Por Guilherme Balza, GloboNews — São Paulo


Bairros do centro de São Paulo têm maior taxa de mortalidade pela Covid-19

Bairros do centro de São Paulo têm maior taxa de mortalidade pela Covid-19

Dos dez distritos paulistanos com a maior taxa de mortalidade pela doença para 100 mil habitantes, oito são bairros centrais, que concentram a imensa maioria de cortiços, pensões e ocupações verticais da cidade.

São eles: Pari (1º), Belém (2º), Brás (3º), Santa Cecília (4º), República (5º), Cambuci (7º), Barra Funda (8º) e Mooca (10º). Bom Retiro (12º), Consolação (13º), Sé (17º) e Liberdade (19º). Com características semelhantes, estes bairros também possuem altos índices de mortalidade. Todos registram taxas superiores a 80 mortes para 100 mil habitantes.

No Pari, já foram registradas 19 mortes por Covid até o dia 20 de maio - a última atualização – o que dá ao bairro uma taxa de 118 mortos para 100 mil habitantes, o dobro da média da cidade de São Paulo (59 mortes para 100 mil habitantes).

Para efeito de comparação, a taxa de homicídios em 2019 na cidade de São Paulo, segundo a Secretaria de Segurança Pública, é de menos de seis mortes por 100 mil habitantes. Ou seja, no Pari, a taxa de mortes por Covid é 20 vezes maior do que a taxa de assassinatos na capital.

Quase a totalidade dos 1.479 cortiços identificados pela prefeitura estão localizados nesses distritos.  Dois terços dos 24 mil moradores em situação de rua contabilizados no último censo da prefeitura, de dezembro de 2019, vivem nas áreas das subprefeituras da Sé e da Mooca, que abarcam todos esses bairros, com exceção da Barra Funda, que pertence à Subprefeitura da Lapa.

  • SP: Mortes por 100 mil habitantes
  • Pari - 117,6
  • Belém - 113,0
  • Brás - 105,3
  • Santa Cecília - 102,0
  • República - 95,7
  • Casa Verde - 95,1
  • Cambuci - 93,9
  • Barra Funda - 92,4
  • Campo Belo - 89,5
  • Mooca - 88,7
  • Carrão - 88,2
  • Bom Retiro - 87,4
  • Consolação - 86,6
  • Artur Alvim - 85,8
  • Limão - 84,4
  • Água Rasa - 84,0
  • Sé - 83,4
  • Tatuapé - 83,4
  • Liberdade - 82,9

O urbanista Kazuo Nakano, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), afirma que as características dos cortiços contribuem para a disseminação do vírus. “Os cortiços são de fato um local bastante vulnerável ao contágio porque são pessoas morando em cômodos alugados e muito adensados, com superlotação, e que também são áreas insalubres, com pouca iluminação, ventilação e pouco espaço para fazer isolamento. Os cortiços têm sido pouco falados nessa discussão sobre o impacto da Covid-19. São esses fatores que implicam nessas altas taxas nesses distritos.

O coordenador da ULCM (Unificação das Lutas de Cortiços e Moradia), Sidnei Pita, diz que os moradores não tem dinheiro para comparar produtos básicos de higiene.

"Tenho notado é que muitas pessoas estão consencientes da pandemia, mas que elas não têm o álcool gel, a máscara, o sabonete e o sabão para higienizar. Nas entregas das nossas cestas básicas a preocupação foi também alimentação mas uma caixa separada de insumos de higiene. Vejo uma situação muito preocupante porque primeiro a gente não tem teste nenhum, né? A gente sabe que ali os riscos são iminentes de contaminação."

“Centros” no plural

Quando chegou ao Brasil, em fevereiro, o novo coronavírus tinha o estigma de “doença de rico”, porque os primeiros infectados contraíram a doença no exterior, se trataram em hospitais de alto padrão e residiam em áreas nobres de São Paulo. Bastaram algumas semanas para esse mito se desfazer, já que a doença rapidamente se espalhou pela periferia.

Em São Paulo, a prefeitura divulga semanalmente a quantidade de mortos por distrito, e são bairros periféricos, como Brasilândia (Zona Norte) e Sapopemba (Zona Leste), que encabeçam a lista a cada divulgação, sugerindo maior presença do vírus nos extremos da cidade.

Mapa da Secretaria Municipal de Saúde com as mortes em virtude da Covid-19, divididas por bairros da cidade de São Paulo até 20 de maio. — Foto: Divulgação/PMSP

O problema é que a gestão do prefeito Bruno Covas tem divulgado apenas os números absolutos de mortes por bairro, e não os proporcionais, o que gera uma distorção. Isso acontece porque os distritos periféricos são bem mais populosos do que os centrais. Quando observada a taxa de mortalidade, a Brasilândia deixa o primeiro posto e cai para o 41º lugar. Sapopemba despenca do 2º para o 57º lugar – a cidade possui 96 distritos.

Kazuo Nakano explica que, embora estejam situados geograficamente no centro da cidade, os bairros com as maiores taxas de mortes por Covid compartilham várias características das áreas periféricas, como muitos habitantes de baixa renda e alto índice de informalidade.

“Assim como falamos em ‘periferias’, precisamos falar também de ‘centros’ no plural. Porque os centros têm uma diversidade de subespaços e condições de vida, condições urbanas, habitacionais e socioeconômicas. Quando a gente fala no centro antigo, que são os bairros mais antigos de São Paulo – Brás, Pari, Mooca, Bom Retiro, Sé, República – essas áreas têm situações ali comparáveis à periferia em termos de precariedade habitacional, concentração de população de baixa renda. Essas pessoas estão em condições tão precárias quanto às que vivem em favelas e em loteamentos populares na periferia.”

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