• Paulo Gratão
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Cássia Buratto, fundadora da Buratto Consultórios (Foto: Divulgação)

Cássia Buratto, fundadora da Buratto Consultórios (Foto: Divulgação)

Em um mesmo consultório, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e psicanalistas podem dividir espaço, conviver e rachar as despesas administrativas. Além disso, o profissional pode usar qualquer unidade do consultório, pelo mesmo valor mensal. Essa é a proposta da rede de franquias Buratto Consultórios, fundada pela empreendedora Cássia Buratto, 36, que já tem quatro unidades abertas em São Paulo.

Cássia montou seu primeiro consultório de acupuntura aos 18 anos. Em paralelo, ela estudava para se aprimorar na prática e também cursou faculdade de Farmácia. “Eu fiquei em rotina de hospital por quase um mês em Pequim, na China, e aprimorei minhas técnicas. Acabei me tornando uma referência na minha região, em Santo André [Grande São Paulo].”

Ela alugava um espaço na cidade para os atendimentos e precisou sair em 2015, pois estava insatisfeita com o serviço administrativo prestado pelo local. “Cheguei a perder clientes que eram mal recepcionados.”

Cássia, então, resolveu comprar um espaço próprio e começar do zero. “Quando eu adquiri o imóvel, já percebi que era grande para a minha necessidade. O custo era altíssimo: reforma, IPTU, limpeza. Eu precisava trazer um negócio para me ajudar a pagar por aquele lugar.”

Ela decidiu que locaria espaços para profissionais da saúde autônomos. Criou três consultórios no espaço e no primeiro mês já conseguiu inquilinos como médicos, peritos e dermatologistas. A proposta deu certo e três anos depois a demanda era tão grande, que ela mesma ficou sem espaço para atender. Assim, acabou locando um segundo espaço no mesmo prédio para dar conta.

Nesse período, por volta de 2018, Cássia recebeu uma proposta de um grupo especializado em expansão de franquias para transformar o negócio em uma rede. Ela acabou não fechando o contrato, por não ter concordado com o acordo de formatação e negociação propostos. “Eu pensei: ‘tenho um supernegócio nas minhas mãos’. E comecei a trabalhar para transformá-lo em franquia eu mesma.”

Nesse período, Cássia abriu a segunda unidade do Buratto no bairro do Ipiranga, em São Paulo. Isso já a ajudou a entender como seria replicar o próprio negócio para outras localidades. “Percebi que tenho a possibilidade de ocupar espaços grandes que estão vazios, principalmente em virtude do momento que estamos vivendo, com entregas de pontos comerciais.”

Recepção do Buratto Consultórios (Foto: Divulgação)

Recepção do Buratto Consultórios (Foto: Divulgação)

A empreendedora passou o ano de 2019 todo estudando o sistema de franquias e visitando feiras do setor. Ela conheceu uma consultoria especializada na formatação de empresas para franquias, apresentou o modelo de negócio da Buratto, gostou da proposta e contratou o serviço.

“Quando começou a pandemia, eu estava no meio do processo de formatação, finalizei em junho. Já tenho uma franquia instalada em São Bernardo do Campo e três unidades próprias. Nesse meio tempo, mais de 10 profissionais já procuraram esse novo ponto. Agora, com a telemedicina, isso deve crescer”, aposta.

A telemedicina foi regulamentada pelo governo federal em abril deste ano, com o objetivo de desafogar os hospitais durante a pandemia. Mesmo assim, é recomendado que o profissional tenha um espaço físico para eventuais consultas, exames ou emissão de receitas que precisem ser feitos presencialmente.

A Buratto oferece o serviço administrativo e os profissionais locam o espaço por hora. O pacote mínimo é de cerca de R$ 200 por mês, que dá direito a uma hora por semana, ou quatro horas por mês. Se subir para quatro horas por semana, o valor é de R$ 560. As negociações, no entanto, são individuais e podem sofrer alterações no valor de acordo com as horas contratadas.

Sala de atendimento da Buratto Consultórios (Foto: Divulgação)

Sala de atendimento da Buratto Consultórios (Foto: Divulgação)

Cada unidade comporta, em média, 25 profissionais, mas depende do número de consultórios. A única regra é ter a partir de três, para que o negócio seja sustentável. O investimento inicial é de R$ 119 mil para uma unidade com três consultórios (60 m²) e de R$ 203 mil para oito consultórios (150 m²).

Além da infraestrutura física, a empresa oferece um sistema interligado que os profissionais podem acessar de qualquer unidade. Dessa forma, um mesmo médico pode atender em São Paulo e em Santo André, por exemplo, de acordo com a necessidade. “O coworking médico tem redução de 60% ou até mais nos custos operacionais”, afirma. 

O plano de expansão da marca para 2020 contempla a inauguração de unidades em outras regiões de São Paulo, no interior do estado e também em Curitiba, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, onde já há interessados, de acordo com a empreendedora.

Atualmente, existem cerca de 1.500 coworkings, de todos os tipos, no Brasil, segundo o levantamento do Censo Coworking Brasil 2019. São Paulo é o estado com mais espaços compartilhados – cerca de 390. No setor de franquias, o modelo também tem ganhado força: redes como My Place Office, Regus, My Office e Ôshi já constam na lista de associados à Associação Brasileira de Franchising (ABF).