“Nasci em Londres, fui morar no Sul, minha mãe é carioca, meu pai pernambucano. Estou no Rio há um ano. Sou do Múrmura e do coletivo Shoot the Shit, que nasceu de uma insatisfação profissional. Sou um ex-publicitário que passou a trabalhar com projetos de impacto social e urbano”
Conte algo que não sei.
Existe uma nova maneira de melhorar nossa cidade, através de microrrevoluções urbanas. Poucas pessoas têm o hábito de pensar a função delas na cidade. Criamos esse termo como uma característica de projeto simples, viável, replicável e barato. Desperta nas pessoas um senso de pertencimento àquele local. No momento em que a gente consegue mexer num local, a gente se sente dono dele.
O brasileiro tem uma visão distorcida do espaço público?
As pessoas em geral confundem ninguém ser dono com todo mundo ser dono. Tudo que é público é de todo mundo. Com a internet, é possível disseminar mais informações sobre coisas simples, possíveis de fazer em casa para melhorar não só a cidade, o que parece ser muito distante, mas melhorar também a sua rua. De pouquinho em pouquinho.
Que microrrevoluções interessam você?
Para falar disso eu trago o exemplo do Múrmura, um projeto que trabalha esse conceito. É muito mais fácil cada pessoa cuidar um pouco da cidade do que uma organização centralizar todo o dever de cuidar. A gente acredita que o mundo precisa de mais pessoas que façam, não mais pessoas que fiquem dando ideias. Melhor do que mil ideias são quinze ações.
Que tipo de intervenções já fizeram?
A mais famosa é a “Que ônibus passa aqui?”, um adesivo colaborativo que colocamos nos pontos de ônibus de Porto Alegre, onde as linhas que passam por cada ponto foram escritas pelas pessoas. O máximo que já gastamos num projeto foi R$ 200.
O que é uma cidade inteligente para você?
Uma cidade inteligente usa a informação que a população gera e consegue, com baixo investimento, solucionar os problemas. Não necessariamente é uma cidade com metrô, com BRT, com prédios sustentáveis. Eu prefiro falar em cidades criativas, que oferecem ao cidadão o acesso à surpresa, a se empolgar na cidade. Para mim, uma cidade criativa convida o cidadão a estar na rua, não no shopping.
Em que modelo de cidade você sonha morar?
Confesso que estou bastante deslumbrado com o Rio como morador, mas me dói dizer que me sinto muito afastado de várias zonas da cidade. Talvez ela não seja a ideal porque sei que, enquanto me locomovo bem, tem gente que passa mais de uma hora no metrô para ir trabalhar.
Qual a cidade ideal?
Tecnologicamente, uma cidade de que gosto muito é Londres. Antropologicamente, é o Rio. Geometricamente, gosto mesmo é de Brasília.
Tem uma pitada de utopia nas suas ideias? Tem que ter?
Com certeza, a utopia serve para a gente caminhar. Tem esse lado romântico, ingênuo, pode ser que os grandes empresários achem que estamos de brincadeira, mas não é o que os fatos demonstram. Esse olhar utópico é o que dá força, porque precisamos de mais gente que faça, e não de gente que fique reclamando.
Ideias como a do bloco que invadiu o Santos Dumont são formas de o carioca se apropriar da cidade?
Isso é lindo. Fico imaginando o que eu pensaria se chegasse de viagem naquele momento, que o Rio de Janeiro é a cidade mais incrível do mundo. Esse é o sentimento que a gente precisa ter mais, de que os espaços são nossos.