Rio

No Morro da Providência, teleférico não funciona há quase um mês

Moradores temem que equipamento vire "elefante branco"
Estação Américo Brum. Moradores do Morro da Providência reclamam do fechamento do teleférico Foto: Divulgação
Estação Américo Brum. Moradores do Morro da Providência reclamam do fechamento do teleférico Foto: Divulgação

RIO - Há quase um mês fechado, a interrupção da circulação do teleférico do Morro da Providência causa transtornos à população local. Moradores da comunidade, além dos bairros Gamboa e Santo Cristo, foram impactados com a suspensão do transporte gratuito. Inaugurado em julho de 2014 como parte do programa de urbanização de favelas Morar Carioca, o teleférico fechou as portas em dezembro do ano passado. Funcionários foram demitidos e moradores precisaram alterar a rotina.

O teleférico abrange 721 metros do morro considerado um dos mais íngremes da cidade. A estação da Praça Américo Brum, no alto da comunidade, liga à Central do Brasil e à Gamboa. Sem essa opção, as alternativas são kombi ou mototáxi, cuja passagem varia entre R$ 2 e R$ 5. A escadaria é a última opção dos moradores.

— Com o teleférico, a passagem era gratuita. Então, toda hora a gente descia e subia para resolver as coisas, trabalhar, comprar o que havia necessidade etc. Agora, a gente tem que se planejar para não sair tanto da comunidade, afinal, a passagem da kombi para descer é R$ 2, para subir é R$ 3 e o mototáxi custa R$ 5 — lamentou Andrea Rodrigues, de 46 anos.

Além de morar na Providência, Andrea era funcionária do teleférico. Segundo ela, tudo aconteceu muito rápido e sem muitas explicações:

— Nosso chefe avisou sobre o fechamento do teleférico, por isso os funcionários estavam entrando em aviso prévio — relembrou, contando que trabalhou até a semana que antecedeu o Natal.

Mãe de quatro filhos, Natalina Abreu, de 36 anos, que trabalhava como encarregada de serviços gerais disse que foi surpreendida com a demissão:

— Fomos pegos de surpresa. Não esperávamos por isso. O supervisor fez uma reunião rápida e só disse que estávamos sendo dispensados — contou a trabalhadora que ainda está desempregada, e economizando o pagamento da rescisão.


PREJUÍZO PARA MORADORES

Embarque fechado. Teleférico não funciona há quase um mês Foto: Divulgação
Embarque fechado. Teleférico não funciona há quase um mês Foto: Divulgação

Quem vive nos bairros da Gamboa e Santo Cristo também sente na pele as dificuldades de transitar pela região central sem o teleférico. A caminhada mais curta que eles fazem agora é até a estação do VLT próximo a Cidade do Samba: de 10 a 15 minutos para quem sai da Gamboa. Outra opção, é atravessar a pé o Túnel João Ricardo, que faz ligação com a Central do Brasil.

Na terça-feira, por exemplo, Eduardo de Souza, de 51 anos, que mora na Gamboa teve que ir à Praça Tiradentes. Foram 45 minutos de caminhada, debaixo de um sol escaldante de verão, cuja sensação térmica ultrapassou os 40 graus. Ele garante que, na falta do teleférico da Providência, o prejuízo para os moradores é enorme.

— Nós perdemos 70% das linhas de ônibus no bairro devido a revitalização do Porto e implantação do VLT. O teleférico é a opção de alívio para quem mora aqui. Com ele parado, a pessoa não tem como ir para a zona sul. Ou anda até a Cidade do Samba para pegar o VLT ou atravessa o túnel João Ricardo, que talvez seja o pior em conservação na cidade. Em último caso chama um táxi ou uber, mas e o orçamento? — reclamou.

ABAIXO-ASSINADO

A Associação de Moradores do Morro da Providência iniciou uma mobilização para buscar respostas da prefeitura. A presidente da associação, Gisele Dias, já criou um abaixo-assinado e pede a reabertura imediata do equipamento. Ela e os moradores temem que o teleférico seja esquecido e se torne um "elefante branco"

— Até então, o prefeito não procurou a associação nem os órgãos que administraram o teleférico para negociar sobre a reabertura. Um equipamento daquele que gastou milhões de reais, sem uso, sem serventia. Vai ficar ali abandonado? A gente precisa desse teleférico de volta — ressalta Gisele.

Não é a primeira vez que a região sofre com a paralisação do teleférico. No ano passado, o sistema ficou três meses parado para manutenção. A obra custou R$ 75 milhões. O equipamento é administrado pela Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp), que esclareceu apenas que "a operação do Teleférico foi suspensa para manutenção periódica do equipamento em 17 de dezembro. O contrato com a Prefeitura do Rio terminou em 31 de dezembro de 2016 e está sob análise".