Política

Empresa de limpeza é investigada em desdobramento da Lava-Jato em SP

Concessionária de limpeza utilizava empresas de fachada para lavar dinheiro, segundo investigações
Superintendência de São Paulo da Polícia Federal Foto: Divulgação
Superintendência de São Paulo da Polícia Federal Foto: Divulgação

SÃO PAULO — A Polícia Federal (PF) e a Receita Federal deflagraram na manhã desta quinta-feira um desdobramento da Operação Lava-Jato em São Paulo. Batizada de Operação Descarte , a ação tenta desarticular um esquema criminoso voltado à lavagem de dinheiro.

O grupo controlava diversas empresas de fachada e usava pessoas interpostas, os chamados "laranjas", que figuravam como proprietários dessas companhias.

O Consórcio Soma, que realiza os serviço de coleta de lixo da cidade de São Paulo, era o maior "cliente" do esquema, segundo os investigadores. O grupo teria feito pagamentos que somam R$ 100 milhões a empresas de fachada.

Desde 2011, ano da assinatura do contrato com a Prefeitura de São Paulo, o consórcio recebeu R$ 1,1 bilhão de reais. O consórcio teria simulado a aquisição de detergente, sacos de lixo, uniformes e tintas em pó para justificar a transferência dos R$ 100 milhões.

Segundo o delegado Victor Hugo Rodrigues Alves Ferreira, o uso do esquema de lavagem de dinheiro para pagar agentes públicos é provável, mas ainda não foi comprovada.

— A investigação se iniciou para apurar inicialmente lavagem de dinheiro. Mas eu diria que é mais que possível, é bastante provável que haja (agentes públicos). Mas isso será objeto de análise agora depois das buscas — afirmou o delegado Victor Hugo Rodrigues Alves Ferreira.

Agentes da Polícia Federal cumprem 15 mandados de busca e apreensão em residêncais e empresas nas cidades de São Paulo, Santos, Paulínia, Belo Horizonte e Lamin (Minas Gerais).

A Operação Descarte teve origem em duas fiscalizações iniciadas separadamente no âmbito da Operação Lava-Jato. Ao logo das investigações, auditores fiscais verificaram que se tratavam de pontas diferentes do mesmo esquema, segundo a Receita Federal.

De acordo com a PF, as empresas que participavam do esquema simulavam a venda de mercadorias aos interessados em lavar dinheiro. O interessado pagava por produtos inexistentes por meio de transferências bancárias ou boletos. Esses valores eram remetidos para as empresas de fachada e os valores enviados para o exterior ou para pessoas ligadas ao cliente inicial.

Uma das células do esquema teria remetido parte dos valores para um funcionário público argentino, Gustavo Hector Arribas, em parceria com operadores financeiros que foram presos na Lava-Jato. Arribas, que ocuparia um cargo na área de inteligência do país vizinho, teria recebido US$ 850 mil dólares de uma das empresas de fachada investigadas.

A PF afirma que os crimes investigados são o de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, sonegação tributária e associação criminosa, além do aprofundamento das investigações para a coleta de indícios de autoria em relação aos crimes de corrupção ativa e passiva.

Os investigadores utilizaram depoimentos de dois colaboradores da Lava-Jato, Alberto Youssef e Leonardo Meirelles, para entender o suposto financiamento do esquema. Youssef admitiu que recebeu valores de Atila para posterior disponibilidade dos recursos na Suíça.

SERRALHEIROS MOVIMENTAVAM MILHÕES

Algumas das empresas de fachada identificadas pela Polícia Federal e a Receita Federal tinham como proprietários funcionários de uma bicicletaria e serralheria em Santos. De acordo com declarações prestadas aos investigadores, os laranjas disseram ter sido cooptados mediante pagamento em dinheiro para figurarem como sócias.

Uma delas, a empresa LMZ, emitiu notas fiscais no valor de R$ 39 milhões para a compra de mercadorias como detergentes que, segundo a PF, seriam simuladas. Outra empresa, a Q1, afirmou ter vendido detergentes, tinta pó e sacos de lixo num valor que somaria R$ 13 milhões. As diligências policiais mostraram que nenhuma dessas empresas existe nos endereços declarados.

Os beneficiários desse esquema eram os verdadeiros donos das empresas, segundo a Polícia Federal. Um deles, que atuava em Minas Gerais, usou uma das empresas envolvidas, a Orion, para comprar veículos das marcas Ferrari e Maserati. Ele também teria feito pagamentos a empresas de fachada de Alberto Youssef.

Em comunicado, o Consórcio Soma afirmou que "cumpre todas as exigências legais e que está prestando todas as informações solicitadas pela Polícia Federal".