Rio

Famílias: há mais dois corpos entre os mortos de operação em morros de Santa Teresa e Catumbi

Moradores do Morro dos Prazeres fizeram buscas na mata no sábado para localizar dois jovens
Vídeo mostra moradores descendo corpo do Morro dos Prazeres Foto: Reprodução
Vídeo mostra moradores descendo corpo do Morro dos Prazeres Foto: Reprodução

Moradores do Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, afirmam que pelo menos outros dois corpos foram encontrados na mata após a operação da Polícia Militar na última sexta-feira. Eles são Matheus Lima Diniz, de 22 anos, e Michael da Conceição de Souza, de 20. Assim, o número de mortos sobe para 15 — cinco no Morro dos Prazeres e dez dentro de uma casa do Fallet.

— Meu irmão foi encontrado no sábado com a ajuda dos moradores. Está sendo muito difícil. Perdi ele e meu marido — conta Paloma da Conceição, irmã de Michael, que será enterrado hoje no Cemitério São João Batista, em Botafogo, Zona Sul do Rio.

A jovem, que pediu para não ser identificada, era casada com Gabriel da Silva Carvalho, de 22 anos. O rapaz já tinha sido condenado por roubo a residência, mas, segundo a mulher, tinha deixado o crime e vendia água na praia.

Além de Gabriel, também foram enterrados ontem no São João Batista: Roger dos Santos Silva, de 18, David Vicente da Silva, de 22, Felipe Guilherme Antunes, de 21, Enzo Souza Carvalho, de 18, Maikon Vicente da Silva, 17, Vitor Hugo Santos Silva, 16, Luan Cristian Lima de Oliveira, Carlos Alberto Jerônimo Castilho, Jeferson de Oliveira, Gabriel da Silva Carvalho, Robson da Silva Pereira e André Leonardo Paz Dias. Estes últimos não tiveram as idades reveladas. O nome da 13ª pessoa também não foi divulgado.

Homens foram enterrados neste domingo Foto: Thiago Freitas / Agência O Globo
Homens foram enterrados neste domingo Foto: Thiago Freitas / Agência O Globo

A manicure Andreia Lima, mãe de Matheus, que ajudou no resgate do corpo do filho, conta que chegou a ir, na sexta-feira, ao IML e ao Hospital municipal Souza Aguiar atrás dele. Só encontrou um dia depois, na mata. Ela não sabe quando vai enterrá-lo.

— Ele foi preso em 2014, mas é muito difícil ver um filho morto. Ainda não sei como vou enterrar. Não tenho dinheiro — conta.

Um vídeo mostra o momento em que as pessoas descem com um corpo. Outras imagens mostram os dois corpos na frente do Quartel de Bombeiros de Santa Teresa. A Polícia Militar afirmou que não tem conhecimento dos corpos. A Polícia Civil não respondeu aos questionamentos. O Corpo de Bombeiros confirmou que dois corpos foram levados até o quartel no último sábado e que eles foram levados para a Divisão de Homicídios, na Barra.

Segundo a PM, a ação de sexta-feira aconteceu nas comunidades da Coroa e do Fallet para intervir numa guerra entre facções criminosas rivais, que disputam o controle de território naquela região. “Ao final da ação, 11 criminosos foram presos e outros 15, encontrados feridos, foram socorridos no Hospital Municipal Souza Aguiar. Entre os feridos, 13 vieram a óbito e dois estão internados”, disse a corporação, em nota. “Durante a operação, os policiais apreenderam quatro fuzis, 14 pistolas, seis granadas, três radiocomunicadores, além de carregadores e drogas”, acrescentou.

A mãe de um dos mortos afirmou ontem que o corpo do filho foi jogado em caçambas e levado para o hospital pelos policiais numa caminhonete.

— Jogaram os corpos dos nossos filhos como se fossem animais — disse.

Flagra de corpos empilhados no porta-malas da viatura do Choque foi um dos pontos que causou polêmica; sobre a foto, PM diz apenas que agentes estão sentados sobre um assento de ferro, não sobre os cadáveres, e não explicou se é comum transportá-los desta forma Foto: Reprodução
Flagra de corpos empilhados no porta-malas da viatura do Choque foi um dos pontos que causou polêmica; sobre a foto, PM diz apenas que agentes estão sentados sobre um assento de ferro, não sobre os cadáveres, e não explicou se é comum transportá-los desta forma Foto: Reprodução

A reclamação dos parentes, que não negam o envolvimento dos mortos com o crime, é de que eles deveriam ter sido presos.

— Eles foram executados, não tiveram chance de nada. A gente sabe que estavam em más companhias, mas eles se renderam. Como isso pode ser uma troca de tiros se nenhum policial sofreu nada? — questionou um parente de Roger e Vitor Hugo, que eram irmãos.

Além dos dois, outras vítimas tinham parentesco. Maikon e de David também eram irmãos. Felipe e Enzo eram primos.

A mãe de outro jovem morto contou que o corpo do filho tinha afundamento de crânio, e o abdômen tinha sido aberto a faca. Segundo ela, após as mortes, a polícia já esteve em sua casa três vezes fazendo ameaças.

A PM contesta todas as acusações. O Batalhão de Choque, que participou da operação, chegou a emitir comunicado afirmando ter recusado propina de R$ 100 mil para não prender Gilmar Douglas Quintanilha Braz, conhecido como Gilmarzinho, que seria o número dois do tráfico do Fallet.

A Anistia Internacional divulgou, no fim de semana, uma nota cobrando apuração imediata da Polícia Civil e do Ministério Público.