Economia

No final do pregão, Bolsa perde os 80 mil pontos, mas renova recorde

Ibovespa subiu 0,10%, aos 79.831 pontos, maior patamar já registrado no fechamento; dólar subiu a R$ 3,22
  Foto: Dimas Ardian / Bloomberg
Foto: Dimas Ardian / Bloomberg

RIO e SÃO PAULO - O Ibovespa atingiu nesta terça-feira pela primeira vez em sua história o patamar de 80 mil pontos. O principal índice de ações local chegou aos 80.246 na máxima do pregão. No entanto, no final dos negócios, perdeu força e fechou em leve alta de 0,10%, aos 79.831 pontos - novo recorde de fechamento.

O enfraquecimento do índice está atrelado ao movimento dos mercados americanos, que passaram para o terreno negativo. O Dow Jones chegou a atingir nessa terça-feira o patamar recorde de 26 mil pontos. No entanto, foi pressionado pela preocupação de que o governo americano não consiga aprovar o Orçamento até sexta-feira, o que acionaria o "shutdown", ou seja, congelamento nos pagamentos do governo, o que levaria a paralisação de serviços.  O Dow Jones está praticamente estável, com pequena variação positiva de 0,03%, aos 25.810 pontos. O S&P 500 cai 0,30%.

Levantamento feito pela Economática mostra que, com o Ibovespa neste patamar, o valor das empresas negociadas na Bolsa atingiu pela primeira vez R$ 3,2 bilhões, o que nominalmente é o maior valor já registrado. Em dólar, chegou a US$ 1 trilhão, mas nessa comparação esse patamar já tinha sido atingido em outubro de 2014.

No ano, o índice acumula alta de 4,5% no ano, depois de ter fechado 2017 com valorização de cerca de 27%

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— Estamos importando fatores positivos para o mercado acionário brasileiro. Os juros lá fora estão historicamente em patamares muito baixos, o que gera apetite nos tomadores de risco globais. Além disso, temos pela primeira vez na história de juro baixa (a Selic está em 7%), o que também é um impulso para quem quer melhor retorno tomando um pouco mais de risco — analisa Maurício Pedrosa, sócio-diretor da Áfira Investimentos.

Neste ano, o mercado local já acumula um saldo positivo de recursos estrangeiros de R$ 3,6 bilhões, segundo dados da BM&FBovespa, até o dia 12 de janeiro. É o 15º pregão consecutivo de entrada líquida de recursos estrangeiros no mercado de ações brasileiro.

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O mercado também aposta na condenação do ex-presidente Luiz inácio Lula da Silva no julgamento sobre o tríplex do Guarujá, marcado para o próximo dia 24 de janeiro. A dúvida é se o placar será 3X0 ou 2X1. Com isso, ficaria afastado o risco de a eleição ter um candidato com perfil anti-reformas, na avaliação de analistas.

— Definida esta questão, a eleição só começará a fazer preço nos ativos a partir do segundo semestre. Candidatos com propostas mais populistas tendem a trazer mais volatilidade. Além disso, temos a questão fiscal em aberto. É difícil que o governo consiga aprovar a reforma da Previdência este ano por conta do calendário apertado mas, se a eleição tiver um nome pró-reformas, com disposição para atacar os problemas fiscais em 2019, privatizar estatais, avançar em reformas macro e microeconômicas, o rali da Bolsa pode se prolongar com o Ibovespa chegando aos 100 mil pontos — avalia Pedrosa.

Para o economista-chefe do homebroker Modalmais, Alvaro Bandeira, não se trata de uma bolha especulativa de ações. Segundo ele, há espaço para crescimento da economia global por alguns anos e a economia brasileira certamente vai crescer mais este ano do que em 2017. Além disso, se houver uma conjunção de fatores positivos que indiquem que o ajuste fiscal voltou a andar, haverá espaço para que o Ibovespa alcance o patamar dos 90 mil pontos.

— A derrota do presidente Lula por 3X0 no julgamento do dia 24; se sair a reforma da Previdência este ano; se o governo conseguir a reoneração da folha de pagamento das empresas e derrubar o aumento dos servidores este ano haverá um sentimento de que os ajustes na economia voltaram a andar, o que pode impulsionar ainda mais o Ibovespa — diz Bandeira.

Bandeira lembra que empresas como Petrobras, Vale e Ambev estão ajustadas e com juros baixos e tendem a lucrar mais este ano. Algumas, inclusive devem voltar a distribuir dividendos, depois de três anos de crise.

— Assim, o investidor que está olhando o movimento de alta da Bolsa e ainda pensa em entrar deve primeiro avaliar a parcela de risco que quer correr e depois fazer uma seleção criteriosa do papéis que vai investir. Deve ser muito seletivo e evitar ações que subiram demais ou aquelas que não se mexeram e nem devem se mexer. É preciso estar consciente quem algumas voltarão a pagar dividendos este ano — diz o economista.

Entre as ações mais negociadas, as ordinárias (ON, com direito a voto) da Petrobras subiram 1,78% – a R$ 18,79. Já as preferenciais (PN, sem direito a voto) subiram 1,72%, a R$ 17,65. Essa alta ocorreu apesar da reversão de tendência no mercado internacional de petróleo. O barril de petróleo tipo Brent caía 1,47%, a US$ 69,23 o barril, próximo ao horário de encerramento dos negócios no Brasil.

Em mais um dia de queda do minério de ferro – os contratos de maio recuam 0,37% –, a Vale também caiu, exercendo a maior pressão negativa sobre o índice. As ações da mineradora tiveram queda de 2,69% a R$ 42,30.

Entre os bancos, o Itaú foi o que mais subiu, avançando 0,92%. Em seguida, o Banco do Brasil teve valorização 0,87%; e o Bradesco teve alta de 0,67%.

Para o analista Pedro Galdi, da correrota Magliano, os indicadores econômicos globais continuam positivos: o PIB mundial foi revisto para cima, e não tem nada que sinalize que os bancos centrais irão alterar seus juros no curto prazo.

— Com isso, nós somos puxados pelo otimismo dos investidores estrangeiros. Além disso, as bolsas internacionais também batem recordes atrás de recordes. Enquanto estiver esta festa lá fora, o mercado brasileiro vai acompanhar essa onda.

DÓLAR FECHA EM ALTA

O dólar comercial se valorizou frente ao real, apesar de perder terreno frente a outras moedas de países emergentes. A moeda americana fechou com alta de 0,59% cotada a R$ 3,229 na venda, a segunda alta consecutiva. Na máxima do dia, a moeda subiu a R$ 3,238 e na mínima recuou a R$ 3,213.

No exterior, o dollar spot, índice que mede o desempenho da divisa americana frente a uma cesta de dez moedas, recua 0,56%.

— Acredito que com a proximidade do julgamento do ex-presidente Lula muita gente comece a desmontar posições de venda e embolsar o ganho. O real vinha surfando numa onda de valorização de moedas emergentes, o que maquiou a situação fiscal ruim do país, além do risco político — analisa Cleber Alessie, operador de câmbio da corretora H. Commcor.