BRASÍLIA - Vice-presidente da Associação Nacional das Universidades Particulares ( Anup ), Elizabeth Guedes disse ao GLOBO que ficou sabendo da proposta do governo Bolsonaro de retirar a educação superior do MEC por meio da imprensa e que não conversou sobre o tema com o irmão, Paulo Guedes , escalado para ser o superministro do presidente eleito. Para ela, o novo desenho pode alavancar a qualidade acadêmica do ensino superior. Embora a Anup represente grandes grupos educacionais, como Anhanguera, Uninove e Pitágoras, Elizabeth não vê conflitos de interesse na sua atuação junto ao poder público em virtude do parentesco com o "Posto Ipiranga" de Bolsonaro . Ela disse que não tem intenção de integrar o governo, mas sim de continuar "militando" na área do ensino superior.
A senhora apoia a ideia do próximo governo de levar o ensino superior para o Ministério da Ciência e Tecnologia?
A gente ainda não sabe que desenho exato isso vai ter, de que forma o governo pretende fazer isso. Agora, se a intenção é que o MEC dê foco no ensino básico, e a (pasta da) Ciência e Tecnologia cuide de ciência, tecnologia, inovação e cursos superiores, porque a Capes já está lá, pode ser que funcione. Pode ser que a gente tenha até mais atenção ao ensino superior do que hoje.
Não há risco de perda de recursos para as universidades?
É uma questão meramente de dividir o orçamento, o que não é complicado, porque o orçamento das universidades públicas nada tem a ver com o orçamento da educação básica.
Críticos apontam que o ensino superior ficará escanteado dentro de uma pasta com atribuições em outras áreas?
Não vejo por que tanta celeuma, inclusive porque isso (de unir ensino superior na área da Ciência) é uma ideia velha, há muito tempo se conversa (sobre isso). Acho, pelo contrário, que o ensino superior dentro de um ministério de inovação pode crescer muito. Acho que vai fazer bem a nós ficarmos perto da Capes, que é um órgão de excelência que controla nossos mestrados e doutorados, do ponto de vista da qualidade acadêmica.
E o risco de quebra nos projetos sistêmicos, como os de formação de professor, que unem a área da educação básica com a de educação superior?
Nunca teve esse projeto sistêmico. A Sesu (Secretaria de Educação Superior do MEC) é uma secretaria totalmente separada da área de educação básica. Elas sequer conversam. Não há nenhuma relação. As políticas são formuladas de forma separada, os recursos são separados. O que se vai fazer é oficializar uma situação de fato, que já existe.
A regulação do ensino superior, que envolve aprovação e renovação de cursos, vai melhorar no novo formato?
Acho que a regulação do MEC é uma secretaria muito complexa, que precisa de muita gente trabalhando, (onde) há poucos funcionários para muitos processos. O Ministério da Ciência e Tecnologia tem a Capes, que tem uma larga experiência de regulação. Eles regulam os cursos de pós-graduação com muita qualidade e muito sucesso. Então, não vejo nenhum problema que a Seres (Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior do MEC) saísse de onde está e fosse para o Ministério da Ciência e Tecnologia.
A senhora é irmã de Paulo Guedes, futuro ministro da Fazenda?
Sou, mas minha função na Anup não tem nenhuma relação com ele. Estou há mais de oito anos na Anup, não estou opinando porque tenha ouvido isso dele. Li isso (a notícia sobre a retirada do ensino superior do MEC) nos jornais.
Ele ou alguém da campanha pediu a opinião da senhora sobre o tema?
De jeito nenhum. Zero. Soube pelos jornais.
A senhora ocupará algum cargo no governo?
Não é intenção. O Bolsonaro confia e gosta do meu irmão. Bolsonaro nunca me viu. O Paulo é da equipe dele. Eu vou continuar militando. Estou há 30 anos no ensino superior, sou conhecida na área. Estou fazendo meu trabalho. Não tenho nenhuma intenção, pretensão (de ocupar cargo). Se eu puder ajudar, obviamente ajudarei porque votei nele (Bolsonaro). Mas não tenho nenhuma intenção (de integrar o governo).