Tem que capturar macaco vivo. As equipes não são milhares. Não pode ter equipe em todos os locais. Desencadeia toda uma atividade local, como a busca de mosquitos vetores, macacos mortos naquela localidade e a busca de macacos vivos.

Os restos mortais dos animais foram enviados à Fiocruz e, até esta segunda-feira, não foi confirmado nenhum caso de febre amarela em macacos na capital do estado. Alguns resultados — como o de um animal recolhido no Cosme Velho e dois encontrados em Campo Grande — ainda não ficaram prontos.

O macaco é um sentinela. Quando a doença é diagnosticada no animal, é possível atuar de forma mais rápida. A febre amarela é transmitida pela picada das fêmeas dos mosquitos Haemagogus, Sabethes ou Aedes aegypti. Os macacos são hospedeiros naturais. Eles adoecem e morrem da doença. Principalmente, os bugios (também conhecidos como barbados ou guaribas) e os sauás (ou guigós). O reservatório da doença é o mosquito. A morte dos macacos é um aviso de que o vírus está presente numa determinada região.

Como é a transmissão

Vírus

Homem

A febre amarela é uma doença infecciosa grave, causada por vírus e transmitida por mosquitos

O mosquito infectado transmite a doença para os seres humanos. Uma pessoa não transmite a doença diretamente para outra

Mosquito

Haemagogus,

Sabethes ou Aedes aegypti

Macacos

Os macacos são hospedeiros do vírus e altamente suscetíveis à doença

Como é a transmissão

Vírus

A febre amarela é uma doença infecciosa grave, causada por vírus e transmitida por mosquitos

Mosquito

Haemagogus,

Sabethes ou Aedes aegypti

Macaco

Os macacos são hospedeiros do vírus e altamente suscetíveis à doença

Homem

O mosquito infectado transmite a doença para os seres humanos. Uma pessoa não transmite a doença diretamente

para outra

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O teste para a febre amarela em primatas pode ser feito pelo PCR, que é um exame capaz de detectar a presença de material genético do vírus da febre amarela na amostra coletada nos animais. No entanto, um resultado conclusivo depende do estado de decomposição dos animais quando foram encontrados. Em casos de estágio avançado, há grande dificuldade de localização do vírus da doença. Quando é possível realizar este exame, os resultados, em geral, ficam prontos em até 72 horas.

Outro possível teste é o imuno-histoquímica, procedimento realizado pelo Instituto Evandro Chagas, uma análise química de verificação da presença do vírus que, por ser considerada mais complexa, leva 15 dias para a conclusão.