Por Natan Lira, G1 Mogi das Cruzes e Suzano


Soldado Eduardo Cardoso Andrade usou o distintivo para passar segurança aos alunos da Escola Professor Raul Brasil. — Foto: Eduardo Cardoso Andrade/Arquivo Pessoal

Uma semana após o massacre da Escola Estadual Professor Raul Brasil, o policial militar Eduardo Andrade Santos, de 34 anos, diz ainda estar em alerta. Em licença médica do cargo, o soldado é vizinho da unidade de ensino e chegou ao prédio ainda durante o atentado. Santos assumiu o risco de entrar na escola sem uniforme, podendo ser confundido com um dos assassinos pelos colegas que ainda chegariam.

"Todas as ocorrências de que eu participei até hoje tiveram um fim. Eu volto para casa e elas acabaram. Essa ocorrência nunca vai acabar", afirma.

Santos estava em casa no dia do ataque, em Suzano, porque está de licença médica desde o mês de janeiro, quando a sua arma disparou sozinha e atingiu a perna. Até poucos dias antes do massacre, ele ainda estava usando muletas.

"Eu escutei os tiros, mas não sabia de onde eles vinham. O pessoal do prédio que fica aqui perto gritava que era da escola. Entrei em casa, peguei a arma e o distintivo e corri para lá. De dentro da escola estavam saindo crianças machucadas, algumas com cortes, outras feridas a bala. Elas só me diziam que eram dois assassinos", relembra.

A maior parte dos alunos pulava o muro ou saía pelo portão da casa do caseiro. O policial conta que deixou o local como rota de saída para os alunos e rodeou a escola gritando e simulando que ela estava cercada e que era para os criminosos pararem de atirar.

O agente acessou o prédio pelo portão principal, o mesmo que os criminosos usaram para entrar.

Policial utilizou a entrada principal da Escola Estadual Professor Raul Brasil para acessar o prédio. — Foto: Mauricio Sumiya/Futura Press via AP

"Eu ia mostrando o meu distintivo aos alunos e dizendo para eles saírem da escola. Foi quando o atirador apareceu. Eu gritei para ele parar, mas ele atirou na minha direção e não acertou. Pensei em revidar, mas ainda tinha muito aluno correndo", diz.

O assassino, então, correu para trás de uma parede, segundo o policial. Logo chegaram as equipes da Força Tática. Graças ao distintivo que trazia no peito, Santos diz que foi logo identificado.

"Eles confirmaram a minha identidade e pediram para eu ficar na contenção dos indivíduos no canto da parede, até que eles foram e fiquei para escoar os alunos da escola por uma área segura", conta.

Assassinos mataram oito pessoas — Foto: Infografia: Juliane Souza/Editoria de Arte G1

Em busca de explicações

Desde que foi vítima do disparo acidental de sua arma, o sargento diz que ainda se pergunta sobre o motivo disso ter acontecido com ele. Mas, depois do ataque, a convalescência ganhou um novo sentido: foi ela que o ajudou a salvar vidas.

Além disso, Santos conta que apesar de ter estudado sobre tirocínio durante a formação, para desenvolver a capacidade de observar com cuidado as situações e tomar iniciativas, sentiu ter sido guiado por Deus a deixar a casa e entrar na escola.

"Eu fui sem pensar que poderia ser vítima dos criminosos, porque estava sem ninguém para me dar cobertura, e até mesmo ter recebido um tiro de algum dos meus amigos de farda, porque estava armado e sem farda lá dentro. Às vezes fico pensativo, que eu poderia ter ajudado para que não houvesse vítima alguma, mas quando eu lembro que só dos banheiros saíram mais de 40 alunos, e que se não fosse por isso, eles iriam morrer queimados pelos coquetéis molotov", conta.

O ataque

Os assassinos de 17 e 25 anos mataram sete pessoas na Escola Estadual Raul Brasil, na quarta-feira (13). Um deles baleou e matou o próprio tio, em uma loja de automóveis.

A investigação aponta que, depois que foram encurralados pela polícia, um dos assassinos matou o comparsa e, em seguida, se suicidou.

Ataque em escola de Suzano (atualizada dia 15/3) — Foto: Juliane Monteiro/G1

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