Por Luiza Garonce, G1 DF


Integrantes do movimento negro Grito Forte dos Palmares fazem ato em frente à Fundação Cultural Palmares, em Brasília, contra nomeação de Sérgio Nascimento de Camargo para a presidência da instituição — Foto: Luiza Garonce/G1

Integrantes do movimento negro Grito Forte dos Palmares – formado por jornalistas, servidores públicos, artistas, militares, líderes religiosos e autônomos – fizeram um ato, nesta quinta-feira (5), em frente à Fundação Cultural Palmares, em Brasília. Eles pediram a saída definitiva de Sérgio Nascimento de Camargo.

O grupo também comemorou a suspensão da nomeação do jornalista para a presidência da instituição. Nesta quarta (4), o juiz Emanuel José Matias Guerra, da Justiça Federal do Ceará, aceitou um pedido de ação popular e determinou que Camargo fosse afastado.

De acordo com o magistrado, há "diversas publicações" feitas por Sérgio Nascimento de Camargo que têm o "condão de ofender justamente o público que deve ser protegido pela Fundação Palmares".

Durante o ato, as portas da Fundação Palmares ficaram fechadas e foram controladas por seguranças. Carregando cartazes, o grupo fez um cortejo pelo Setor Comercial Sul, na área central de Brasília.

Integrantes do movimento negro Grito Forte dos Palmares fazem ato em frente à Fundação Cultural Palmares, em Brasília, contra nomeação de Sérgio Nascimento de Camargo para a presidência da instituição — Foto: Luiza Garonce/G1

Com frases como "Quem nega Zumbi, não preside Palmares", em referência às declarações virtuais de Camargo contra a luta da população negra brasileira, os manifestantes protestaram.

O jornalista Sérgio Camargo afirmou nas redes sociais – entre outras coisas – que Zumbi dos Palmares é um "falso herói" e que racismo, no Brasil, é "nutella".

"Racismo real existe nos Estados Unidos. A negrada daqui reclama porque é imbecil e desinformada pela esquerda”, disse o presidente da Fundação Palmares na internet.

Declaração do novo presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Nascimento de Camargo, publicada em rede social — Foto: Reprodução

Sobre o Dia da Consciência Negra, ele escreveu que o "feriado precisa ser abolido nacionalmente por decreto presidencial".

'Pequenas vitórias'

Responsável pelo ato desta quarta-feira, o cantor e compositor Milsinho, disse ao G1 que o encontro foi organizado para comemorar a "pequena conquista" e reforçar a atuação do movimento negro. "Seria um ato de repúdio, mas se tornou uma celebração, porque, no meio do caminho, houve a decisão judicial que afastou o Sérgio Nascimento", apontou.

“O movimento negro está vivo e não será extinto, como este senhor chegou a dizer.”

O cantor e compositor Milsinho, à frente do movimento negro Grito Forte dos Palmares, durante ato em frente à Fundação Cultural Palmares, em Brasília, contra nomeação de Sérgio Nascimento de Camargo para a presidência da instituição — Foto: Luiza Garonce/G1

O representante da Coordenação Nacional dos Quilombolas (Conaq) Arilson Ventura, apresentou dados sobre reconhecimento de terras. "Nós temos 6 mil comunidades quilombolas no Brasil, destas, a Fundação Palmares reconheceu pelo menos 3,5 mil", afirmou.

"É o principal órgão que faz a defesa dos quilombos no Brasil e isso estava ameaçado com Sérgio Nascimento na presidência."

A professora e liderança da entidade Candaces, que atua na promoção da igualdade racial e na equidade de direitos por meio da educação Renata Parreira, disse ao G1 que a luta do movimento negro contra a nomeação de Sérgio de Camargo é um "grito" por respeito à Constituição.

“Queremos o que a Constituição Federal nos garante. Não são benefícios, são direitos.”

A professora Renata Parreira durante ato em frente à Fundação Cultural Palmares, em Brasília, contra nomeação de Sérgio Nascimento de Camargo para a presidência da instituição — Foto: Luiza Garonce/G1

"O movimento negro é pela paz, pela humanidade, igualdade racial para todos. Equidade. Lutamos por um projeto de sociedade pro Brasil. A gente busca viver com qualidade de vida e dignidade para todos", afirmou Renata.

O cantor e compositor Marcelo Café afirmou que o movimento negro e a sociedade não precisam aceitar "uma pessoa que não luta com a gente em uma fundação tão importante como Palmares".

O cantor e compositor Marcelo Café durante ato em frente à Fundação Cultural Palmares, em Brasília, contra nomeação de Sérgio Nascimento de Camargo para a presidência da instituição — Foto: Luiza Garonce/G1

A cantora Cris Pereira também repudiou as posições de Sérgio Camargo. "Estamos aqui para honrar os nossos antepassados e os antepassados dele", disse à reportagem.

Para o músico e conselheiro de cultura de Sobradinho Kauê Melo, a importância dos negros e a exclusão deles não podem ser negadas.

"Não aceitamos alguém que nega a nossa história e ancestralidade.”

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