Política Brasília

Se MP de Bolsonaro cair, sete generais viram ministros, diz líder do governo

Estratégia é brigar para manter o Coaf com Moro, mesmo que signifique voltar para 29 ministérios de Temer
O líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (à direita), durante de reunião de líderes Foto: Daniel Marenco/Agência O Globo/14-05-2019
O líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (à direita), durante de reunião de líderes Foto: Daniel Marenco/Agência O Globo/14-05-2019

BRASÍLIA — O líder do governo na Câmara da Deputados, Major Vitor Hugo (PSL-GO), defende a manutenção do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) no Ministério da Justiça a todo custo. A aliados, ele tem dito que, se o Congresso não chegar a um acordo sobre a Medida Provisória (MP) que montou o governo Bolsonaro, o máximo que pode acontecer é o governo nomear sete generais para os ministérios que serão criados.

Se a Medida Provisória não for votada pela Câmara dos Deputados e pelo Senado até 3 de junho, a estrutura administrativa volta a ser a do governo Michel Temer, com 29 ministérios, sete a mais que os atuais. Se a MP perder a validade, o Coaf também retorna à pasta de Economia.

O GLOBO ouviu de três parlamentares que Major Vitor Hugo cogitou a hipótese de generais ocuparem os sete ministérios que serão criados caso os parlamentares não entrem em acordo e não consigam votar a medida. Procurado, o líder do governo disse que se trata de uma "brincadeira" e que o presidente terá "liberdade para indicar os ministros". Hoje, oito ministros são militares.

A MP passou por comissão especial na quinta-feira passada, mas alguns pontos, como a criação de dois ministérios (Integração Nacional e Cidades), a transferência do Coaf para o Ministério da Economia e a proibição de que auditores fiscais investiguem crimes não fiscais foram questionadas por um grupo de parlamentares. A resistência acabou impedindo a votação da MP na Câmara dos Deputados na semana passada.

A declaração de Vitor Hugo expõe uma divergência entre ele e o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que havia negociado com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para que a MP fosse votada no plenário na semana passada. Naquele dia, um grupo de líderes do PPS, PSC, Podemos, Patriota, Novo e PV se uniram para impedir a votação, acusando Maia de encaminhar a MP às pressas para evitar discussão sobre a questão do Coaf.

Onyx, por outro lado, já havia admitido a derrota nos bastidores e contava com a aprovação célere da medida. Joice Hasselmann (PSL-SP), líder do governo no Congresso Nacional, também estava a par deste acordo, em que o governo já abria mão do Coaf com Moro. Apesar disso, um grupo encabeçado por Vitor Hugo resistiu à votação, que acabou não ocorrendo.

Naquele momento, Maia colocou cinco Medidas Provisórias diferentes para tramitar com prioridade, ou seja, aumentou a fila de MPs que devem ser analisadas antes da votação da reforma administrativa. Nesta terça-feira, líderes do centrão e da oposição decidiram não votar nenhuma MP durante a semana, enquanto Rodrigo Maia está em viagem aos Estados Unidos.

A resistência ao texto da MP que veio da comissão especial uniu os líderes do grupo de partidos pequenos, que voltaram a se reunir na manhã desta terça-feira com Vitor Hugo. Representando 43 parlamentares, os líderes foram convidados a se encontrar com Bolsonaro na tarde desta terça-feira.

Líderes do centrão estão irritados com declarações recentes de Vitor Hugo, que indicou ter apoio de "vários líderes" para votar a MP ainda esta semana e colocou em suspeição parlamentares que queriam votar "tão apressadamente" a proposta na última quinta-feira.