Por Luisa Sa, Bom Dia Brasil


Brasil: conheça os bons exemplos da educação pública

Brasil: conheça os bons exemplos da educação pública

O alemão Andreas Schleicher está à frente de um dos rankings educacionais mais respeitados do mundo: o Pisa, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes. A cada três anos, alunos de 15 anos fazem provas de leitura, matemática e ciências. Em entrevista exclusiva ao Bom Dia Brasil, parte da série especial "Educação: nosso lugar no mundo", Schleicher afirmou que o Brasil já impressionou o mundo com seu rápido avanço na educação, mas que atualmente passa por um momento de estagnação.

Desde a criação do Pisa, nós participamos de todas as edições. No primeiro ano, em 2000, ficamos em último lugar.

Compare a nota do Brasil no Pisa 2015 com a média dos países da OCDE — Foto: Rodrigo Sanches/G1

Nas edições seguintes, o Brasil teve uma pequena melhora, chegou a ser considerado um dos países que mais avançaram em matemática no Pisa. Mas os resultados das provas da década de 2010 revelaram uma estagnação. Na última prova, a de 2015, o desempenho dos nossos alunos ficou bem abaixo da média mundial.

"O Brasil teve uma evolução impressionante na década de 2000, uma das mudanças mais rápidas no sistema educacional quando se trata de qualidade de aprendizagem, colocou mais gente na escola, isso foi um feito raro no mundo, expandiu capacidade e melhorou a qualidade do ensino, mas com o tempo este progresso estagnou, desde 2006/2009, nós vimos pequenas mudanças na qualidade de ensino", afirmou Andreas Schleicher, diretor de Educação da OCDE.

"Eu sou otimista, se virmos as mudanças nos anos 2000, se o Brasil conseguisse voltar e acelerar isso, o Brasil conseguiria atingir a média mundial mais rápido. Isso é possível, o Brasil já mostrou que é possível melhorar rapidamente, dá pra escalar e ser nacional, não apenas em alguns estados."

Andreas Schleicher, diretor de Educação da OCDE, concedeu entrevista exclusiva ao Bom Dia Brasil — Foto: Reprodução/TV Globo

Avanço brasileiro

O diretor de Educação da OCDE destacou mudanças importantes que o Brasil já fez, como as avaliações nacionais do ensino, e o desenvolvimento de uma base nacional curricular. E pondera que é mais fácil um país mudar de ruim para razoável do que mudar de razoável para bom. Cada estágio demanda soluções diferentes e o Brasil agora precisaria mudar suas práticas educacionais.

"No Brasil o foco ainda está na memorização do conteúdo e muito pouco em entender. Não é só estudar física, química, é preciso pensar como um cientista. Isso tem que ter um investimento grande em professores."

Para Schleicher, o Brasil ainda precisa investir mais dinheiro na educação e tem que se dedicar a investir melhor estes recursos. E a escolher suas prioridades. Por exemplo, entre investir em todos os alunos ou nos alunos com mais dificuldades, a prioridade deveria ser os alunos menos privilegiados.

Metas claras e boas práticas

Ao ser perguntado o que ele faria se fosse o ministro da Educação no Brasil, o diretor de Educação da OCDE respondeu que primeiro estabeleceria metas claras, para que os professores entendam o que é uma alta performance e o que se espera deles e que em seguida estimularia o desenvolvimento da capacidade de liderar.

"Se você conseguir encontrar boas práticas, boas ideias dentro das salas de aula, e espalhá-las para todo o sistema, você consegue mudar o sistema educacional. Eu não focaria nas ideias de cima para baixo, mas realmente em encontrar, escalar e espalhas as boas práticas que já existem no Brasil. Uma das coisas mais incríveis que existem no Brasil é que você tem escolas com muitas dificuldades que conseguem alcançar ótimos resultados. E ao mesmo tempo você tem escolas em bairros privilegiados que não são tão boas. Na verdade existem muitas lições a aprender dentro do Brasil e não somente de outros países."

O Pisa é um exame de leitura, matemática e ciências aplicado pela OCDE a estudantes de 15 anos em dezenas de países a cada três anos — Foto: Reprodução/TV Globo

Ranking de países

Andreas Schleicher acredita que o Pisa é como se fosse um espelho, em que o Brasil pode se ver e olhar o que os outros países estão fazendo, incluindo seus progressos e as dificuldades.

"A Colômbia trabalha em um contexto ainda mais desafiador do que o Brasil. É um país despedaçado pela guerra, com uma grande disparidade social, um sistema educacional altamente descentralizado. A Colômbia não tem nada parecido com um currículo nacional ou mesmo com um sistema de ensino centralizado. E eles foram capazes de construir um sistema de avaliação, você nunca pode melhorar o que não pode ver. Eles também investiram em seus líderes e em seus professores. E, principalmente, garantiram que o financiamento, que o dinheiro chegasse a regiões e províncias menos desenvolvidas para assegurar que as crianças em situação de desvantagem tivessem uma educação melhor."

Mas o próprio responsável pelo Pisa alerta que não se trata de "copiar e colar" as soluções de outros países, mas de se perguntar o que leva diferentes sistemas educacionais ao sucesso . E configurar estes mesmos princípios em seu caso particular.

Andreas Schleicher destaca dois destes princípios que costumam ser os mais comuns entre os países que se destacam na educação.

"Primeiro, metas ambiciosas para cada aluno, valorizar e investir em educação. A segunda meta é atrair os professores mais talentosos para as salas de aula mais problemáticas. Ser uma profissão atraente financeiramente, mas não só isso, tornar a carreira atraente, com condições de trabalho mais interessantes, como por exemplo, tempo para trabalhar fora de sala de aula."

Série especial 'Educação: nosso lugar no mundo'

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