RIO — Num almoço nesta sexta-feira no Palácio Guanabara entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o governador Wilson Witzel, o cardápio foi a recuperação da poluída Baía de Guanabana, que depois de programas bilionários continua recebendo muito esgoto e lixo. De acordo com Witzel, o estado se comprometeu a cumprir metas do Regime de Recuperação Fiscal para obter o aval do governo federal a um empréstimo de US$ 260 milhões (cerca de R$ 1 bilhão) junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). No mesmo encontro, o governador prometeu apoio político para a aprovação da Reforma da Previdência.
— Há uma série de metas exigidas pelo Conselho de Supervisão que a antiga gestão não estava cumprindo — disse Witzel ao GLOBO. — Temos até o dia 20 de março para apresentar as propostas de adequação e, dessa forma, viabilizar o empréstimo.
Sobre o acordo envolvendo a votação da Reforma da Previdência, Witzel afirmou que montará uma equipe técnica para analisar os principais pontos da proposta do governo e costurar apoio.
— Vou me reunir com a bancada de deputados federais para tentar convencê-los a abraçar o projeto — prometeu.
um paraíso degradado
Estações de tratamento
Guapimirim
magé
O programa de
despoluição abrange
a Baía de Guanabara:
Duque de
Caxias
Baía de Guanabara
Sarapuí
EM UMA ÁREA DE
380km²
Paquetá
Pavuna
Ilha do
Governador
SUAS ILHAS,
QUE SOMAM
Penha
São
Gonçalo
50km²
Alegria
E SUA BACIA
HIDROGRÁFICA,
COM CERCA DE
Icaraí
Niterói
Rio de
Janeiro
4.000km²
Centro
Urca
5km
N
um paraíso degradado
E SUA BACIA
HIDROGRÁFICA,
O programa de
despoluição abrange
a Baía de Guanabara:
COM CERCA DE
4.000km²
EM UMA ÁREA DE
SUAS ILHAS,
QUE SOMAM
380km²
50km²
Estações de tratamento
Guapimirim
magé
Duque de
Caxias
Baía de Guanabara
Sarapuí
Paquetá
Pavuna
Ilha do
Governador
Penha
São
Gonçalo
Alegria
Icaraí
Rio de
Janeiro
Centro
Niterói
Urca
5km
N
Opiniões divergentes
Para o economista André Luiz Marques, coordenador dos cursos de gestão de políticas públicas do Insper, neste momento, não será fácil nem rápido o estado se credenciar para os US$ 260 milhões necessários aos projetos da Baía. Segundo ele, o governo federal terá que enviar projeto ao Congresso para mudar a lei do Regime de Recuperação Fiscal (Lei Complementar 159, de maio de 2017), que veda empréstimos.
— A lei que rege todos ajustes diz que os estados não podem tomar empréstimos durante a vigência do acordo. Ela teria que ser mudada, para prever essa possibilidade, porque todos os empréstimos estão proibidos. É preciso saber como será a tramitação de um projeto desse tipo na Câmara e no Senado, num momento em que o foco é a reforma da Previdência — pondera Marques. — Só após alterar a lei, é que o acordo da União com o estado poderia ser revisto.
Outro passo, explica, seria aprovar um projeto de lei estadual autorizando a operação na Assembleia Legislativa.
— A Baía é extremamente importante. Mas é preciso ver a efetividade desse projeto, depois de tantos programas destinados a despoluí-la. Ver se colocar mais R$ 1 bilhão vai resolver esse problema ambiental. O cenário atual do estado é de desaparelhamento. Qual é a prioridade? — questiona Marques.
Já o consultor econômico Raul Velloso, ex-secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento, diz que o financiamento de R$ 2,9 bilhões firmado entre a União e o governo passado, de Luiz Fernando Pezão, com lastro em ações da Cedae, é uma evidência de que um entendimento é possível. Para ele, isso mostra que o ajuste fiscal pode ser alterado, sem que seja necessário mudar a lei:
— Vejo que há possibilidade de se construir um entendimento entre União e estado que garanta o empréstimo com alguma contrapartida. Os novos governadores estão buscando alternativas, caminhos para administrarem as carências.
— É hora de contrair um empréstimo? Talvez a prioridade atual seja resolver a insuficiência financeira, especialmente reorganizando a Previdência estadual, como tenho insistido.
Riscos de projeto
Entre engenheiros e especialistas ambientais, obras de despoluição da Baía são bem-vindas, porém, é preciso que elas tenham o perfil adequado. Oceanógrafo e professor da Uerj, David Zee elogia a iniciativa do governador, mas faz um alerta. Segundo ele, se os recursos forem investidos em engenharia tradicional, é grande o risco de fracasso.
— Os demais programas não tiveram êxito. Espero que tenham aprendido com o insucesso. Os métodos ortodoxos de engenharia sanitária funcionam em cidades organizadas, que não é a realidade da bacia drenante da Baía de Guanabara, onde existem muitas favelas e cidades formais semiacabadas, além de extensas áreas planas onde a condução do esgoto tem que ser feita por meia de elevatórias. A construção da rede de saneamento e elevatórias é de difícil operação, porque em muitas áreas as equipes não conseguem entrar porque falta segurança — destacou David Zee. — Precisamos inovar, desenvolver outras estratégias, soluções híbridas, como as Unidades de Tratamento de Rios (UTRs), verdadeiros filtros que drenam extensas áreas populosas, e acoplá-las à engenharia tradicional. As palavras-chave são exequibilidade e resultado.
Professor da Coppe/UFRJ, o engenheiro civil de recursos hídricos Paulo Canedo salienta que as intervenções devem ser realizadas nos rios e não diretamente na Baía.
— É preciso se preocupar com as regiões habitadas pelo ser humano, que são banhadas pelos rios e levam as águas usadas pela população local. Eu faria um investimento forte no saneamento dos municípios que estão no entorno da Baía, principalmente na Baixada e na cidade do Rio. Como consequência, as águas na Baía ficarão limpas. Isso significa que não estou almejando, em primeira instância, despoluir a Baía, mas onde o problema tem início.