Política Eleições 2014

Economistas ligados ao PT admitem problemas na política econômica de Dilma

Diretor do Ipea no governo Lula disse que baixo crescimento não pode ser atribuído apenas à crise internacional

João Sicsú: baixo crescimento brasileiro não pode ser atribuído apenas à crise internacional
Foto: Givaldo Barbosa/04-03-2009 / Agência O Globo
João Sicsú: baixo crescimento brasileiro não pode ser atribuído apenas à crise internacional Foto: Givaldo Barbosa/04-03-2009 / Agência O Globo

RIO — A autocrítica em relação aos resultados da política econômica cobrada da presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, por seus adversários foi feita na noite desta segunda-feira por economistas ligados ao PT num evento da Fundação Perseu Abramo, ligada ao partido, no Rio. O economista João Sicsú, professor da UFRJ que foi diretor do Ipea no governo Lula, afirmou que o baixo crescimento da economia não pode ser atribuído apenas à crise internacional desencadeada em 2008. Contrariando o discurso de Dilma, Sicsú afirmou que aspectos internos, da política econômica do governo, limitaram o crescimento.

— O Brasil poderia ter crescido mais do que nos últimos quatro anos — afirmou o economista. — Não são apenas fatores externos, existem fatores internos que também contribuíram decisivamente (para crescimento menor), sobretudo no início de 2011 — completou, apontando como erros elevação de taxas de juros e redução de gastos públicos pelo governo em momentos que considerou inadequados.

A declaração foi feita durante o lançamento do Atlas da Exclusão Social no Brasil, publicação da Fundação Perseu Abramo já apresentada em São Paulo. O evento foi realizado no Teatro Oi Casa Grande, no Leblon, com participação do ex-senador Saturnino Braga. O presidente da fundação, Marcio Pochmann, apresentou dados do trabalho que aponta significativa redução do chamado índice de exclusão social no país, incluindo sua distribuição regional, na última década. O indicador combina várias dimensões sociais como pobreza, emprego, escolaridade e violência.

Ex-presidente do Ipea, Pochmann diagnosticou que há um descompasso entre a sensação pessoal de bem-estar dos brasileiros e a percepção que se tem da situação geral do pais. Ele atribuiu isso à "herança curto-prazista do neoliberalismo" e constatou que a falta de metas e métricas claras em relação aos resultados das políticas sociais dificultam uma visão mais ampla dos avanços conquistados nos últimos doze anos e o que será colhido no longo prazo.

— Isso faz com que não tenhamos uma avaliação construtiva de especialistas sobre políticas sociais.

Pochmann definiu a questão da exclusão não apenas como de renda, mas também de acesso a serviços como saúde e educação. E concordou com as observações de Sicsú sobre os sinais de esgotamento de um modelo de redução de desigualdades baseado na valorização do salário mínimo e na ampliação do crédito para estimular o consumo.

— Estamos num certo limite desse modelo. No consumo há ganhos sociais, mas tem limite. Depende de crescimento econômico — disse Sicsú, que fez um papel de comentarista após a apresentação de Pochmann para a plateia de pouco mais de 100 pessoas.

Um dos principais colaboradores do candidato do PT ao governo estadual Lindbergh Farias, Sicsú chegou a alertar a plateia e os cerca de 700 internautas que acompanhavam a transmissão pelo site da fundação que todos ali sabiam em quem ele vota antes de apontar problemas na política econômica de Dilma. Ele previu maior desafio num eventual segundo governo da presidente para atacar o problema do acesso e da qualidade de serviços como saúde, educação, saneamento e transporte, decisivos para combater a exclusão social.

Professor de economia da Unicamp, Pochmann disse ter a mesma opinião e acrescentou que só uma reforma política poderia permitir ao governo fazer “reformas mais dramáticas”, que segundo ele e Sicsú poderiam enfrentar interesses empresariais resistentes a políticas sociais estruturais, como a de transporte público ou de qualificação da educação com mais investimento público.

— Temos que discutir esses temas que foram empurrados com a barriga. Temos que fazer essa discussão pela esquerda porque a direita já tem sua receita -- disse Pochmann. -- Não adianta só dizer que é contra isso ou aquilo. Tem que ter proposta.

Pochmann disse ainda que o Brasil vive a “esquizofrenia” de ser “um país com mais de 30 partidos onde faltam ideias” para políticas sociais de impacto.