Política Brasília

Escolha de Ernesto Araújo como chanceler é estarrecedora, diz ONG

Segundo o Observatório do Clima, Brasil corre o risco de se tornar um anão diplomático e um pária global
BRASIL - Brasília - BSB - PA - 14/11/2018 - PA - O presidente eleito, Jair Bolsonaro, e o futuro ministro das Relações Exteriores, Nelson Ernesto Araújo Foto: Jorge William / Agência O Globo
BRASIL - Brasília - BSB - PA - 14/11/2018 - PA - O presidente eleito, Jair Bolsonaro, e o futuro ministro das Relações Exteriores, Nelson Ernesto Araújo Foto: Jorge William / Agência O Globo

BRASÍLIA - A organização não-governamental Observatório do Clima divulgou uma nota, nesta quinta-feira, chamando de "estarrecedora" a escolha do embaixador Ernesto Araújo como ministro das Relações Exteriores . Segundo a entidade, as posições assumidas pelo diplomata em artigos e outras publicações de sua autoria podem fazer do Brasil um" anão diplomático e um pária global".

"É estarrecedora (a escolha do embaixador). Sua nomeação contraria uma longa tradição da política externa brasileira e traz o risco de tornar o Brasil um anão diplomático e um pária global. O radicalismo ideológico manifesto nos escritos do futuro ministro cria, ainda, uma ameaça para o planeta, ao negar a mudança do clima e, presumivelmente, os esforços internacionais para combatê-la", diz um trecho da nota.

O Observatório do Clima destacou que Araújo tem expressado posições fortes contra a globalização e contra o multilateralismo. Em nome dessa ideologia, e "contrariando as evidências mais rasteiras", chama em seu blog  "Metapolítica 17" o combate à mudança climática de perversão da esquerda e invoca uma teoria conspiratória segundo a qual existe um projeto “globalista” de transferir o poder do Ocidente para a China. Parte desse grande complô seria o “climatismo”, que é como ele chama o esforço mundial para reduzir emissões de carbono.

"Tal pensamento, caso prevaleça sobre o ofício do chanceler, será prejudicial ao Itamaraty e ao papel do Brasil no mundo. A diplomacia brasileira tem na defesa do multilateralismo um de seus pilares e, nos últimos 46 anos, vem se valendo do multilateralismo para projetar o Brasil na cena internacional em um dos poucos espaços nos quais o país é líder nato: a agenda ambiental".

Na nota, a ONG lembra que o Brasil foi protagonista na Conferência de Estocolmo, em 1972; berço das grandes convenções de ambiente e desenvolvimento sustentável da ONU e da Agenda 21, em 1992; liderou na defesa dos países em desenvolvimento no Protocolo de Kyoto, em 1997; foi o parteiro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, em 2012; e negociador fundamental do Acordo de Paris, em 2015. Agora, está escalado para sediar a próxima conferência do clima, a COP25, em 2019.

"Abdicar essa liderança em nome de uma ideologia de tons paranoicos contrariaria diretamente o interesse nacional, que o presidente eleito, Jair Bolsonaro, prometeu colocar “acima de tudo” em sua campanha", diz o comunicado.

A nota alerta que, sendo o Brasil o sétimo maior emissor de gases efeito estufa do planeta, também poria em risco enormes porções da população global – inclusive no Ocidente, como demonstram os recentes incêndios florestais na Califórnia. De acordo com o Observatório, isso ocorre em um momento em que cientistas afirmam que o mundo tem apenas 12 anos para prevenir os piores efeitos da crise do clima."

"Resta esperar que o cargo e suas responsabilidades tornem o chanceler Ernesto Araújo muito diferente do blogueiro Ernesto Araújo", conclui o Observatório do Clima.