Exclusivo para Assinantes
Economia

Previdência: equipe de transição estuda aumentar alíquota de servidores e militares

Técnicos avaliam que arrocho fiscal requer também ajuste nas receitas
Notas de real Foto: Pixabay
Notas de real Foto: Pixabay

BRASÍLIA - A equipe de transição trabalha numa proposta de ampla revisão tributária que envolve aumentos de impostos para servidores e investidores. As medidas foram desenhadas pelos técnicos do Ministério da Fazenda e encampadas por auxiliares do presidente eleito, Jair Bolsonaro. Entre as ações que podem ser adotadas estão: a elevação da alíquota previdenciária para servidores federais civis e militares, o fim da isenção para algumas aplicações financeiras (LCIs e LCAs) e a tributação de fundos exclusivos de investimento, assim como de lucros distribuídos e dividendos. Juntas, as ações podem resultar numa arrecadação adicional de R$ 3 7,65 bilhões em 2019. Em quatro anos, o montante seria de R$ 128,58 bilhões.

Embora o presidente eleito, Jair Bolsonaro, tenha assumido o compromisso de não aumentar impostos, os técnicos avaliam que o arrocho fiscal que precisa ser implementado no país requer não apenas cortes de gastos, mas ajustes do lado das receitas. Além disso, há outras justificativas para as medidas. O argumento para mudar a tributação de investimentos é que há distorções no mercado financeiro. No caso das LCIs e LCAs, por exemplo, a avaliação é que a isenção cria uma assimetria nas condições de competitividade de fundos de investimento. O interesse da equipe de Bolsonaro em fazer as mudanças nas letras de crédito foi antecipado nesta terça-feira pelo blog da colunista do GLOBO Míriam Leitão.

Outra medida bem vista dentro da futura equipe econômica é a elevação das alíquotas previdenciárias para servidores e militares. Para os civis, haveria o aumento da alíquota de 11% para 14%. Já para os militares, a ideia seria elevar a alíquota de 7,5% para 11%, incluindo pensionistas. No caso dos militares, o estudo destaca que a medida elevaria em 47% a arrecadação no sistema, em que a despesa é 12 vezes maior que a receita. Essas duas ações teriam, juntas, impacto positivo de cerca de R$ 17 bilhões em quatro anos.

A reforma de maior ganho fiscal seria a instituição da tributação sobre lucros e dividendos, hoje isentos. A ideia seria retornar à regra vigente até 1995, com a cobrança de alíquota linear de 15% — um modelo defendido desde o início da campanha eleitoral por Paulo Guedes, futuro ministro da Economia. Segundo a Fazenda, a medida aumentaria a arrecadação em R$ 95,12 bilhões nos próximos quatro anos.

Para o IR de pessoas físicas, a sugestão é criar uma alíquota marginal de 35% para quem ganha mais de R$ 300 mil por ano (média mensal de R$ 25 mil). Os técnicos defendem que haveria ganho fiscal de cerca de R$ 6 bilhões por ano. Ao todo, incluindo medidas de controle de despesas, como a reforma da Previdência, e revisão de benefícios fiscais, o ganho seria de R$ 949,6 bilhões.

As mudanças precisariam ser feitas via projeto de lei, tendo de passar pelo Congresso.

Todas as ações constam de um estudo do Ministério da Fazenda, que sugere essas e outras medidas para aumentar as receitas. Se aplicadas, todas elas poderiam elevar a receita em R$ 272 bilhões nos próximos quatro anos. Somadas a cortes em benefícios tributários e controle de despesas, permitiriam um ajuste fiscal de quase R$ 1 trilhão em quatro anos.

- Acho que a redução de isenção de tributo é um caminho necessário a ser pensado. Hoje nós temos mais de R$ 300 bilhões em benefícios tributários. Então, necessariamente, tem que ser repensado. Se vai ser LCI, LCA ou outro tributo, é uma coisa a ser discutida no próximo governo - disse nesta terça o ministro do Planejamento, Esteves Colnago, indicado para continuar na equipe econômica como secretário adjunto da Fazenda.

Indicado à Secretaria da Fazenda, Waldery Rodrigues Júnior também disse que as medidas estão sendo avaliadas:

- Há uma completa assimilação e um diálogo extremamente positivo para a questão institucional e para o país. Estão sendo consideradas para análise.

No relatório, a Fazenda mapeou, até setembro, 395 riscos fiscais para os próximos anos. Desse total, 106 são marcados como prioritários.

Impacto fiscal
(em R$ bilhões)
Elevação da Alíquota Previdenciária dos Servidores e Pensionistas Militares para 11%
Elevação da Alíquota Previdenciária dos Servidores Federais Civis de 11% para 14%
2,5
2,54
2,45
2,41
2
1,9
1,8
1,7
2019
2020
2021
2022
2019
2020
2021
2022
9,9
7,4
Ao longo
dos quatro
anos
bilhões
bilhões
Tributação de Lucros Distribuídos e Dividendos
Imposto de Renda LCA/LCI - 15% Tributação
26,25
24,54
22,93
21,4
1,48
1,38
1,21
1,29
2019
2020
2021
2022
2019
2020
2021
2022
95,12
5,36
bilhões
bilhões
Tributação de Fundos Privados
Total do impacto por ano
em R$ bilhões
2019
2020
2021
2022
37,65
10,8
O valor desta tributação para os próximos anos não foi previsto
28,52
30,27
2019
2020
2021
2022
32,14
10,8
Impacto em quatro anos
R$ 128,58 bi
bilhões
Fonte: Ministério da Fazenda
Impacto fiscal
(em R$ bilhões)
Elevação da Alíquota Previdenciária dos Servidores Federais Civis de 11% para 14%
2,5
2,54
2,45
2,41
2019
2020
2021
2022
9,9
Ao longo
dos quatro
anos
bilhões
Elevação da Alíquota Previdenciária dos Servidores e Pensionistas Militares para 11%
2
1,9
1,8
1,7
2019
2020
2021
2022
7,4
bilhões
Tributação de Lucros Distribuídos e Dividendos
26,25
24,54
22,93
21,4
2019
2020
2021
2022
95,12
bilhões
Imposto de Renda LCA/LCI - 15% Tributação
1,48
1,38
1,21
1,29
2019
2020
2021
2022
5,36
bilhões
Tributação de Fundos Privados
10,8
O valor desta tributação para os próximos anos não foi previsto
2019
2020
2021
2022
10,8
bilhões
Total do impacto por ano
em R$ bilhões
2019
2020
2021
2022
37,65
28,52
30,27
32,14
Impacto em quatro anos
R$ 128,58 bi
Fonte: Ministério da Fazenda