Grão Sagrado

Por Lucas Soares — Machado, MG


Um dos maiores problemas enfrentados por pequenos produtores de café é o alto custo das máquinas agrícolas. Por vezes com pequenas lavouras, até mesmo familiares, o cafeicultor não tem os recursos disponíveis para o investimento. Buscando uma alternativa, pesquisadores do Instituto Federal do Sul de Minas em Machado (MG) têm testado diferentes tecnologias de baixo custo para a realização de etapas do tratamento de café.

Duas dessas tecnologias são o secador estático - desenvolvido inicialmente para secar soja, milho e folhas de fumo, mas adaptado para o café -, que tenta cortar a necessidade de que o grão seque no terreiro; e um descascador que não precisa de água, para evitar desperdícios e gerar economia no processo. Veja mais detalhes.

Secador estático

Desde que a cultura do café foi introduzida no Brasil, após a colheita, os grãos são secados em terreiros antes de seguir para o processo de armazenamento. Mais recentemente, foram criados secadores rotativos, onde o café gira em uma câmara de secagem após ser pré-secado no terreiro.

Há 2 anos, o Instituto Federal faz testes em uma máquina desenvolvida por agricultores familiares de Santa Catarina, que pretende quebrar paradigmas em termos de secagem de café. Segundo o professor de cafeicultura Ivan Franco Caixeta, com essa nova máquina, não há necessidade que o café passe pelo terreiro.

Novo secador estático de café é uma das máquinas em teste no campus de Machado do IF — Foto: Divulgação / IF Sul de Minas Machado

"Este equipamento foi desenvolvido para secar soja, milho e folhas de fumo, mas foi adaptado para o café e está sendo um sucesso. Nele você não precisa de terreiro, de mão de obra, você seca o seu café sozinho. Ele não oferece risco para o trabalhador se acidentar, não tem risco de pegar fogo, porque nele acontece um processo em que o calor está em temperaturas menores e muito bem controlado. O produtor liga para secar e vai embora trabalhar em outros serviços", diz o professor.

Segundo o professor, o equipamento já está sendo comercializado há quatro anos, mas havia uma certa restrição na aceitação dos produtores, pois eles temiam que a máquina pudesse prejudicar na qualidade da bebida, o que vem sendo desmentido com os testes.

"Ele não prejudica a bebida, que era o grande medo dos pequenos e grandes produtores. Os grandes ainda têm resistência de colocar, mas estão mudando esses conceitos. Ele não atrapalha a bebida, reduz muito a mão de obra, reduz a manutenção. Economiza cerca de 20% de energia elétrica e quase 80% de mão de obra", diz o professor.

Professor diz que testes mostraram que equipamento traz benefícios ao pequeno produtor — Foto: Lucas Soares

Com os resultados, o objetivo agora é disseminar o conhecimento para que novos produtores possam adquirir o produto e aumentar a eficiência em suas propriedades. O modelo mais barato sai em torno de R$ 28 mil e o mais caro, que é todo automatizado, fica em torno de R$ 75 mil.

Descascador que não precisa de água

Um outro equipamento que foi desenvolvido no campus de Machado do Instituto Federal do Sul de Minas e que já é comercializado através de uma parceria público-privada é uma máquina descascadora de café, que promete não usar água durante o processo.

"Esse equipamento faz o descacamento do café para a produção do café cereja descascado ou posteriormente o café despolpado. O objetivo dela é uma tecnologia que possa ser aplicada junto ao pequeno produtor para agregação de valor do café, já que o café cereja descascado tem um ágil no mercado. Essa tecnologia já existe faz anos para o grande produtor com o uso de água e o pequeno produtor dificilmente tem acesso a essa tecnologia porque o tratamento da água tem um custo alto", explica o professor e diretor do campus do IF Sul de Minas em Machado, Carlos Henrique Rodrigues Reinato.

Máquina que não utiliza água no processo de descascamento do café é uma das novidades em tecnologia — Foto: Divulgação / IF Sul de Minas Machado

Hoje, os modelos existentes no mercado chegam a utilizar 2 litros de água para cada litro de café despolpado e depois de utilizada, essa água ainda precisa passar por um tratamento para que seja reaproveitada.

"Hoje essa tecnologia o mercado exclui para o pequeno produtor. Daí surgiu a necessidade de você ter um equipamento que não fosse apenas viável, mas que fosse ambientalmente correto e que trouxesse um benefício no descascamento do café, sem a produção de efluentes. Todos os equipamentos que existem no mercado e que prometiam fazer esse descascamento tinham uma utilização mínima de água, que gerava um efluente totalmente poluente, que é o efluente da casca do café juntamente com toda a matéria da mucilagem", explica o professor.

Segundo o professor, todos os testes já foram feitos, tanto a nível de custo, eficiência e qualidade do café produzido em comparação com outras máquinas e equipamentos que utilizam água. A nova máquina tem um preço que varia de R$ 25 mil a R$ 35 mil, dependendo do tamanho, um custo que é reduzido se comparado a outros equipamentos do tipo.

"Como estamos inseridos em uma das maiores regiões produtoras de café e com característica de pequenos produtores, nosso trabalho é sempre voltado para a agricultura familiar, que hoje é a que mais demanda tecnologia. Para o grande produtor, já existem muitas tecnologias disponíveis no mercado. Talvez o gargalo hoje em termos de tecnologia, principalmente no pós-colheita, são os pequenos produtores", conclui o professor.

Novas máquinas desenvolvidas no IF Sul de Minas querem baixar custo para o produtor na lavoura — Foto: Divulgação / IF Sul de Minas

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