Edição do dia 21/12/2017

21/12/2017 22h36 - Atualizado em 21/12/2017 22h36

Chef brasileiro leva esperança com ceia comunitária, nos EUA

JN encontra mais um exemplo de ação solidária natalina.
Voluntários alimentam mil pessoas todos os dias em NY.

Em Nova York, nos Estados Unidos, o Jornal Nacional encontrou mais um exemplo de ação solidária típica do Natal, e comandada por um brasileiro.

A cidade que nunca dorme ainda cochila. As ruas vazias estão vestidas de gala. Natal é tempo de brilhar em Nova York. Com lojas fechadas, o convite ao consumo cai no vazio. É quando os anjos saem para passear. E os maiores símbolos do Natal pairam soberanos sobre a cidade.

A solitária estrela guia, para onde nos levará? No silêncio da noite gelada, o chef carioca Felipe Saint Martin sabe onde ir. As pedaladas desbravam a escuridão até a Igreja dos Santos Apóstolos.

As doações acabaram de chegar. Ele cheira, inspeciona, separa. Tudo fresco, à espera de mãos inspiradas, para transformar alimentos que iam para o lixo em receitas cinco estrelas.

“A banana foi doada nessa manhã e vai ser usada para servir os clientes”, mostra Felipe.

Na cidade do exagero, nem tudo é fartura.

“Hoje em dia, mais ou menos 12,6% da população de Nova York passa fome”, conta o Chef.

Os atuais clientes de Felipe são bem diferentes daqueles que frequentavam as cozinhas premiadas que ele já comandou, depois das primeiras receitas caseiras que fez no Leblon, na zona sul do Rio.

“Atrás de um chef sempre tem uma grande avó. E acho que minha avó era muito hospitaleira, ela servia todo mundo no bairro. Tinha lenda de como a comida dela era fantástica. Acho que eu queria fazer isso também. Queria fazer parte de uma comunidade e ter um propósito que não só alimentar gente com dinheiro para pagar”, conta.

Depois de uma manhã de muito trabalho, está tudo pronto para receber os convidados dessa refeição especial. E é a maior refeição comunitária de Nova York. Mil pessoas comem lá todos os dias. Para muitas delas, vai ser a única refeição do dia. O cardápio?

“O prato de hoje é padrão de frango, com brócolis assado com queijo, e salada de repolho com cenoura”, diz.

70 voluntários trabalham para fazer com que quem não tem um teto se sinta em casa. Lucy bota a mão na massa há quatro anos. A regra é não fazer perguntas. Quem chega é bem-vindo.

“Gosto de ajudar toda essa gente que precisa de comida”, diz a voluntária.

A Lilly veio fazer a limpeza. Fica de olho para manter tudo em ordem.

“É fantástico. A comida é deliciosa, e olha só esses sorrisos”, afirma.

Quem não serve comida, alimenta a alma com música ao vivo. Felipe trocou a cozinha com 30 ajudantes pela correria com apenas dois assistentes. O sentimento depois de cada almoço também mudou.

“Gratidão. Aqui você tem a oportunidade de fazer comida caseira e não uma comida com status de um produto de luxo. Acho que aqui é comida de verdade”, diz.

Repórter: Pra gente de verdade?

“Pra gente de verdade”, afirma.