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Política Lava-Jato

Lava-Jato fechou 2017 com R$ 15 bilhões em multas a empresas e pessoas envolvidas em desvios

Cifra foi acumulada em quatro anos de operação
O prédio da Justiça Federal em Curitiba, onde é julgada a maioria dos processos da Lava-Jato em primeira instância Foto: Dia Esportivo / Agência O Globo
O prédio da Justiça Federal em Curitiba, onde é julgada a maioria dos processos da Lava-Jato em primeira instância Foto: Dia Esportivo / Agência O Globo

BRASÍLIA - De forma silenciosa, a Operação Lava-Jato está conduzindo à integração segmentos da burocracia que antes se mostravam reticentes à colaboração mútua, como Receita Federal, Ministério Público, Polícia Federal, Banco Central e Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf). Resistências corporativas persistem — há situações em que até recrudesceram, como ocorre entre a Polícia Federal e o Ministério Público, envolvidos em controvérsias nos últimos tempos. No conjunto, porém, os avanços são perceptíveis.

O lado mais visível — e público — dessa cooperação está nos tribunais federais, onde já foram confirmados 284 acordos de delação premiada e duas dezenas de pactos de leniência empresarial , mecanismo para pessoas jurídicas confessarem seus esquemas de corrupção. Até dezembro passado, contavam-se 165 condenações em juízos de primeira instância pelo Brasil. Ainda existem 273 inquéritos pendentes de decisão no Supremo Tribunal Federal (STF).

Os resultados, no entanto, vão muito além das sentenças judiciais. A Receita, por exemplo, intensificou investigações que redundaram em crescimento expressivo da cobrança de débitos tributários de empresas e pessoas envolvidas na Lava-Jato. Terminou 2017 com R$ 15 bilhões em multas , na estimativa preliminar. Isso representa um aumento de 226% em comparação às autuações feitas em 2014, e de 41% em relação aos débitos acumulados até o fim de 2016.

Processos fiscais contra cerca de 800 empresas avançaram a partir da criação de um banco de dados da Receita, do Coaf e do Banco Central. Em março de 2014, quando ocorreram as primeiras prisões na Lava-Jato, existia um arquivo de cem mil páginas de documentos extraídos de 94 processos judicais e de comunicações de operações financeiras suspeitas.

ACERVO DIGITAL

Os números da operação
A fatia do "leão"
R$ 15 bilhões
O mapa dos negócios sob suspeita
O que a Receita está cobrando das empresas
e pessoas envolvidas nos processos da Lava-Jato*
ATÉ 2017
A desconfiança dos agentes financeiros privados***
relatada ao Coaf, por Estado
Nº de transações suspeitas com uso de dinheiro em espécie
Nº de operações suspeitas de lavagem de dinheiro
*Estimativa Receita Federal para autuações definitivas de débitos fiscais. Crédito tributário constituído, em valores acumulados até dezembro 2017
O valor de 2017
São Paulo
2,3 milhões
3,5 milhões
representa
aumento de
226%
Rio
656 mil
740 mil
em relação a
2014, e de 41%
Minas
325 mil
670 mil
na comparação
com 2016
R$ 6 bilhões
Paraná
402 mil
378 mil
ATÉ 2016
R$ 4,6 bilhões
R. G. do Sul
294 mil
553 mil
ATÉ 2014
S. Catarina
238 mil
313 mil
Distrito Federal
164 mil
152 mil
Bahia
119 mil
265 mil
Goiás
114 mil
208 mil
Na pista do dinheiro
O aumento na produção de análises de Inteligência Financeira do Coaf** sobre corrupção e lavagem de dinheiro para órgãos como Receita, PF, MPF, TCU e CGU
Mato Grosso
87 mil
80 mil
6.611
5.662
Pernambuco
83 mil
283 mil
4.304
Ceará
65 mil
253 mil
3.178
2.450
Pará
42 mil
221 mil
**Coaf - Conselho de Controle de Atividades Financeiras, do Ministério da Fazenda
Amazonas
31 mil
188 mil
2013
2014
2015
2016
2017
***Informações de empresas privadas (bancos, corretoras, imobiliárias etc) apresentadas ao Coaf em 2017
Os números da operação
A fatia do "leão"
O que a Receita está cobrando das empresas
e pessoas envolvidas nos processos da Lava-Jato*
R$ 15 bilhões
ATÉ 2017
*Estimativa Receita Federal para autuações definitivas de débitos fiscais. Crédito tributário constituído, em valores acumulados até dezembro 2017
O valor de 2017
representa
aumento de
226%
em relação a
2014, e de 41%
na comparação
com 2016
R$ 6 bilhões
ATÉ 2016
R$ 4,6 bilhões
ATÉ 2014
Na pista do dinheiro
O aumento na produção de análises de Inteligência Financeira do Coaf** sobre corrupção e lavagem de dinheiro para órgãos como Receita, PF, MPF, TCU e CGU
6.611
5.662
4.304
3.178
**Coaf - Conselho de Controle de Atividades Financeiras, do Ministério da Fazenda
2.450
2013
2014
2015
2016
2017
O mapa dos negócios sob suspeita
A desconfiança dos agentes financeiros privados***
relatada ao Coaf, por Estado
Nº de operações suspeitas de lavagem de dinheiro
Nº de transações suspeitas com uso de dinheiro em espécie
São Paulo
2,3 milhões
3,5 milhões
Rio
656 mil
740 mil
Minas
325 mil
670 mil
Paraná
402 mil
378 mil
R. G. do Sul
294 mil
553 mil
S. Catarina
238 mil
313 mil
Dist. Federal
164 mil
152 mil
Bahia
119 mil
265 mil
Goiás
114 mil
208 mil
Mato Grosso
87 mil
80 mil
Pernambuco
83 mil
283 mil
Ceará
65 mil
253 mil
Pará
42 mil
221 mil
Amazonas
31 mil
188 mil
***Informações de empresas privadas (bancos, corretoras,
imobiliárias etc) apresentadas ao Coaf em 2017

A operação manual do arquivo se tornou inviável no ritmo das investigações da Polícia Federal e do Ministério Público. No ano seguinte, montou-se um banco de dados com acesso remoto e capacidade para cruzamentos de informações em grande volume — no início dos inquéritos na Caixa Econômica Federal, por exemplo, analisaram-se contas bancárias de quase uma centena de empresas.

Agora, o SisLava, como é conhecido, guarda mais de quatro milhões de páginas, o equivalente a 40% do acervo digital da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Ele armazena nomes de 58 mil pessoas físicas e empresas que, em algum momento, pontuaram na Lava-Jato. Registra quem carregou a mala ou a mochila de dinheiro, quem recebeu, quem são os operadores das contas e empresas usadas para lavagem de ativos no exterior e até quem comprou um carro com pagamento parcelado — como foi o caso do doleiro Alberto Youssef, que presenteou, em maio de 2013, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, com um utilitário Land Rover no valor de R$ 250 mil.

Esse volume de informações foi decisivo para induzir à colaboração intermediários como Youssef, executivos de empresas estatais como Costa e empresas privadas como Odebrecht e Andrade Gutierrez. Eles optaram pela negociação da pena, confessaram e delataram parceiros de corrupção e políticos beneficiários, como o ex-presidente Lula, o ex-governador Sérgio Cabral, o senador Aécio Neves e o ex-deputado federal Eduardo Cunha.

A cooperação levou o Coaf a recordes na coleta e análise de informações. Ano passado, aumentou em 170% a produção de Relatórios de Inteligência Financeira. Antes da Lava-Jato, o conselho produzia 2.450 análises por ano. Em 2017, somou 6.611 relatórios, o dobro da marca alcançada há três anos.

De cada dez comunicações empresariais recebidas no Coaf, sete se referem a transações obscuras realizadas com dinheiro vivo. São Paulo é o estado líder em operações suspeitas — foram 3,5 milhões em 2017, contra 2,3 milhões no ano anterior. O Rio vem logo em seguida no ranking, contabilizando 740 mil negociações atípicas com dinheiro em espécie. Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná completam o ranking dos cinco mais. Todos os relatos foram feitos em segredo por mais de 1.800 instituições financeiras, além de empresas de contabilidade, bolsas de valores, juntas comerciais, fundos de pensão, loterias, imobiliárias, joalheiras e galerias de arte.

COOPERAÇÃO INTERNACIONAL

Outro efeito da Lava-Jato é a abertura do Brasil à cooperação internacional. Em dezembro, o Ministério Público Federal somava 201 pedidos específicos a 41 países. Em contrapartida, recebeu outros 179 de 31 governos.

Agora, intensifica-se a assistência mútua com o exterior na área fiscal. A partir deste mês acaba o sigilo bancário do Brasil com 113 países. O intercâmbio automático havia começado em 2015 com os Estados Unidos, onde 4.700 brasileiros mantêm imóveis em nome de empresas.

A Receita vai ter acesso aos dados de todas as pessoas e empresas brasileiras com ativos no exterior, estimados em R$ 308 bilhões e na maior parte concentrados em uma dúzia de países. Em troca, até junho, 113 governos ganham conexão automática às informações sobre negócios e contas de pessoas e empresas estrangeiras no Brasil.

Esconder patrimônio no exterior vai ficar mais difícil, mas não impossível. Sobram alternativas em países como Venezuela, Iraque, Síria, Sudão e Guiné Equatorial. Investir neles é fácil. Difícil é recuperar o dinheiro.