Exposição na Ufes reúne partes reais do corpo humano e associa biologia à matemática
A forma como a matemática está ligada à estética e ao funcionamento de membros, órgãos e sistemas é o fio condutor da exposição “A Métrica do Corpo Humano”, que inaugura o Museu de Ciências da Vida no campus de Goiabeiras da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Como destaque, a mostra dá ao visitante a oportunidade de ver de perto partes reais do corpo humano após passarem por procedimento em laboratório. A visitação acontece de terças a sextas-feiras.
A exposição conta com 250 peças, incluindo esqueletos, crânios, fósseis, além de partes do corpo humano reais. Estas últimas, para que sejam expostas, passam por um procedimento chamado plastinação.
A técnica, explica o professor Athelson Stefanon Bittencourt, que é coordenador do museu e curador da exposição, é diferente da taxidermia - conhecida como empalhamento - pois preserva toda a estrutura interna do corpo.
“A técnica de plastinação é uma técnica inovadora no Brasil. Toda a água do corpo é substituída por um plástico, e dessa forma o material nunca mais se decompõe. Você preserva o corpo na sua íntegra, diferente da taxidermia, em que você remove a pele do animal, descarta a carcaça e somente a pele é preservada, seca e preenchida com algum material”, explicou o professor Athelson Stefanon Bittencourt, que é coordenador do museu e curador da exposição.
Mãos são expostas em mostra de museu na Ufes — Foto: Naiara Arpini/ G1 ES
“É especial essa exposição. Eu tenho que recomendar. Isso aqui está impressionante. Estou surpresa com tanta maravilha que está aqui sobre a gente, que a gente não sabe”, disse o mecânico aposentado Sérgio Sales, que visitou a mostra.
Através do contato com esse acervo, o visitante entende como o corpo humano é formado e funciona mediante padrões e proporções numéricas. Totens espalhados pelo espaço desafiam o visitante a calcular, com base em seu peso e altura, por exemplo, a extensão de pele do seu próprio corpo.
“Essa exposição é multidisciplinar. Não é só de biologia. O título dela remete a outra coisa, à matemática.
A matemática está em tudo. E está no nosso corpo. Falamos sobre batimentos do coração, pressão arterial, volume de ar que nosso pulmão usa, tudo usando a matemática”, justificou Athelson.
Já a evolução humana é contada através de réplicas realísticas de fósseis de hominídeos e animais pré-históricos. De um esqueleto para outro, é possível notar as diferenças que possibilitaram à espécie a bipedia, que é a locomoção usando apenas os membros inferiores.
“Temos um quadro enorme com crânios de sete milhões de anos atrás até agora, mostrando as ramificações até o homem moderno. Tem uma sequência de esqueletos inteiros de hominídeos, mostrando a evolução do corpo”, resumiu Athelson.
Crânio humano é exposto em quadro que mostra a evolução humana em museu da Ufes — Foto: Naiara Arpini/ G1 ES
“Aqui nós temos um reunião de tudo aquilo que faz ser o que somos, que é o desenvolvimento do nossos conhecimento, da natureza e nosso controle sobre ela também. Desde a física, a biologia, a antropologia. É fundamental a gente entender mais vendo na prática aquilo que cientistas ao longo de séculos conseguiram desenvolver com sua observação direta na natureza”, disse o doutorando em química Cristiano Caliman.
Museu
O MCV, que é um programa de extensão da Ufes, é coordenado pelo professor Athelson Stefanon Bittencourt, do Programa de Pós-Graduação em Bioquímica e Farmacologia do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Ufes.
O acesso ao museu é possível por meio do corredor entre o Teatro Universitário e o Cine Metrópolis, com a disponibilidade de escada e elevador.
Como ação de inclusão, as pessoas portadoras de deficiência visual poderão tocar nas peças. A equipe do professor Athelson Bittencourt é composta por 10 professores, um técnico, 10 estudantes de diferentes cursos, além de 48 que trabalharão na recepção aos visitantes.
O MCV da Ufes tem o patrocínio o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação.
Pele humana é exposta ao lado de esqueleto no museu, em Vitória — Foto: Naiara Arpini/ G1 ES
Plastinação
A técnica de plastinação foi trazida pelo coordenador do laboratório, o professor Athelson Stefanon Bittencourt, pós-doutor em Ciências Fisiológicas, depois de uma especialização nos Estados Unidos. A primeira plastinação em Vitória foi feita em 2014, ano em que o laboratório da Ufes foi implantado.
Esse projeto inédito, que teve início em 2016, envolve cerca de 20 pessoas no laboratório da Ufes, que é o único no Brasil que faz as três variações da técnica e que trabalha com peças de médio porte.
O trabalho é demorado e feito em várias etapas. Os animais são conservados com formol e podem passar por dissecção ou não. Após a preparação inicial, eles recebem o plástico.
Os animais são submersos no silicone numa câmara de vácuo para passarem pelo processo de impregnação forçada, quando a substância penetra no corpo.
“A bomba de vácuo fica ligada naquela câmara, e o vácuo faz com que a acetona que está no corpo do animal vire vapor. Quando ela vira vapor, é extraída para a atmosfera interna da câmara. Nesse momento, quando a acetona sai do tecido, ela cria um micro-vácuo, que acaba atraindo para dentro o silicone que estava em volta do corpo do animal”, explicou o professor.
O epóxi e o poliéster são utilizados em uma proposta mais detalhista, para lâminas do corpo. Nesse caso, é possível enxergar diversas estruturas do corpo, como fibras musculares e áreas do cérebro do animal.
Quando saem da câmara de vácuo, o silicone fica escorrendo por cerca de 24h. Os animais que receberam o plástico vão para outro setor do laboratório, onde as peças são montadas e finalizadas.
Serviço
Exposição “A métrica do corpo humano”
Período: De 13 de março a 31 de julho
Local: MCV – Campus de Goiabeiras
Horário de funcionamento: De terças-feiras às sextas-feiras – das 8h30 às 12h, e das 14h às 17h30 – Sábados - das 8h30 às 12h30
Mais informações: www.mcv.ufes.br