Rio

Secretário quer contabilizar mortes em confrontos como legítima defesa dos agentes de segurança

Número de homicídios de suspeitos em ações cresceu 38% durante intervenção
Operação das forças de segurança realizada no último dia 20: cinco suspeitos foram mortos Foto: Márcia Foletto 20-08-2018 / Agência O Globo
Operação das forças de segurança realizada no último dia 20: cinco suspeitos foram mortos Foto: Márcia Foletto 20-08-2018 / Agência O Globo

RIO — O índice de "homicídios em decorrência de intervenção policial" (o antigo auto de resistência) traduz em números a política de segurança pública desenhada desde o início da intervenção federal no Rio, em fevereiro.  Entre março e julho, houve um aumento de 38,26% nos casos, em comparação com o mesmo período do ano passado, com um total de 636 pessoas mortas por agentes do estado. Considerando apenas julho, os registros mais do que dobraram, passando de 63 para 129 (104,8%). Diante deste cenário, o secretário de Segurança, general Richard Nunes, partiu em defesa da tropa e criou um grupo de trabalho para estudar uma modificação do atual modelo de contabilização destas mortes, que passariam a constar como legítima defesa do policial.

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— Um policial está agindo numa abordagem e é confrontado com disparos contra ele e sua guarnição e, nesta troca de tiros, ele neutraliza o criminoso, isto é homicídio por intervenção policial ou é legítima defesa? — questiona Nunes, que usa o termo neutralizar como sinônimo de matar.

Para o secretário, o aumento dos casos nos últimos meses não é culpa de uma política de confronto, mas da atitude de criminosos diante do combate à criminalidade:

—  Nós passamos tanto tempo ao deus-dará, sem ter uma ação efetiva da polícia na mancha criminal, que a criminalidade adquiriu no Rio de Janeiro uma liberdade de ação para atuar. Para que a gente agora recoloque a segurança nos eixos é quase um processo de aprendizagem, mas isso vai se estabilizar. Por que estamos dizendo a eles que não se trata mais de uma ação pontual, mas sistemática. É um processo que não atinge só o comportamento do criminoso, mas do próprio policial, que passa a acreditar naquilo.

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O tema é polêmico. No último dia 16, o relatório apresentado pelo Laboratório da Intervenção, da Universidade Candido Mendes,  bateu forte na tecla do aumento de mortes em confrontos e de homicídios dolosos. Nele, a pesquisadora Silvia Ramos criticou o modelo de segurança pública baseado em uma concepção militar, que, segundo ela, fomenta ainda mais violência.

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