Por G1


Marielle participou do evento na Lapa antes de ser assassinada; veja trechos

Marielle participou do evento na Lapa antes de ser assassinada; veja trechos

Antes de ser assassinada na noite da quarta-feira (14), a vereadora Marielle Franco (Psol) organizou e participou de uma roda de conversa chamada "Jovens Negras Movendo as Estruturas", sobre projetos artísticos tocados por mulheres negras na Casa das Pretas, espaço de convivência localizado na Lapa, Centro do Rio de Janeiro.

Ao falar sobre sua experiência como estudante de pré-vestibular comunitário, ela afirmou que sua filha, Luyara Santos, de 19 anos, só não estava presente no evento devido a uma conjuntivite.

"Eu sou fruto de pré-vestibular comunitário, a gente fez curso de formação juntas décadas atrás e a Luyara... não tá aqui hoje porque tá com conjuntivite... mas a minha filha tem 19 anos e elas eram pequena, nossas filhas eram pequenas. E a gente estava com formação lá atrás", afirmou.

O evento aconteceu das 18h às 21h, segundo página no Facebook. A discussão foi transmitida ao vivo na página da vereadora na mesma rede social e se iniciou por volta das 19h10. O vídeo durou 1 hora e 38 minutos.

Pouco depois, a vereadora foi morta a tiros. De acordo com a Polícia Civil, ela teria sido seguida do momento em que saiu de evento por cerca de 4 km.

A reunião juntou outras mulheres negras de destaque em suas áreas para discutir o papel delas em ocupar locais de arte. Entre elas a escritora Ana Paula Lisboa, que falou sobre o evento no programa "Encontro com Fátima Bernardes" nesta quinta-feira (15).

Veja o que Marielle falou no encontro horas antes de ser assassinada:

"Estar militando e estar resistindo o tempo todo, mas com alguns períodos que a gente se fortalece na luta."

"Acho que esse é um ano para reflexão, para pensar nosso movimento e nossa ocupação dos espaços. A gente tá com um movimento de mais mulheres na política, mais mulheres no poder, mais mulheres nos espaços de decisão, porque só assim a gente vai ter a política pública qualificada."

"[Vamos] sair daqui com o corpo, com o coração e com a mente fortalecida com as batalhas que virão." 

"A gente está ativa, está militando e está resistindo o tempo todo."

“A gente tem diferenças, mas é a gente que está morrendo, é o nosso povo que está morrendo, então a gente tem que lidar para avançar.” 

“Na minha fala do 8 de março, a gente terminou com uma frase da Audre Lorde: ‘Não sou livre enquanto outra mulher for prisioneira, mesmo que as correntes dela sejam diferentes das minhas’”.

“Na Câmara, antes de a gente entrar, foram 10 anos antes com a Jurema [Batista]. E dez anos antes da Jurema, a Benedita [da Silva]. A gente não pode esperar mais 10 anos ou achar que eu estarei ali por 10 anos.”

"E da ameaça que tem hoje na nossa educação pública de qualidade, a busca do pré-vesibular é exatamente para romper essas estruturas que muitas vezes nos colocam. [...] Não pode ser só a força da retórica onde a saída é o processo educacional. A gente se encontra, se fortalece a partir desses estruturas educacionais também."

"Tem o lugar da onde a gente vai se reconhecendo, acho que isso é importante ser dito, mas ao mesmo tempo das mulheres que vão nos fortalecendo a encontrar quem a gente é."

"Quando eu chego na PUC-Rio em 2002, a minha perspectiva vinda de um pré-vestibular comunitário era da mulher favelada [...] De uma disputa que a gente chegava como o povo que vai ocupar, sim, porque eu sou a favelada e aquele local do ensino de qualidade, apesar de não ser ensino público, também era meu. Mas não tinha autoidentificação e o lugar da mulher negra favelada. Essa é uma construção, daí falar da história do nosso espelho, do reconhecimento junto a outra, que vai se formando."

Infográfico mostra como foi o assassinado de Marielle Franco — Foto: Karina Almeida/G1

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