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Política Eleições Rio

MDB do Rio prioriza herdeiros de políticos presos na distribuição do fundo eleitoral

Filhos de Eduardo Cunha, Cabral e Picciani são os que mais receberam dinheiro para campanha
Danielle Cunha conversa com eleitores na Igreja Batista Nova Filadélfia, em São João de Meriti Foto: Reprodução
Danielle Cunha conversa com eleitores na Igreja Batista Nova Filadélfia, em São João de Meriti Foto: Reprodução

RIO —  O diretório do MDB do Rio adotou um critério particular para distribuir o dinheiro aos candidatos na campanha eleitoral. No lugar dos políticos em busca da reeleição, que recebem a parcela mais expressiva dos fundos públicos, como O GLOBO revelou no domingo , a seção fluminense do partido privilegiou outro perfil: os apadrinhados de emedebistas poderosos que não podem concorrer neste ano por terem sido presos na Operação Lava-Jato .

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Filha do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, detido em Curitiba, a publicitária Danielle Cunha recebeu R$ 2 milhões dos cofres do MDB do Rio. É o maior valor destinado pelo diretório a um candidato.

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Danielle tem feito campanha em redutos eleitorais do pai e percorre igrejas. Da cadeia, onde está desde outubro de 2016 , Cunha está fazendo circular entre os eleitores evangélicos duas cartas assinadas por ele em que pede votos para a filha. Nas mensagens, obtidas por O GLOBO, o ex-deputado diz que ela vai defender suas bandeiras e também reclama de aliados políticos.

a carta de cunha
a carta de cunha
LEGENDA
Por isso, estou lançando a minha amada filha, Danielle Cunha, para a minha vaga de deputado federal, com o meu número 1530.

Mesmo neófita na política e candidata pela primeira vez, a filha de Cunha ganhou verba maior do que os deputados federais que tentam a reeleição Marco Antônio Cabral e Leonardo Picciani. Cada um recebeu R$ 1,5 milhão da direção nacional do MDB. Marco Antônio é filho do ex-governador Sérgio Cabral, preso desde novembro de 2016, e Leonardo, do presidente afastado da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) Jorge Picciani, que está em prisão domiciliar também no âmbito da Operação Lava-Jato.

Outro filho de Picciani, o deputado estadual Rafael Picciani não vai disputar a reeleição para se dedicar aos negócios da família. A aposta para a manutenção da influência no Legislativo estadual, portanto, está em Max Lemos, ex-prefeito de Queimados. O candidato angariou R$ 500 mil dos cofres do diretório local do MDB. Caso eleito, é um dos nomes cotados para ocupar a presidência da Alerj pelos próximos dois anos.

DOAÇÃO DE PAES

O valor recebido do MDB do Rio por ele é mais do que o dobro do transferido a deputados que têm mandato e tentam a reeleição, como Gustavo Tutuca e Marcio Canella, que ganharam R$ 200 mil cada.

Quem também foi beneficiada com R$ 500 mil foi a ex-prefeita de Saquarema Franciane Motta, que atualmente não tem mandato. Ela é mulher do deputado estadual Paulo Melo, ex-presidente da Alerj, preso em novembro do ano passado sob a acusação de receber propina de empresários do setor de transportes para beneficiá-los em projetos de lei na Assembleia.

— Decidimos não comentar sobre a estratégia eleitoral — disse Leonardo Picciani, que herdou do pai o comando do MDB no Rio, sem falar sobre o critério para a distribuição dos recursos.

Enquanto encabeça a lista dos candidatos a deputado federal pelo Rio que mais receberam recursos do MDB fluminense, Danielle contabiliza até uma doação de R$ 2,7 mil da campanha de Eduardo Paes, postulante ao Palácio Guanabara pelo DEM. Suas despesas contratadas já somam R$ 753 mil.

Mesmo de dentro da cadeia, Cunha articulou a campanha da filha, cercando-a de seus aliados de outras eleições. Na estratégia de entregar a ela seu espólio, o presidente da Câmara elaborou duas cartas repletas de versículos bíblicos. Ele diz ser inocente e sofrer perseguições. Afirma estar vivendo um calvário “por ter sido o responsável pelo impeachment de Dilma Rousseff”. Em suas aparições na TV e no rádio, Danielle costuma exibir a cena do voto do pai contra a petista.

Nas cartas, Cunha fala das bandeiras que defendeu e cita a obtenção da renovação da concessão da Rádio Melodia, que pertencia a Francisco Silva, responsável por catapultar a carreira do emedebista na política. Francisco morreu em outubro do ano passado.

CUNHA RECLAMA DE ALIADOS

Em uma das mensagens , o ex-presidente da Câmara fala em ingratidão do deputado estadual Fábio Silva (DEM), filho de Francisco, que concorre à reeleição e com quem Cunha fazia dobradinha. A ira de Cunha é porque, em vez de Danielle, Fábio tem pedido votos para a reeleição do deputado federal Sóstenes Cavalcante (DEM), ligado ao pastor Silas Malafaia.

“Apesar da ingratidão, oro a Deus para que continue abençoando Fábio Silva, filho de Francisco Silva, e que ele possa se reeleger deputado estadual. Certamente, ele vai lhe enviar uma carta pedindo voto para outro deputado federal, que deve estar financiando sua campanha, o que eu não poderia fazer pela minha situação atual. Francisco Silva, se vivo estivesse, jamais concordaria com isso”, escreve Cunha.

Cunha já foi condenado pelo juiz Sergio Moro por lavagem de dinheiro, corrupção passiva e evasão de divisas. Ele também já foi condenado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e outros crimes pela Justiça Federal de Brasília por desvios na Caixa Econômica Federal.

Fábio e Danielle não retornaram os contatos da reportagem para falar sobre o assunto.