Por Marcelo Baccarini


Mulheres indígenas recuperam renda com venda de máscaras estilizadas

Mulheres indígenas recuperam renda com venda de máscaras estilizadas

O item número um de proteção contra o coronavírus virou um símbolo de resistência – e de sobrevivência – para um grupo de mulheres indígenas da Amazônia. Elas contaram com ajuda internacional para dar início a esse negócio.

A pandemia tirou o sustento das artesãs da etnia Sateré Mawé, originária do baixo Rio Amazonas, que se organizaram em Manaus em uma associação de mulheres indígenas. Seis famílias viviam da venda de colares, brincos e puseiras, feitos de sementes, madeiras e penas em eventos e no comércio.

“Com a pandemia esses espaços fecharam e nós ficamos a mercê. Nós não tínhamos de onde tirar nossa fonte de renda, que era só do artesanato”, conta Samela Marteninghi, representante da Associação de Mulheres Sateré Mawé.

Além disso, os povos indígenas são muito vulneráveis ao Covid - e Manaus e região foram duramente atingidos pela doença. Sem renda, elas não tinham como comprar máscaras e itens de higiene básica. Foram três semanas de angústia, até que um projeto de apoio a causas ambientais, sediado na Inglaterra, ofereceu ajuda.

“Quando a crise global de saúde emergiu, nós decidimos apoiar, de alguma forma, os povos tradicionais, guardiões da Floresta Amazônica. Nós aí decidimos comprar dois meses de produção de artesanato e na medida em que nós estabelecemos essa nova amizade, essa nossa parceria, surgiu essa ideia, bem no início da pandemia, de utilizar todas as habilidades manuais das mulheres indígenas da associação pra começarem a fazer máscaras”, explica May East, diretora da Artists Project Earth.

Os ingleses doaram duas máquinas de costura e tecidos, que foram logo usados. Primeiro fizeram para todo mundo da comunidade.

“Primeiro, nós fizemos pra todo mundo da comunidade. Depois que todo mundo já tinha sua máscara, em forma de agradecimento, batemos uma foto e mandamos para eles. E essa foto eu também postei em nossas redes sociais, pra alimentar de conteúdo. E as pessoas gostaram bastante e começaram a encomendar essas máscaras pra gente”, conta Samela.

O negócio prosperou quando as mulheres perceberam que poderiam usar a própria arte para dar um salto nas vendas. Os povos indígenas têm o hábito de pintar o corpo em situações especiais como festas, casamentos ou para o combate. São usados grafismos, inspirados em traços da floresta , de animais ou da aldeia.

Quando as mulheres indígenas começaram usar esses grafismos pra pintar as máscaras, passaram a receber muitos pedidos. Enquanto o produto sem estampa é vendido por R$ 5, a mesma peça vale com o grafismo R$ 20. No geral, hoje, a associação de mulheres está faturando o dobro do que antes da pandemia.

De março pra cá, elas já venderam mais de dez mil máscaras pra todo o Brasil. “É a nossa identidade na máscara. As pessoas também gostaram. E aí a gente passou a vender essas máscaras com artesanato pra outros estados do Brasil”, comemora Samela.

“Além da proteção, é uma forma de mostrar que nós estamos resistindo de novo. Porque nós resistimos há mais de 520 anos e agora nos reinventamos e colocamos o nosso grafismo na nossa máscara pra falar: ‘estamos resistindo’, sem deixar nossa cultura, nossas características, nossa identidade de lado. Tenho esperança de que isso vai passar, de que nós vamos sobreviver e de que meu povo vai sobreviver e que outros povos indígenas também”, completa Samela.

Associação de Mulheres Indígenas Sateré Mawé
Rua São Marçal, 822- compensa 2
Manaus/AM - CEP: 69035-548
Telefone: 92 981592712
Email: mulheres.amism@gmail.com

ARTISTS PROJECT EARTH
www.apeuk.org/

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