Rio de Janeiro

Por Edivaldo Dondossola, Bom Dia Rio


Integrantes e comunidade comemoram vitória da Estação Primeira de Mangueira

Integrantes e comunidade comemoram vitória da Estação Primeira de Mangueira

Os compositores do samba-enredo da Mangueira no carnaval 2019 festejam a segunda vitória da letra, escrita a seis mãos. E dois deles garantem que a filha foi o grande amuleto para a conquista do prêmio, já que a menina nasceu dois dias antes da final da escolha do samba, e no dia do aniversário de Cartola. Ao todo, foram inscritas 18 composições e só três chegaram à final.

“A Havana deu sorte para a Mangueira, tanto para o samba ser escolhido quanto para ser campeã na Avenida”, diz a mãe da pequena, Manu da Cuíca.

Filha de compositores, Havana deu sorte para o samba-enredo vencedor da Mangueira — Foto: Reprodução/ TV Globo

Foram quase cinco meses entre a escolha do samba-enredo que representaria a escola na Avenida até a consagração da escola campeã.

Os compositores também falaram ao Bom Dia Rio na manhã desta quinta-feira (7)) que ainda estão emocionados pela conquista do prêmio na noite anterior e que a vitória dupla é dedicada ao “povo da mangueira”, a quem chamam de “heróis de barracão”.

“A emoção é muito grande, especialmente por a gente poder trazer para a avenida a história desse povo brasileiro que é feita muito mais por heróis de barracões que por príncipes e princesas”, disse Manu da Cauíca.

“Eu queria dedicar, inclusive, essa vitória a todo o povo da Mangueira, que são os heróis exaltados pelo [carnavalesco] Leandro no enredo e dedicar a eles que fazem o carnaval, que constroem essa festa, e que muitas vezes ficam anônimos”, enfatizou o também compositor Tomaz Miranda.

O enredo da Mangueira se propôs a contar “a história que a história não conta”, ao lembrar a memória de negros, índios e pobres, que tiveram atos importantes na história do Brasil.

“Esse é o grande trunfo do enredo. A gente aprende na escola os heróis que na verdade não são os nossos heróis. Nossos heróis são os heris da resistência, quem lutou pela liberdade e por todas as demandas sociais que a gente sempre está brigando”, disse o compositor Luiz Carlos Máximo.

Comissão de frente da Mangueira questiona papel de ícones históricos do Brasil colonial — Foto: Rodrigo Gorosito/G1

Comissão de frente da Mangueira questionou papel de ícones históricos do Brasil colonial e apresentou os heróis da resistência do país — Foto: Rodrigo Gorosito/G1

Além de Manu da Cuíca, Luiz Carlos Máximo e Tomaz Miranda, assinam o samba-enredo os compositores Vitor Arantes Nunes, Sílvio Moreira Filho e Ronie Oliveira.

A escola também ganhou o prêmio Estandarte de Ouro, oferecido pelo jornal O Globo, de melhor escola do Grupo Especial em 2019, reconhecendo o desfile por completo: samba-enredo, alegorias, fantasias, evolução.

Confira a letra do samba enredo vencedor do carnaval carioca 2019:

História pra ninar gente grande

Mangueira, tira a poeira dos porões

Ô, abre alas pros teus heróis de barracões

Dos Brasil que se faz um país de Lecis, jamelões

São verde e rosa as multidões

Brasil, meu nego

Deixa eu te contar

A história que a história não conta

O avesso do mesmo lugar

Na luta é que a gente se encontra

Brasil, meu dengo

A Mangueira chegou

Com versos que o livro apagou

Desde 1500

Tem mais invasão do que descobrimento

Tem sangue retinto pisado

Atrás do herói emoldurado

Mulheres, tamoios, mulatos

Eu quero um país que não está no retrato

Brasil, o teu nome é Dandara

E a tua cara é de cariri

Não veio do céu

Nem das mãos de Isabel

A liberdade é um dragão no mar de Aracati

Salve os caboclos de julho

Quem foi de aço nos anos de chumbo

Brasil, chegou a vez

De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês

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