Qual é mesmo a política cambial do Brasil?

qua, 30/01/13
por Thais Herédia |
categoria economia

Demorou muito pouco a percepção, ou sensação, de que o país tinha recuperado seu regime de câmbio flutuante. Há poucos dias o dólar vinha caíndo diante do real e o Banco Central não se mexeu para interferir no movimento.

Rapidamente começou um debate sobre o que estaria acontecendo com a política cambial. Poderia ser a volta do regime flutuante, sem intervenções para manter o dólar numa banda escolhida pelo governo? Ou estaria ela sendo aplicada como um instrumento para controlar a inflação, já que os juros estão de licença-prêmio? Muitos disseram: “o BC pode estar deixando o dólar cair porque precisa diminuir a pressão do câmbio na inflação e não quer mexer nos juros”.

Sem papas na língua, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez todo mundo acordar do sonho. “O câmbio não é instrumento de política monetária para baixar preços. O único instrumento é o juro”, disse durante Encontro Nacional de Prefeitos e Prefeitas.

Para chacoalhar ainda mais quem estava testando o BC para tentar adivinhar qual seria o novo “piso” para a moeda americana, Mantega afirmou: “Não estamos mudando a política cambial, a política é a mesma: não permitiremos uma valorização especulativa do real e isso veio para ficar. Aviso aos navegantes: não se entusiasmem porque isso não vai acontecer. Não esperem que o câmbio venha a derreter”, disse.

Qual é mesmo a política cambial? A oficial é a de câmbio flutuante, desde 1999, quando foi lançado o chamado tripé macroeconômico do país: metas para inflação, superávits primários para pagamento do serviço da dívida e o câmbio flutuante. Mas, na prática, são outros quinhentos.

O entendimento, claramente precoce, de que o BC estaria deixando o câmbio mais livre – seja para segurar o repasse para os preços, seja para criar um ambiente de menor intervenção na economia – foi-se embora tão rápido quanto chegou.

A “versão 2013” do Banco Central, percebida pelo blog na terça-feira (29) – de uma entidade mais proativa e defensora de seus mandatos, parece não valer mais. A fala do ministro da Fazenda retifica essa ideia. Altera também a impressão de que o governo estaria um pouco mais preocupado com a inflação.

Ao que parece, estão preocupados com “tudo ao mesmo tempo agora”, como diz o verso da música Uma Coisa de Cada Vez, do grupo de rock brasileiro Titãs. A quantidade de objetivos e instrumentos do governo tem colaborado para gerar ruídos na compreensão e nas expectativas. Aliás, a música do Titãs tem apenas dois versos. Talvez o outro fosse mais indicado para o momento atual: “Uma coisa de cada vez”.

compartilhar

14 Comentários para “Qual é mesmo a política cambial do Brasil?”

  1. 1
    André Barros:

    Sinceramente?
    Diante de tanta trapalhada em todos os campos, que temos feito a décadas, acho que estamos no caminho certo desde o governo de Itamar Franco. O que podemos notar é que a economia mundial passa por problemas sérios e o Brasil não está imune, mas, acho que estamos reagindo razoavelmente.

  2. 2
    Fernando:

    o governo mente, sempre mentiu, e sempre mentirá. Não apenas no Brasil, os governos mentem. O Sr. Mantega e a Dilma farão de tudo para controlar a inflação, menos o que devem fazer, reduzir a gastança pública, e reduzir os impostos. Entraram nessa de congelar tarifa de metrô, congelar tarifa de energia, deixar a gasolina artificialmente barata. Sabe onde isso vai terminar? Quem viu plano collor, plano verão, fiscal do Sarney, já sabe. Nada disso funciona.

  3. 3
    Jorge Roberto:

    A guerra cambial não começou aqui, o Brasil acho eu está
    apenas se protegendo, e para isso está flexível.
    Tipo o ditado: Aonde a vaca vai, o Boi vai atrás.

  4. 4
    Daniel Bacellar:

    Não seria “Qual é MESMA a política cambial do Brasil”? Ou a concordância não é mais importante?

  5. 5
    Alexandre:

    O governo Dilma em breve enfrentará problemas com as suas empresas estatais que se tornarão inviáveis. Isso exigirá que essas empresas realizem demissões de empregados para redução de gastos. O caso da Petrobras é emblemático, pois esse governo a usa para mitigar a pressão inflacionária. Também outro caso preocupante é o da Eletrobras.

    É virtualmente inviável a Petrobras manter uma política insana de reajuste de combustíveis com um olho no preço na bomba e outro na taxa de inflação. Demandaram muitos anos para que a Petrobras fosse construída e se tornasse uma das maiores empresas mundiais. O mérito disso está em Getúlio Vargas e na dedicação de seus funcionários diretos e indiretos. O trabalho de desconstrução da empresa pela presidenta Dilma, no entanto, pode levar poucos anos!

    O desmonte da Petrobras terá um efeito devastador na imagem da empresa e do Brasil. A sua presidenta certamente entrará para a história por ser conivente com uma política que procurou destruir a Petrobras. E ela é uma funcionária de carreira! Certamente, a empresa apresentará mais um balanço no vermelho e novamente a Petros e muitos fundos de pensão sofrerão com isso. Vamos aguardar, mas boa coisa certamente não virá…

    A presidenta Dilma está diante de uma escolha de Sofia. As escolhas são óbvias:

    (a) um país com inflação e crescimento baixos, ou

    (b) um país com inflação e crescimento altos.

    Na hipótese (a), haverá aumento da taxa de desempregados. Na hipótese (b), ocorrerá a corrosão do poder de compra da nova classe média brasileira. Em ambas as hipóteses, haverá muito desgaste para a imagem da presidenta Dilma e prejuízos para as suas estatais.

    Há ainda uma terceira escolha:

    (c) um país com inflação baixa e crescimento alto. Contudo, isso só seria possível com um ambicioso plano de privatizações e a realização de todas as reformas estruturais que o Brasil precisa. Está hipótese parece muito pouco provável diante do pensamento arcaico da presidenta Dilma e seus colaboradores. Além disto, a presidenta Dilma é incapaz de negociar algo com o Congresso Nacional pela simples razão de que não é uma democrata. O seu estilo é autocrático e impositivo. O seu modelo inspirador é o de Chaves. Vale dizer que Chaves é militar graduado do exército da Venezuela. Dilma é apenas uma ex-guerrilheira que combateu o exército brasileiro. Em outras palavras, situações diametralmente opostas. Por fim, registre-se que parte do grupo de apoio da presidenta Dilma está em vias de passar anos na prisão por atos de corrupção contra o povo brasileiro.

    O fato é que o nível da água está logo abaixo dos narizes dos brasileiros. A nova classe média ainda não percebeu isso, mas certamente demonstrará furor ao verificar que foi ludibriada e que seu sonho acabou.

    Quanto mais o governo Dilma empurra com a barriga os problemas brasileiros, mais cresce a possibilidade desses problemas explodirem em 2014. Pelo menos, isso será bom para o Brasil.

  6. 6
    eduardo:

    Caros,
    Há três fatores econômicos intrinsecamente relacionados:
    - balança comercial;
    - câmbio;
    - juros.
    Analiticamente, o equilíbrio desse sistema depende do desempenho de cada fator isoladamente, ou seja, se pelo menos uma dessas variáveis não estiver adequadamente sintonizada, certamente haverá consequências deletérias para o conjunto….faz parecer que tudo vai dar errado.
    Bem, os juros estão bem ajustados. Poderiam até baixar um pouco mais.
    A balança comercial está positiva, porém abaixo de seu magnífico potencial.
    Acredito que o câmbio é que precisa de um nivelamento mais compatível com os outros fatores, para, então, potencializar sinergisticamente essa tríade. Sem nenhuma especulação.
    Acredito que isso ocorrerá naturalmente, afinal, os mercados ajustam-se por si mesmos.
    Espera-se esse ajuste logo, não é verdade.
    Abçs.

  7. 7
    AC:

    O verso de uma música dos Titãs que mais se aplica ao desgoverno da presidenta Dilma é “O PULSO AINDA PULSA”…

  8. 8
    Affonso:

    Alexandre,

    concordo em com sua observação:realmente estamos em um dilema ,porém creio que este dilema não é de governo e sim de Estado.Privatizar ,abrir capital das estatais ,conceder ou qualquer outro instrumento que traga parceiros e retire do Estado esta pecha de protagonista do crescimento econômico, e aproveito a deixa para reafirmar :há uma diferença entre crescimento e desenvolvimento econômico. A primeira tem como protagonista todos os atore econômicos, a outra e dever e responsabilidade do Estado, envolve educação , saúde e segurança social.
    Sobre a a matéria em si é claro que a política cambial ,faz parte da política monetária e fiscal.Boa parte das reservas brasileiras e da dívida pública esta atrelada a esta questão ,qualquer variação a mais ou menos deste fator repercute na na saúde de nossa economia .Sobre o ministro , apesar de sua boa vontade , é um bufão ,deveria ser transferido para a secretária de comunicação de governo , pois esta se comunicando com os interlocutores errados: Fala para o povo ,não para o mercado, que quer e necessita de informações claras ,mesmo que ruins para poder se posicionar diante do momento.
    Estamos olhando para o lado errado . O mundo das economias vive de altos e baixos .No Brasil o jogo de poder dificulta a instalação de políticas de Estado ,ministros assumem não por competência e sim por influência no parlamento e nos partidos , existe um bando de sem votos ,semelhantes ao nosso vice-presidente , que possui um poder enorme junto ao maior partido do país, O Senado apresenta um presidente ,cujo apresso pelo bem público e deveras privado, e a Câmara branda que não vai respeitar o julgamento do mensalão.

    Questiono:o nosso problema é econômico ou falta de vergonha na cara?!!

  9. 9
    Edison Torres:

    Olá, Thais.

    Acho muito pertinentes todos os argumentos colocados aqui. Mas fico com a impressão de que estamos meio que sem rumo. A cada instante surge uma nova medida. Não é por outro motivo que os investimentos não aumentam, principalmente nas áreas mais importantes, como infraestrutura. O empreendedor precisa de um mínimo de previsibilidade no cenário macroeconômico para retirar da gaveta os seus projetos de expansão.

    A sensação que eu tenho é que, na ânsia de promover o crescimento a qualquer custo, o governo perdeu a credibilidade. E credibilidade é a matéria prima do sucesso de qualquer política econômica.

    Espero, sinceramente, estar errado.

    É isso.
    Edison Torres

  10. 10
    Alexandre:

    A notícia abaixo foi publicada pela Reuters e confirma apenas os danos que o governo Dilma vem causando à Petrobras:

    Petrobras: Falta dinheiro e já há atraso nos pagamentos

    A Petrobras (PETR4) estaria atrasando o pagamento de contas a fornecedores por problemas de caixa afirma reportagem da agência de notícias Reuters, causando enormes prejuízos a sua rede de prestadores de serviços e forçando fornecedores totalmente dependentes da petrolífera a recorrem a pedidos de recuperação judicial. A Petrobras publicou uma nota negando que esteja inadimplente e que não enfrenta problemas de caixa, com mais de R$ 40 bilhões de saldo. Segundo a companhia o problema são as revisões e aditivos contratuais que eventualmente não são aceitos que deixaram alguns fornecedores em problemas.

  11. 11
    RENATO MANFROI:

    O PIB ESTE ANO SERA´MENOR OU IGUAL A 2012. FUI O UNICO QUE PREVI PIB MENOR QUE 1% EM JANEIRO DE 2012. PORQUE? PORQUE HOJE NAO HÁ MOTIVOS MACRO ECONOMICOS PARA TER UM PIB MAIOR, A SABER: A INTERVENÇAO ESTATAL NA ECONOMIA ESTÁ CRESCENDO E COM ISSO DIMINUI A PRODUTIVIDADE E EM CONSEQUENCIA A RIQUEZA; DILMA NAO ESTA MANTENDO META CAMBIAL DE 2,10 E COM ISSO ESTA FALINDO AINDA MAIS A INDUSTRIA EXPORTADORA; A SELIC QUE DEVERIA ESTAR EM 5,5% NAO BAIXOU. E, SUPREMA INGENUIDADE, PARA NAO DIZER OUTRA COISA: ENQUANTO DILMA LUTA PARA TER SUPERAVIT FISCAL, SE PAGA O JURO REAL MAIS ALTO DO MUNDO E..E.. SE AUMENTA O DEFICIT FISCAL. DILMA TEM QUE ACORDAR E VER QUE O QUE PROVOCA A INFLAÇAO E´A RENDA ALTA E O PIB BAIXO, OU SEJA, NOSSA PRODUTIVIDADE BAIXOU, E, A INFLAÇAO SIMPLESMENTE CORRIGE O REAL PODER DE COMPRA DA RENDA ATUAL. QUE BOM SE FOSSE SÓ AUMENTAR A RENDA SEM AUMENTAR A PRODUTIVIDADE. AÍ, ATÉ O LULA SABERIA ADMINISTRA O PAIS…..

  12. 12
    Um brasileiro:

    O Brasil é hoje o quinta país com moeda sobrevalorizada no mundo. Na realidade, uma relação ideal seria $ 1 = R$ 3, como sugere o levantamento abaixo:

    https://www.economist.com/content/big-mac-index

  13. 13
    Emerson:

    Engraçado como a cada nova noticia ha um comentario diferente, não que Eu não concorde em parte, se há aumento é criticado, se segura o repasse de preço tambem é criticado. Claro não podemos fechar os olhos para as coisas erradas, e muita coisa tem de ser feita. mas a começar por nós eleitores, como é possivel eleger senadores, deputados e por ai vai. como é o caso desses senhores que quase sempre estão no noticiario, não por coisas boas, mas por desvios e ainda os elegemos. muitos votam por dez, dez litros de gasolina. se acabar com toda a roubalheira que existe no Brasil tenho certeza (absoluta) que seriamos a nação mais desenvolvida. se for falar tudo o que tenho vontade escreveria um livro.

  14. 14
    PEDRO GOUDINHO JUNIOR:

    A nossa percepção referente ao texto é que o Governo se mantem aparentemente “ neutro “ neste tema , apenas regulamentando o mercado de câmbio ( cumprindo e fazendo cumprir a politica cambial ) . Aparentemente o seu papel esta sendo apenas em manter a taxa de inflação e juros , ou seja , o Governo buscaria de alguma forma se beneficiar do cambio flutuante no sentido de dizer que não esta influenciando ou interferindo no mesmo ( não ficou claro qual é a sua real intenção ) .
    A relação nas politicas cambiais são confusas e uma reflexão referente ao ponto de vista da autora pode ter várias interpretações. Em uma das possibilidades o Governo esta apenas protegendo-se de hipóteses da mídia sensacionalista de aumento de taxa de desempregados , diminuição do poder de compra ou ainda instabilidade do mercado ( inclusive ao que se refere a instabilidade das taxas ) .
    Não descartamos que o Governo pode estar “ escondendo o jogo “ no sentido de intervir “ por de baixo dos panos “ na taxa cambial , isso pode ocorrer se a indústria mostrar-se em desaceleração e um crescimento muito abaixo do estimado . A única certeza é a incerteza , o texto mostra que existem duvidas ( até mesmo na cabeça da autora ) , aqui criando um ambiente de desconfiança .
    Att, Pedro Goudinho



Formulário de Busca


2000-2015 globo.com Todos os direitos reservados. Política de privacidade