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Cultura

Nanda Costa: 'Com a pandemia, nossos sonhos foram congelados'

Atriz de 'Amor de mãe' revela projeto de gravidez adiado pela crise do coronavírus e descreve retorno às gravações da novela
A atriz Nanda Costa, em cena da novela "Amor de mãe", nas gravações guiadas pelos rígidos protocolos de segurança impostos pela pandemia de Covid-19 Foto: Divulgação/TV Globo/João Miguel Junior
A atriz Nanda Costa, em cena da novela "Amor de mãe", nas gravações guiadas pelos rígidos protocolos de segurança impostos pela pandemia de Covid-19 Foto: Divulgação/TV Globo/João Miguel Junior

RIO - Uma vez, quando criança, ouvi que o tempo não passa. Quem passa é a gente. E isso me fez pensar no tempo que eu tinha, que eu tenho, e como o estou usando. O meu avô me ensinou que, na vida, é preciso ter foco, o que nunca saiu da minha cabeça. Aprendi a fazer planos. E aprendi a ter controle desses planos, ou achar que eu tinha.

Depois de cinco anos com a Lan Lanh, fui surpreendida com um desejo cada vez maior de ser mãe. Nós duas começamos a conversar, a planejar e iniciei o tratamento de fertilização. Mas, em meio ao processo, o diretor José Luiz Villamarim, com quem sempre quis trabalhar, me convidou para fazer a Érica, minha personagem em “Amor de Mãe”. Conversei com Lan. Decidimos, juntas, que eu faria a novela e seguiria com o nosso projeto assim que tudo terminasse.

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Mas a vida ninguém controla. E, desta vez, o imprevisto mexeu com o destino de todo mundo. Com a pandemia, nossos sonhos foram congelados. E veio um turbilhão de medos, incertezas. Nunca planejei começar uma novela aos 32 anos e terminar aos 34. O presente foi atravessado por um futuro que passou a ser chamado de “novo normal”. E a Globo parou. Parecia que o Brasil todo havia parado, pelo menos para mim.

Era dia 15 de março, eu me lembro bem. Eu estava retocando o megahair para a personagem. Entrei no carro e recebi uma ligação da produção da novela, dizendo que pararíamos, pelo menos, por duas semanas.

Tudo parecia muito distante em março. Incerto. Como voltar a dar vida à Érica? Nunca, numa novela, tivemos duas temporadas. Assumir a pandemia na trama trouxe um grande conforto, e a Manuela Dias foi brilhante nessa adaptação.

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Ficamos na expectativa sobre quando seria a retomada das gravações. Mas tanto para a empresa quanto para o Zé (nosso diretor), importava o “como voltar”, não o “quando”. Então foi desenvolvido um protocolo de segurança, que, hoje, me faz sentir totalmente segura no set.

É claro que não dá para esquecer que ainda não temos vacina e um tratamento eficaz. A doença está aí e todo cuidado é pouco. Mas a gente vai aprendendo a lidar com as limitações que essa pandemia nos trouxe. Hoje em dia, eu já nem penso: quando saio, pego a máscara e o álcool gel quase no automático. Durante um tempo eu imagino que vá ser assim. Mas é assim que vamos conseguir estabelecer novas rotinas e vamos poder trabalhar.

A primeira pessoa que reencontrei nesta retomada foi a Regina Casé. A parte mais difícil foi não poder abraçá-la. E isso dava para ver no nosso olhar. Apesar das máscaras que usávamos, também ficou clara a nossa alegria pelo reencontro naquela sexta-feira. Gravar neste novo normal, separados por máscara ou acrílico, faz com que a gente valorize pequenas coisas, como um simples sorriso.

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Estamos com a equipe reduzida, mas rever parte do time, saber que a pessoa está ali, com saúde, não tem preço. Quando vi a Zezé, camareira, foi indescritível. Não tem como não vibrar com esse retorno. E, assim, a gente vai se reinventando. Acho que tiramos de letra essas primeiras semanas.

Hoje, escrevo esse texto dentro de um quarto de hotel. Confinada para poder fazer cenas com um pouco mais de contato na “casa de Lurdes”, com a família da Érica. Escrevo, olho e penso na vida. Na minha cabeça, surgem frases feitas como “o trabalho dignifica o homem”. Mas sem saúde não há dignidade. É muito importante que a gente se cuide e cuide do outro. Nunca se precisou tanto de cuidado e afeto. Quanto a mim... bom... depois que a Dona Lurdes reencontrar o seu Domênico, sigo em busca do meu amor de mãe. Muita saúde e sorte a todos!