Economia

Empresários estão otimistas com o Brasil, mesmo em ano eleitoral

Sete representantes do setor de tecnologia consideram que incertezas do cenário político não devem contaminar planos para 2018
CEOs estão otimistas com o Brasil mesmo em ano eleitoral Foto: Divulgação
CEOs estão otimistas com o Brasil mesmo em ano eleitoral Foto: Divulgação

SÃO PAULO — Presidentes de sete empresas de tecnologia estão otimistas com a conjuntura econômica brasileira, e não acreditam que o cenário eleitoral nebuloso atrapalhará os planos de suas companhias em 2018. Segundo eles, a retomada da pior crise da história, que terminou no ano passado, já é visível não só nos indicadores macroeconômicos, mas também em variáveis de suas empresas. No total, quinze CEOs estiveram reunidos nesta quinta-feira no hotel Grand Hyatt, em São Paulo, em encontro da Câmara de Comércio Internacional (ICC, na sigla em inglês).

O presidente global da Siemens, o alemão Joe Kaeser, disse que a situação é muito mais animadora no Brasil hoje do que era no ano passado, com as reações do setor privado e do agronegócio. Ele acredita numa futura agenda econômica, do próximo presidente, que ajude o país a deslanchar numa década de crescimento.

— Espero que depois das eleições, em outubro ou novembro, haja um governo que se oriente pela estabilidade, e desenvolva políticas nas áreas de infraestrutura e privatizações. Estou muito otimista com o Brasil e gosto muito do que vejo — afirmou.

Ele destaca a importância de o país ter um sistema tributário e bancários confiáveis.

No Brasil, o presidente da Siemens, o executivo André Clark, compartilha do otimismo do CEO global.

— Estamos dizendo para todo mundo: estamos apostando e investindo no Brasil nos próximos três anos, aconteça o que acontecer no campo político — afirmou, para completar: — A Siemens tem negócios em quase todos os segmentos da indústria, de máquinas de diagnósticos a sistemas eletrônicos. Todos voltaram (a crescer). A retomada aconteceu, é boa, significa e veio pra ficar.

Na SAP, a CEO, Cristina Palmaka, tem a mesma estratégia: diz que manterá os investimentos previstos, independentemente do que acontecer no âmbito político, mas pondera que, se o resultado das eleições for favorável ao setor produtivo, a empresa poderá até aumentar a injeção de recursos. Na Adobe, o vice-presidente para América Latina, Federico Grosso, diz que "o potencial de crescimento e de demanda para transformação no setor privado é mais forte que eventuais impactos no setor macroeconômico".

— É evidente que o setor de tecnologia não é anticíclico. Mas se olharmos para outros países, da Europa, ou mesmo os EUA, vemos que, em tempos de crise, a tecnologia vira uma grande alavanca de eficiência e transformação — afirma Grosso.

Na mesma linha, Antonio Eduardo Mendes da Silva, conhecido como Pitanga, da BSA, e Altair Rossato, da Deloitte, acreditam que o cenário é favorável e que as condições do crescimento podem ser sustentáveis. De acordo com o estudo Agenda 2018, da Deloitte, a variável eleitoral é a quarta mais importante no impacto dos negócios de 750 empresas avaliadas, depois de investimentos em infraestrutura, e das reformas da Previdência e tributária. Para o setor de tecnologia, Pitanga reforça a necessidade de o governo avançar na área regulatória, como na de segurança e privacidade de dados e da localização de servidores.

Mais ponderada, Paula Bellizia, presidente da Microsoft, se diz uma "otimista cautelosa", e reconhece que é difícil a economia do o país passar totalmente ao largo dos desdobramentos políticos. Ao mesmo tempo, reforça que há atualmente um descolamento maior entre a economia e a política no país do que há 12 meses, e que as empresas de tecnologia voltaram a investir em inovação, e não só no enxugamento de despesas, como é comum em períodos de crise.

— Se olhamos os indicadores de negócio, de performance, dentro da companhia eu vejo [a conjuntura econômica] com otimismo. Começamos a ver o setor de pequenas empresas retomando a demanda na busca de tecnologia, de produtividade, de colaboração na nuvem, ou seja, de projetos ligados à inovação, e não só à redução de custos — afirmou.

Os executivos participaram do lançamento da Aliança Brasil 4.0 que prevê um conjunto de ações de estímulo a novas tecnologias para a competitividade brasileira, sobretudo no âmbito internacional. O termo Indústria 4.0 foi criado em 2011 na Alemanha, e refere-se a um conjunto de tecnologias, como robótica avançada, internet das coisas, big data e realidade aumentada, que melhoram a produtividade de quem trabalha.

O governo federal anunciou na quarta-feira, no Fórum Econômico Mundial, também em São Paulo, um conjunto de medidas para fortalecer a indústria 4.0. As ações incluem a disponibilidade imediata de linhas de crédito de mais de R$ 10 bilhões do BNDES, Finep e Banco da Amazônia (BASA).