Economia

Quase metade dos jovens empregados com nível superior está em postos de menor qualificação

Considerando o total de trabalhadores com diploma, este índice é de 38%, o maior patamar da história, diz Ipea

Carteira de trabalho Foto:
Roberto Moreyra
Carteira de trabalho Foto: Roberto Moreyra

RIO - Quase metade (44,2%) dos jovens empregados com diploma universitário está em postos de menor qualificação, segundo estudo divulgado pelo Ipea nesta quarta-feira. Esse percentual cresceu nos últimos quatro anos. No fim de 2014, eram 38,1%. Quando considerado o total de trabalhadores com curso superior, este índice é de 38% - o maior patamar da história. Os dados foram extraídos da pesquisa Pnad Contínua do IBGE, que é realizada desde 2012.

Segundo uma das autoras do estudo, a economista Maria Andreia Lameiras, é comum que crises econômicas, como a que ocorreu de 2014 a 2016 no Brasil, levem trabalhadores a ocuparem vagas abaixo da sua qualificação, devido ao medo do desemprego.

- A crise afetou mais os jovens, inclusive os com qualificação superior. E, quando as pessoas com maior grau de escolaridade são atingidas, isso significa que as camadas inferiores estão ainda em maior desvatagem. É o efeito perverso da recessão. Se quem tem diploma só consegue emprego que não exige ensino superior, quem não tem não consegue emprego algum - diz Maria Andréa.

Ainda segundo a economista, quem tem diploma do ensino superior e está empregado em função compatível tem salário 75% maior, em média, que os ocupados em empregos que exigem nível de escolaridade mais baixo.

- Isso explica porque muitos jovens se formaram e estão endividados. Eles fizeram financiamento para pagar a faculdade e, quando se formaram, encontraram um mercado de trabalho deteriorado, com vagas de baixos salários.

Dados divulgados pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em agosto, mostraram que cerca de 46% dos jovens brasileiros, entre 25 a 29 anos, estão endividados. Na faixa de 18 a 24 anos, a porcentagem é de 19%. Se somados os dois grupos, 12,5 milhões de jovens estavam com as contas no vermelho. Gastos com educação eram um dos principais fatores.

Esse aumento foi maior no trabalho por conta própria. No começo de 2012, do total de trabalhadores empregados com diploma, 13% eram autônomos. Esse percentual subiu para 20% no terceiro trimestre de 2018.

- Um exemplo bastante comum é o motorista de aplicativo de transporte. Todo mundo já andou num carro dirigido por um engenheiro - exemplifica a economista do Ipea.

A parcela de trabalhadores empregados com nível superior cresceu 6% em um ano, desde o terceiro trimestre de 2017. Essa expansão só não foi maior que a do subgrupo imediatamente inferior, composto por trabalhadores com ensino superior incompleto, cuja taxa de expansão no período foi de 6,5%. Os mais escolarizados formam o grupo com a menor taxa de desemprego, sinalizando que, de fato, um maior nível de instrução melhora não só a inserção como também a permanência no mercado de trabalho, apesar de boa parte estar ocupada em vagas que exigem menor escolaridade.

Um em cada 4 procura emprego há mais de 2 anos

O estudo do IPEA também mostra que, de cada quatro desempregados no trimestre encerrado em outubro deste ano, um está à procura de recolocação há mais de dois anos. O Brasil atualmente possui 12,7 milhões de desempregados.

- Quanto mais tempo fora do mercado de trabalho, mais ele demora para voltar. E os mais afetados por esse desemprego longo são as pessoas com menor qualificação, porque a concorrência aumentou muito durante a crise - explica a economista.

O estudo ainda destaca que, em contrapartida, houve geração de mais de 790 mil novas vagas com carteira assinada em 2018, segundo os dados do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged) divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

— Há uma recuperação moderada do mercado de trabalho no Brasil, mas com a informalidade ainda alta e com um aumento na população subocupada — analisa Maria Andreia.