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Como identificar fake news e não ser enganado na internet

Apesar da expansão nos últimos dois anos, notícias falsas começam a ser combatidas por educadores, jornalistas e leitores
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Compartilhar manchetes sem ler a matéria ajuda na propagação de informações incorretas Foto: Fotolia
Compartilhar manchetes sem ler a matéria ajuda na propagação de informações incorretas Foto: Fotolia

A verdade não vive o seu melhor momento. Na sociedade da informação e dos conteúdos virais, as inverdades - ou completas mentiras, para ser mais claro - ganham força nas redes sociais e apps de mensagem, como o WhatsApp. É o que especialistas chamam de a “era da pós-verdade”, onde a fake news – notícia falsa, em inglês – reina em textos, imagens e áudios.

Com crescimento de 365% nas buscas, no último ano, “fake news” foi inclusive escolhida como a palavra de 2017 pelo prestigiado dicionário britânico Collins. Exatamente 12 meses após o Dicionário de Oxford anunciar “post-truth” – pós-verdade, em inglês – como o termo de 2016.

Exageradas ou sensacionalistas, as fake news trazem informações falsas sob o disfarce de reportagens verdadeiras. Essas notícias falsas são consideradas um sintoma da pós-verdade, movimento caracterizado pela valorização dos conteúdos carregados de emoção ou opinião em detrimento de informações devidamente verificadas.

De rumores sobre personalidades aos dados manipulados, a avalanche de notícias falsas tem mostrado seu potencial entre os mais variados assuntos e são especialmente apontadas como nocivas em processos políticos, como o Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia) e a eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos.

Em sua controversa conta no Twitter, Trump se refere às fake news regularmente, com críticas diretas à imprensa. Ao mesmo tempo, a vitória do bilionário tem sido contestada em meio a denúncias de bots (robôs virtuais simuladores de ações humanas) que compartilhavam milhares de notícias falsas sobre a adversária de campanha Hillary Clinton, durante o período eleitoral.

Esse poder todo das notícias falsas começou até a levantar inquietações sobre a influência das fake news nas eleições de 2018 no Brasil. Entretanto, segundo Juliana Sawaia, diretora de Learning & Insights do Kantar Ibope Media, o foco no tema deve inibir informações incorretas de se espalharem no momento de decisão política do ano que vem no país.

— O ponto alto das fake news foi com Trump e as acusações dele contra a imprensa, o que popularizou o termo. Fofocas, boatos, sempre existiram, mas essa denominação é relativamente nova. É possível perceber também uma popularização das ferramentas de fact-checking, assim como empenhos de empresas como Google e Facebook para barrar notícias falsas. Talvez nas eleições americanas o mundo ainda estivesse despreparado para essa tendência, mas acredito que a sociedade vai estar mais atenta ao problema depois disso — sugere Juliana.

Por meio de ativistas, imprensa e leitores, diversos setores da sociedade começam a contra-atacar as notícias falsas em iniciativas como agências de checagem, manuais online sobre compartilhamento de informações e fóruns sobre jornalismo. Os veículos de comunicação tradicionais têm dado especial atenção ao assunto, como o manifesto “Truth”, anunciado pelo The New York Times em defesa da verdade e da transparência, assim como uma plataforma de checagem de fatos anunciada pelo Google em fevereiro de 2017.

Foi com essa intenção que o GLOBO anunciou o lançamento da editoria “ É isso mesmo? ”, blog de checagem de fatos do jornal, que analisa notícias e boatos pelo Brasil oferecendo etiquetas como "verdadeiro", "falso", "não há confirmação", "não é bem assim" e outras avaliações. Iniciativas do tipo têm freado a velocidade com que as fake news se espalham, ao criarem um ambiente mais difícil para a propagação de informações incorretas.

Evitando as Fake News

Compartilhar manchetes sem ler a matéria. Encaminhar áudios sem fontes confiáveis. Enviar correntes online sem checar os fatos. As fake news podem morar nesses pequenos atos do cotidiano. Nessa dinâmica, o papel dos leitores é apontado como fundamental para impedir a propagação de informações incorretas.

— É necessário estar de olho na origem da notícia. É uma fonte idônea? Qual o endereço dela? Uma dica importante é compartilhar aquilo que se leu. Uma pesquisa americana mostra que quase 60% das pessoas compartilham notícias sem ler o conteúdo por inteiro. É válido sempre desconfiar de notícias alarmantes, especialmente se vierem de veículos desconhecidos. Até mesmo a data é motivo de atenção: o fato pode ter ocorrido, mas ser antigo. Uma notícia fora de contexto é prejudicial ao leitor e à sociedade. Todos devemos ter responsabilidade ao compartilhar um conteúdo — explica Daniela Oliveira, professora de Jornalismo Digital da Universidade Veiga de Almeida (UVA).

Apesar do aumento das notícias falsas em 2016 e 2017, e dos desafios de conscientização que o assunto traz à tona, os leitores já têm métodos para diferenciar fake news de reportagens com fatos checados. Isso é o que demonstra a pesquisa “Trust in News”, realizada pela Kantar Brasil Insights. Segundo o relatório, 39% das pessoas usam mais fontes de notícias que há um ano, assim como 73% dos entrevistados consideram o jornalismo fundamental para a democracia.

Porém, a surpresa é quanto aos critérios do público para acreditar naquilo que lê. Enquanto 78% das pessoas usam o meio on-line para se informar, mais de 60% percebem as mídias sociais como menos confiáveis para o consumo de notícia. Os resultados indicam que a maior circulação de informações falsas na internet vem acompanhada de um crescimento no cuidado dos consumidores em relação ao conteúdo, contrariando a impressão coletiva sobre o uso de redes sociais.

Do layout da página à URL do veículo, cada detalhe pode servir para identificar as fake news na internet. Voltar a atenção para isso aumenta as chances de acesso a conteúdos verdadeiros. Para Juliana Sawaia, os detalhes são fundamentais na identificação de textos fraudulentos e, por isso, os veículos consolidados têm criado maneiras, tanto editoriais quanto visuais, de serem identificados como confiáveis.

— À medida que as pessoas ficam mais conscientes dos impactos de uma notícia falsa, a imprensa se prepara para mostrar credibilidade, usando a marca e o legado para se consolidar como fonte de respeito. Isso ajuda o público a diferenciar os sites. A URL faz sentido ou parece estranha? As fontes são relevantes ou duvidosas? O que essa fonte está propagando? Isso parece coerente? Até mesmo prestar atenção na identidade visual faz a diferença. Há empresas que criam um rosto parecido com o site original para enganar os leitores — comenta Juliana.

Os estudantes e as notícias falsas

O crescimento das fake news - e de todas as conversas sobre elas - chegou a ser cogitado por professores de Ensino Médio como um possível tema de redação para o Enem 2017. E apesar de não ter sido esse o caso, a influência das informações falsas no aprendizado de estudantes começa a se tornar uma questão em sala de aula.

— Estou orientando duas pessoas em monografias sobre o tema. Uma aluna está estudando a Agência Lupa, especializada em jornalismo de fact-checking. Já outro produziu um documentário sobre fake news, entrevistando especialistas. Em sala de aula, já tivemos jornalistas especialistas em checagem de dados. É preciso que o recém-formado, já um profissional, saia da instituição preparado para lidar com os assuntos essenciais  do jornalismo atual. O próximo passo são as oficinas de checagem com estudantes — completa Daniela, que também orienta alunos de Jornalismo na UVA.

Mais do que se informar sobre o tema em razão de possíveis provas, há dicas para que os candidatos saibam como buscar informações na internet, inclusive sobre o Enem.

Por exemplo, durante as inscrições em programas de acesso à universidade, feito Prouni e Fies, os sites oficiais são indicados como as melhores fontes, como o portal do Inep ou do Enem. Prestar atenção nas notícias de jornais e revistas confiáveis, ou seja, com credibilidade e apuração aprofundada, também é uma escolha válida.